A identidade cristã nos dias atuais

sexta-feira, 15 de maio de 2020

ÍNDICE

Por que foi criado este “blog”?
1. O que é ser cristão?
2. Bem-aventuranças
3. Humildade em espírito
4. Choro
5. Mansidão
6. Fome e sede de justiça
7.  Misericórdia
8.  Limpeza de coração
9.  Pacificação
10. Perseguição por causa da justiça
11. Regozijo na tribulação
12. Sal da terra
13. Luz do mundo
14. Sal e luz
15. A letra e o espírito
16. Cristo e o Antigo Testamento
17. Escribas, fariseus e o cristão
18. Como lidar com a ira
19. O adultério
20. O divórcio
21. Juramentos
22. Retaliação
23. Amor ao inimigo
24. O que você faz de mais?
25. Obras de justiça
26. Oração
27. O “Pai Nosso” como adoração
28. O “Pai Nosso” como petição
29. O jejum
30. Tesouros da terra e dos céus
31. Deus ou as riquezas
32. Duplo senhorio?
33. Ansiedade
34. Aves e flores
35. Causa e cura da preocupação
36. Pequena fé e como ampliá-la
37. Julgamentos
38. Obstáculos à boa visão
39. Juízo espiritual e discriminação
40. Buscando e encontrando
41. A regra áurea
42. Estreita a porta, apertado o caminho
43. Frutos revelando falsas profecias
44. Falsa paz
45. Pseudocristianismo
46. Dois homens, duas casas
47. Rocha ou areia?
48. Subindo o monte do Sermão
49. Avaliação: provas e testes da fé
50.Conclusão 
Palavra Final


O primeiro texto deste blog foi divulgado no dia 14/06/2019; não faz um ano, portanto, até que ele fosse concluído na data de hoje, 14/05/2020. Em menos de um ano, quanta coisa mudou! Embora as circunstâncias tenham mudado (e como!), o evangelho de Cristo não muda”, foi uma frase por nós escrita no primeiro texto desta série de publicações. Será que é preciso dizer mais? Em menos de um ano, estamos convivendo hoje com a pandemia do “Corona Vírus 19”, algo que mudou e paralisou o mundo todo, com ameaças de infecção e morte de muita gente, obrigando o ser humano a refletir sobre a própria vida e a efemeridade da existência humana. Deus não precisou de muita coisa para fazer a humanidade paralisar suas atividades e notar que algo não vai bem neste mundo por Ele criado: bastou um micro-organismo, invisível a olho nu.

Deus está alertando toda a população mundial (inclusive nós, seus filhos) para a necessidade de um autoexame como indivíduos e de um macroexame como sociedade. A Igreja paralisou seus cultos presenciais e passou a fazê-los virtualmente, com a utilização dos avanços tecnológicos ao alcance de cada um. Aleluia pela participação dos irmãos neste sentido. No entanto, nós, cristãos do século XXI, estamos sendo chamados por Deus para uma avaliação do nosso Cristianismo, da nossa identidade cristã: como estamos vivendo hoje o nosso relacionamento com Deus, com o próximo e com as pessoas do mundo de modo geral? Será que estamos seguindo os ensinamentos bíblicos? Será que as características descritas no Sermão do Monte estão sendo por nós buscadas? Já somos bem-aventurados nas qualidades indicadas por Cristo Jesus? Somos sal e luz para um mundo em putrefação e nas trevas? Amamos a nosso próximo como a nós mesmos? E os inimigos: estamos amando, fazendo o bem, abençoando e mesmo orando pelos que nos perseguem, segundo registrou Lucas? Buscamos obedecer à Lei de Deus no seu espírito, ou nos atemos apenas à dureza da letra? Finalmente, como homem prudente, estamos construindo nossa casa espiritual sobre a Rocha que é Cristo, ou sobre a areia da efemeridade das coisas mundanas?

Finalmente, gostaríamos de agradecer: primeiramente a Deus, pela oportunidade de criação deste blog e compartilhamento desta mensagem; em segundo lugar ao pastor Daniel Carmona, líder espiritual da Igreja Batista em Valinhos, no estado de São Paulo, pelo desafio do trabalho do discipulado, motivador desta obra. Gostaríamos também de agradecer ao irmão Sérgio Geraldo dos Santos, por ter pacientemente estudado os textos semanalmente conosco, visando a torná-los suficientemente claros para quem por eles for alcançado. Juntos, subimos o Monte do Sermão.

A Deus, toda a honra e toda a glória.

   Prof. Ricardo Simões Rocha   


quinta-feira, 14 de maio de 2020

50. CONCLUSÃO


“Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da lei” (Mateus 7.28-29).

Há vinte séculos, os ensinos de Cristo no Sermão do Monte provocaram os efeitos registrados no texto acima: multidões maravilhadas com a autoridade com que Cristo se expressava. A partir de agora, o foco do texto deixa de ser o sermão e é transferido para o Pregador. Parece que o auditório original do Sermão do Monte reagiu melhor à sua pregação do que os leitores do mesmo texto nos dias hoje, dois mil anos após ter sido ela proferida.
A autoridade do Sermão do Monte está na pessoa do Pregador, Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus encarnado. A perfeita estrutura do sermão, a beleza da expressão, os impressionantes quadros ilustrativos são admiráveis, mas acima de tudo sobressai a autoridade de quem pregou. Jesus ensinava as multidões com conhecimento e autoridade, e não como escribas, fariseus e doutores da lei. Autoridade, confiança e segurança naquilo que dizia faziam de Jesus um mestre admirável que surpreendeu seu auditório até o fim. Ele apresentou-se diante de seus ouvintes como o único verdadeiro intérprete da lei. Ao incluir a sua pessoa no texto do ensino, Jesus não fez no Sermão apenas referências indiretas, mas também alusões diretas, quando disse, por exemplo: "Vocês são bem aventurados quando, por minha causa, forem injuriados, perseguidos..." Pelas Escrituras, sabemos que aquele que estava sentado no monte ensinando o povo é o mesmo que no fim haverá de assentar-se no trono da sua glória, quando todas as nações tiverem de comparecer diante dele para ouvir o seu julgamento.
As multidões que ouviram ao Senhor Jesus ficaram maravilhadas com sua doutrina. O texto não esclarece nada além disso; não sabemos se muitos o seguiram ou o que aconteceu depois disso. Existem hoje pessoas que nem ao menos ficam admiradas diante do Sermão do Monte. Cristo não veio simplesmente para nos transmitir uma lei mais recente, nem estava dizendo aos homens como deveriam viver. O Sermão do Monte é muito mais difícil de ser posto em prática que a própria legislação mosaica, não tendo existido até hoje qualquer ser humano capaz de a observar por inteiro. No sermão, Jesus condenou qualquer confiança em nossos esforços próprios para a obtenção da salvação; ele ensinou que precisamos de algo novo: renascimento, natureza e vida.
O objetivo de Cristo neste Sermão é o de levar o povo evangélico a perceber sua natureza ou caráter como um povo e mostrar-lhes como aplicar esses conhecimentos na vida diária. O Reino que Cristo veio estabelecer é totalmente diferente de qualquer outro que o mundo já tinha visto antes, um Reino de luz, dos céus, o Reino de Deus. O sermão começa com as bem-aventuranças, as características que o cidadão do Reino de Deus deve possuir. Ao nos apropriarmos das bem-aventuranças, tornamo-nos sal e luz para um mundo que se putrefaz e jaz em trevas. Os ouvintes haviam ouvido o que Moisés havia recebido como texto legal da própria trindade divina, deturpado pelos doutores da lei; Cristo veio para ensinar o verdadeiro espírito que havia além da dura letra da lei. A falsa profecia, a árvore dos maus frutos e a construção da casa sobre a areia servem de alerta final e de testes da fé.
À medida que subimos o Monte do Sermão, vamos podendo descortinar cenários mais amplos na caminhada da vida cristã. Começando com as bem-aventuranças como primeiro degrau, até a opção entre rocha ou areia, em um lugar mais alto no monte, o cristão tem a oportunidade de conhecer melhor os desafios da sua caminhada rumo à santificação. Não é fácil viver neste mundo mesmo com a presença de Deus na vida. “Diz o tolo em seu coração: ‘Deus não existe!’”, afirma o salmista, denotando que a vida sem ele e mesmo a negação da sua existência é loucura. O ser humano precisa preencher o seu vazio existencial e o único ser que pode ocupar todo o espaço de forma satisfatória é Deus. Precisamos conhecê-lo, amá-lo, temê-lo e viver seus ensinos, tão bem expostos no Sermão do Monte. 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

49. AVALIAÇÃO: PROVAS E TESTES DA FÉ


“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7.21).

Os dois versos abaixo são importantes e precisam ser lembrados; Jesus disse e João anotou: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. Amar no contexto cristão não é mero sentimentalismo, mas aprendizagem e prática de princípios.
O homem prudente que construiu sobre a rocha é aquele que, tendo ouvido os ensinamentos de Cristo, cumpre-os. Larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição é um conceito sempre presente nos ensinamentos de Cristo. Um dia, quando as duas casas forem testadas, uma delas haverá de cair, sendo grande a sua ruína. A religião falsa, além de errada, é inútil, não conduz a nada, podendo dar satisfação temporária, mas não resiste aos testes reais. O caminho espaçoso, a árvore má e a casa sobre a areia não resistem aos testes de qualidade. Tolo é o homem que vive e confia em meras coisas incapazes de ajudá-lo no momento de aflição. O ensinamento não só se aplica à vida neste mundo, mas também extrapola para o que acontecerá após a morte e o além-túmulo. 
A chuva cai individualmente sobre justos e injustos; ela pode representar na parábola enfermidades, perdas ou desapontamentos, algo que sai errado em nossas vidas. A enchente pode representar o mundo e sua influência, o mundanismo que, em sua sutileza, penetra em tudo e por toda a parte. Pode representar também perseguições. O vento talvez apresente os ataques de Satanás que, em sua característica multiforme, ataca direta ou indiretamente, citando as Escrituras ou com pensamentos imundos, lançando dúvidas e negações contra nós. Grandes líderes cristãos do passado sofreram com isso e no presente o processo continua. Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do mal nas regiões celestes. Como acontecimento final, além de ventos, chuvas e inundações, enfrentaremos a morte. Nada existe que sonde tão profundamente um ser humano em relação aos alicerces, quanto o fato da morte.
“Considere o íntegro, observe o justo; há futuro para o homem de paz”, afirmou o salmista. O homem sensato, que construiu sobre a rocha, concorda com Paulo quando o apóstolo afirma que “os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles”. O pseudo crente descobre que, quando precisa de ajuda, o que ele considerava sua fé de nada lhe valerá. Dedicar-se à tarefa de viver o Sermão do Monte é o segredo do homem perfeito, justo, bom e crente em Jesus. Depois da morte, temos que considerar o dia do julgamento final. Todos os seres humanos haverão de ser julgados pelo Senhor. Tudo será levantado e alegações de grandes coisas teoricamente feitas em nome de Deus não serão levadas em conta. Não haverá segunda oportunidade ou apelação da sentença. 
Por isso, viver aqui na terra desfrutando de paz, certeza e segurança depende da edificação sobre a rocha. Talvez não exista nada mais perigoso para uma correta vida cristã do que uma vida devocional mecânica. A leitura da Bíblia deve ser feita porque Deus fala com você através dela, mas, após a mera leitura, a meditação e a colocação em prática da mensagem precisam ser feitas. Teste a si mesmo por meio do Sermão do Monte. Não dependa de suas próprias atividades, achando que, por ser ativo no trabalho cristão, deve estar tudo certo. Teremos que nos defrontar com o Senhor face a face, e essa realidade deve ocupar o centro da nossa vida.

48. SUBINDO O MONTE DO SERMÃO


Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha... e ela caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus 7.25 e 27b).

Estamos alcançando o final dos ensinos de Cristo sobre a vida cristã. Diante do monte do Sermão, podemos subi-lo passo a passo, enfrentando as dificuldades da caminhada, ou ficarmos embaixo, apenas admirando a paisagem. Nosso desafio tem sido enfrentarmos a subida.
Na parábola das duas casas, o tolo não acredita que deva consultar arquiteto ou cuidar de planos e especificações para a construção. No paralelo com o pseudocristão, este não se dá ao trabalho de estudar a Palavra do Senhor e conhecer a sua mensagem completa. Ao contrário, escolhe o que mais aprecia e concentra-se na doutrina do amor e do perdão de Deus, por exemplo, deixando de lado a sua justiça. Santidade é uma doutrina desagradável, preferindo ele mensagens que denotem sentimento de consolo, de felicidade, de alegria e de paz interior. Se não estamos lendo a Palavra de Deus de maneira a sermos sondados e confrontados por ela, não a estamos usando corretamente. A Bíblia traz uma tremenda exposição dos efeitos do pecado, para nos ensinar que em nosso interior existe algo que pode nos arrastar para baixo e que, por natureza, somos falsos, imundos e vis. Isto não agrada o pseudocristão. Nascemos em iniquidade e em pecado fomos concebidos, conforme nos diz o salmista. Sem o novo nascimento e uma nova natureza, estamos fora do Reino de Deus, pois todos os seres humanos estão no caminho largo e precisam fazer a opção pela porta estreita e pelo caminho apertado para serem salvos.
Tiago afirmou em sua epístola que a fé sem obras é morta. Ela se manifesta na vida da pessoa, de maneira geral, por meio daquilo que ela diz e faz; ela transparece por meio da personalidade inteira do indivíduo. Como posso saber se sou um homem prudente ou insensato? O Sermão do Monte é um bom teste: se você fica ressentido diante dele, não querendo ouvi-lo quando pregado, você deve ser insensato. O falso crente fica impaciente diante do Sermão do Monte, porque não quer ser examinado, sondado, sentindo-se intranquilo com sua mensagem. Nossas respostas instintivas e reações imediatas demonstram o que realmente somos, levando-nos a pensar uma segunda vez acerca de alguma atitude e a nos tornar mais resguardados e cuidadosos com nossas respostas. Por isso, nossas reações imediatas diante do Sermão do Monte demonstram se somos ou não cristãos autênticos. Além disso, crentes nominais são levados a esquecer rapidamente tudo o que ouviram, chegando alguns mesmo a elogiar alguns preceitos do Sermão do Monte sem jamais colocá-los em prática.
O autêntico cristão não faz restrição à benéfica sondagem que o Sermão do Monte faz em sua vida, embora isso possa vir a lhe causar constrangimento e sensação desconfortável. Ele se sente cada vez menor, à medida que sobe o Monte do Sermão, precisando sacrificar a cada dia o seu próprio “eu”.  Ele se humilha diante da Palavra de Deus e concorda com o que a Bíblia diz sobre sua vida. Ele admite e confessa o seu total fracasso e a sua completa indignidade. Ele aceita plenamente os ensinos e a interpretação de Cristo acerca da lei, focalizando-se no seu espírito e não na sua letra. É, enfim, o homem sensato que constrói sua casa sobre a rocha. Jamais conseguiremos chegar à santidade completa neste mundo, mas o nosso desejo e esforço devem ter esse objetivo.
“A vereda do justo é como a luz da alvorada, que brilha cada vez mais até a plena claridade do dia”, conforme escreveu Salomão em um de seus provérbios. A luz do amanhecer não aparece de repente, mas pouco a pouco, brilhando cada vez mais. Pleno meio dia, sol a pino, somente na eternidade com Deus. Devemos, no entanto, fazer a luz do evangelho brilhar cada vez mais, para que as pessoas vejam nossas boas obras, resultado da nossa fé, e glorifiquem a Deus, nosso Pai, que está nos céus.  

47. ROCHA OU AREIA?


“Eis que ponho em Sião uma pedra, uma pedra já experimentada, uma preciosa pedra angular para alicerce seguro; aquele que confia, jamais será abalado”
(Isaias 28.16).

Todas as áreas da atividade humana são mutáveis e evoluem com o tempo; assim também é a construção. Na arquitetura antiga, quando as construções eram feitas de pedras, uma pedra muito forte, cuidadosamente selecionada na pedreira e talhada no tamanho e formato corretos, era utilizada como “pedra angular de esquina”. Esta pedra receberia o maior peso do edifício e iria sustentá-lo, direcionando ângulos, paredes e muros. No Sermão do Monte, há um contraste entre a atitude do homem prudente e a do homem insensato com relação aos ensinamentos de Jesus, sobre a absoluta necessidade de colocar em prática os ensinamentos da Palavra de Deus. O contraste é entre o “ouvir” e o “fazer”. Apenas professar a fé sem mudar o modo de viver não é ser cristão. Nas palavras de Paulo, “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”.
Jesus descreve a pessoa que ouve as suas palavras e as põe em prática como um homem sábio ou prudente. O homem prudente tem um comportamento equilibrado, sabe o que quer e o que está fazendo; segue sua vida com equilíbrio racional. Ele não age induzido por meras emoções, mas prefere as coisas consistentes; é moderado, cauteloso e sensato. Ele é sábio porque constrói sua vida sobre fundamento firme. Mesmo enfrentando tempestades, ele não perde a confiança na rocha onde construiu sua casa. É preciso aprender a “ouvir a palavra de Deus e a praticá-la”, para construirmos uma vida estabilizada sobre a rocha que é Jesus.
A pessoa que ouve as suas palavras e não as pratica é um tolo, um insensato, um homem sem bom senso. Ele está sempre com pressa e vive das coisas imediatas, por não saber esperar. Na parábola, ele não estava preocupado realmente em construir sua casa com segurança, deixando-se levar pelas aparências, sempre à procura de atalhos e resultados imediatos. Do ponto de vista espiritual, esse homem não firmava a sua fé em algo consistente, situação muito encontrada em nossos dias: uma fé imediata, sujeita a grandes decepções e frustrações. Quem quer construir uma casa para si não pode fazê-lo de qualquer maneira. O tolo despreza o ensino e a instrução.
Enquanto o primeiro construtor cavou bem fundo e pôs o alicerce sobre a rocha, o segundo construiu a sua casa na areia, sem o alicerce firme. O construtor insensato agiu de maneira imprudente, não se preocupando em pensar o que poderia acontecer com a casa quando as chuvas chegassem. Ele foi negligente em não pensar no futuro, fixando-se só no presente. Ignorou o risco das consequências desastrosas e do grande prejuízo que as chuvas poderiam lhe causar. É muito mais fácil levar-se uma vida sem preocupação com oração, leitura e estudo das Escrituras do que ter uma vida espiritual com essas práticas. Existem muitos cristãos que pensam tão somente no presente, em aproveitar a vida e os prazeres do pecado. Há duas perspectivas: uma de curto e outra de longo alcance em cada decisão que tomamos na vida. A casa firme resistiu às fortes chuvas; a segunda casa sofreu com as chuvas, pois os rios transbordaram, e o vento soprou contra ela, que caiu e foi totalmente destruída. Os cristãos verdadeiros e os falsos frequentemente se parecem: joio e trigo serão separados por Deus somente na eternidade. Os dois edificadores espiritualmente ouvem as palavras ditas por Jesus e são membros da comunidade cristã visível; ambos leem a Bíblia, vão à igreja, ouvem os sermões e compram literatura cristã. O motivo que os distancia é que os alicerces da vida deles estão ocultos aos nossos olhos. Apenas uma tempestade revelará a verdade. 
Na vida cristã, não faz nenhuma diferença quantos sermões alguém ouviu, quantas vezes leu a Bíblia, embora tudo isso seja importante. A diferença estará em quanto daquilo que ouvimos, lemos e aprendemos de Jesus estamos colocando em prática quando a tempestade chegar.

46. DOIS HOMENS, DUAS CASAS


“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia” 
(Mateus 7.24 e 26).

Após duas ilustrações, uma sobre os falsos profetas e a outra sobre a falsa paz ao chamar Deus de "Senhor", chegamos a uma terceira situação; a comparação entre dois homens e duas casas. A advertência aqui implícita é o perigo de buscarmos e desejamos somente os benefícios e as bênçãos da salvação, entrando na aparente posse delas. Destaca-se a diferença entre a verdadeira e a falsa profissão de fé cristã, entre o cristão e o crente de aparência, em suma, entre os filhos de Deus e os que somente pensam que o são.
Comecemos pela semelhança dos dois homens: tinham o mesmo desejo de construir suas casas, na mesma localidade, sujeitas aos mesmos testes e condições, vizinhas uma da outra. Planejavam casas aparentemente idênticas, cuja diferença estava apenas abaixo da superfície, no alicerce. Ambas as casas foram submetidas ao mesmo tipo de prova, sendo em tudo semelhantes, mas o Salvador mostrou uma diferença fundamental e vital. A aplicação espiritual da parábola é entre o autêntico crente em Cristo e o pseudo-crente.
Vamos agora para as diferenças entre o sábio e o tolo. O sábio cavou fundo, lançando os alicerces de sua casa, mas o tolo nem se preocupou em lançar um alicerce. Os tolos estão sempre com pressa, são impacientes, vivem querendo atalhos e resultados imediatos; não têm tempo para ouvir instruções ou regras para a construção da casa. Não se preocupam com cuidados ou detalhes, seguindo os próprios impulsos e ideias. Nunca pesam as consequências nem consideram possibilidades e eventualidades. Existem princípios de engenharia que devem ser observados para uma construção satisfatória e duradoura, e o sábio quer conhecer qual é a maneira certa de se fazerem as coisas. Ele não se deixa levar pela pressa, pela precipitação, por sentimentos ou emoções, pois espiritualmente sabe que os decretos, propósitos e planos de Deus são eternos e imutáveis. O sábio pensa antes de começar a agir.
O momento certo de se fazerem consultas e observações é no começo da construção, quando o construtor lança os alicerces, os quais, se mal projetados, resultarão em casa mal construída. Espiritualmente falando, "ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo", conforme alertou Paulo. A diferença entre o cristão e o pseudo crente já foi bastante realçada pelos puritanos; Whitefield, Wesley e outros examinavam os convertidos, antes de se tornarem membros de suas classes de estudo bíblico. Cristãos e pseudo crentes têm particularidades em comum: geralmente são encontrados na mesma esfera de atividades como membros da igreja, ouvem o mesmo evangelho, parecem gostar disso, têm perspectivas semelhantes e são tão parecidos na superfície como os dois construtores e suas casas.
Espiritualmente, parecem ser levados pelos mesmos desejos gerais de perdão, paz, consolação, orientação e de encontrar uma maneira para sair das dificuldades e das tribulações; por isso, inicialmente foram levados a participar de uma reunião evangélica, diante do grande desassossego da vida. Indo mais além, há até aquelas pessoas que querem possuir poder espiritual, à semelhança de Simão, o mago, embora estejam cegas para a verdade divina. Finalmente, também eles desejam chegar ao paraíso, acreditando na existência do céu e do inferno. É possível desenvolver um falso senso de perdão e possuir uma falsa paz no coração. Um fato que chama a atenção é quando uma pessoa não manifesta preocupação com seus pecados durante muito tempo. A Bíblia e a história estão cheias de exemplos que ilustram isso; não havia qualquer diferença evidente entre Judas Iscariotes e os outros doze, até que ele fosse apontado como o "filho da perdição".
Entre o cristão e o pseudo crente há uma questão essencial, que não se manifesta na superfície: qual é o alicerce da sua fé? Precisamos nos testar, verificando se, na nossa vida cristã, julgando sabermos o que queremos e o melhor a fazer, a precipitação, a falta de atenção a advertência, planos ou especificações, o arrojo impensado para a realização da obra não são indícios de auto ilusão espiritual. Você anda esperando apenas bênçãos e benefícios da vida e da salvação cristã, ou tem desejos mais profundos sobre isso? Anda atrás de resultados carnais e superficiais, ou busca conhecer a Deus e tornar-se mais e mais parecido com o Senhor Jesus Cristo? É de fato cristão convicto ou pseudo crente?

45. PSEUDO-CRISTIANISMO


“Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.22-23)

Hipocrisia inconsciente é uma falsa devoção criada no inconsciente do ser humano, sem interferência, portanto, da sua mente. Corresponde ao fingimento de uma virtude ou de um sentimento louvável que não se tem. Auto ilusão é uma falsa aparência, um engano dos sentidos ou da mente, que faz com que se tome uma coisa por outra, que se interprete erradamente um fato ou sensação. Hipocrisia inconsciente e auto-ilusão são dois temas que nos levam a um falso cristianismo. O Dia do Julgamento será realmente de muitas surpresas: pessoas que se mostravam ortodoxas em suas crenças, fazendo obras admiráveis, mas que foram condenadas por Cristo, faziam parte do seu auditório há dois mil anos e continuam fazendo parte dele hoje.
A hipocrisia consciente é muito fácil de se encontrar na igreja atual; a inconsciente, no entanto, quando a pessoa não só engana a outros, mas chega a enganar-se a si mesma numa auto ilusão, é mais difícil. É possível que um homem chame a Deus de “Senhor”, profira a mensagem certa e, no entanto, viva um tipo de vida que indique claramente que nem ao menos é cristão. A Bíblia nos adverte para examinarmos a nós mesmos, provando para verificar se estamos na fé ou se somos reprovados. João afirma que aquele que diz que conhece a Jesus e não guarda os seus mandamentos é mentiroso. É possível a um homem pregar o evangelho de maneira ortodoxa, mas, por motivos pessoais, visar à sua própria glória e autossatisfação. Há os que vivem a vida cristã com base em um ativismo que, advindo a adversidade ou a enfermidade, acabam por descobrir que sua vida se tornou vazia e que todos os recursos desapareceram.
Convém perguntar a nós mesmos: O que está mantendo a minha vida? Um dos piores perigos que nos ameaçam a alma consiste em meramente vivermos com base em nossos próprios esforços. O perigo é aceitarmos aquilo que a Bíblia ensina na teoria, mas não colocarmos na prática. Empregamos conceitos humanos em vez de espirituais, argumentando que as Escrituras foram escritas há muito tempo e que muita coisa mudou.
Mudanças do mundo moderno têm levado a igreja à relativização, buscando-se uma contextualização da mensagem para justificar tal conduta. O método de pregação do evangelho é outro fator a ser considerado, pois devemos pregar a Palavra com sobriedade, gravidade, em temor e tremor, na dependência do Espírito e de poder, conforme alerta Paulo. Não devemos usar linguagem persuasiva de sabedoria humana, como muitos são tentados a fazer. Assim, por causa de supostos resultados, o claro ensinamento das Escrituras é posto de lado. Se os resultados forem bons, dizem alguns, o método por trás dele também deve ser, ou seja, "o fim justifica os meios".
Finalmente, é preciso reconhecer que a única coisa que realmente importa é o nosso relacionamento com Cristo, o juiz cuja opinião a nosso respeito é o que vale. "Nunca vos conheci":  as pessoas que ouvirem esta frase no Dia do Juízo terão feito muitas coisas mediante seu próprio poder e energia, sem a intermediação de Cristo. Aquilo que Deus quer é o que as Escrituras chamam de o nosso coração, o homem interior, a nossa submissão. Ele não quer as nossas oferendas, o nosso sacrifício, mas "a nós" mesmos. Estaremos insultando a Deus, quando dissermos fervorosamente "Senhor, Senhor", mostrando-nos ocupados e ativos, mas negando a ele lealdade e submissão autênticas, retendo o controle sobre nossas vidas e permitindo que nossas próprias opiniões e argumentos controlem o que fazemos e como o fazemos. O Salvador tem direito à totalidade de nossas vidas, sem qualquer limite, exercendo controle sobre as grandes e pequenas coisas. Precisamos cuidar para que o falso cristianismo não tenha sido assimilado por nós, quer ministros, quer leigos. Examinemos solenemente a nós mesmos, à luz destas realidades.

44. FALSA PAZ


“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7.21).

A mensagem em foco requer a nossa maior atenção por ter sido proferida pelo próprio Filho de Deus; se fossem ditas por outra pessoa, essas palavras poderiam ser criticadas ou condenadas. Elas são extremamente solenes e serão verdadeiramente consideradas quando todos comparecerem diante de Deus no dia do julgamento final.
O vocativo “Senhor” é absolutamente correto, mas devemos estar cientes do que estamos dizendo ao chamarmos a Deus de Senhor, pois aqueles que assim o fazem entrarão no Reino de Deus, mas nem todos. Houve demônios que chamaram a Jesus de Senhor crendo e tremendo. Há pessoas que aceitam intelectualmente os ensinos da Palavra de Deus, mas não os praticam realmente. É possível aceitar um ensino bíblico como filosofia, uma verdade abstrata; no entanto, pode-se chegar a esse ponto e não ser convertido. É uma falsa paz, que nos leva a confiar mais na própria fé do que em Cristo. Pessoas criadas em lar e atmosfera cristãos, tendo ouvido sempre essas verdades e aceitando-as mentalmente, muitas vezes não são crentes no Senhor Jesus. Além disso, a repetição do vocativo "Senhor, Senhor" denota não apenas cristãos intelectuais, mas fortemente sentimentais. Uma das coisas mais difíceis é saber distinguir entre o fervor verdadeiramente espiritual e o meramente carnal. Há pessoas que hoje são classificadas como "carismáticas", tanto pregadores quanto leigos. O homem mais voltado para o lado emocional tende a chorar quando ora, mas isso não indica que seja mais espiritual do que as demais pessoas. Esse entusiasmo não reflete necessariamente maior espiritualidade, mas pode ser carnalidade.
Há uma lista apresentada por Jesus de coisas que os homens realizam em seu nome e ela começa por profecia, que significa emissão de uma mensagem espiritual. É possível um homem pregar doutrina correta, em nome de Cristo, e estar excluído do Reino de Deus: é o joio pregando ao trigo na igreja. No Antigo Testamento, Balaão e Saul foram exemplos disso. Paulo lutava para que, pregando a outros, não fosse ele mesmo desqualificado. A lista continua falando em exorcismo, em expelir demônios em nome de Cristo. Isto pode ter acontecido com o próprio Judas Iscariotes, pois ele participava do grupo dos setenta discípulos que regressaram proclamando terem feito tal coisa. O Novo Testamento fala em judeus exorcistas, mas, nem por isso, faziam parte do Reino de Deus. A lista termina mencionando muitos milagres, obras poderosas, prodígios, coisas admiráveis e incríveis. No Egito, os mágicos foram capazes disso, e o próprio Jesus alertou que, nos últimos tempos, surgiriam falsos cristos e profetas operando sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. O ponto culminante disso será o aparecimento do Anticristo.
Um homem pode ser capaz de alegar que obteve grandes resultados, como curas e coisas similares, e isso não significar nada. Existem forças que estão sendo pesquisadas em nossos dias, como eletricidade, telepatia, transferência de pensamento, percepção extra-sensorial, coisas ainda não inteiramente explicáveis. Os poderes naturais do ser humano podem imitar o poder do Espírito Santo até certo ponto, e o próprio Deus pode conceder poderes aos homens segundo sua vontade. Temos que considerar ainda o poder do diabo, de persuadir pessoas de que são crentes quando na realidade não são“Alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus”, alertou Lucas.
Não devemos pesar somente as aparências externas, mas também a realidade interior, que é a única coisa que realmente conta diante de Deus. O Sermão do Monte é um verdadeiro roteiro para isso. Que Deus nos proporcione honestidade, ao enfrentarmos o julgamento do qual teremos que participar, quando toda a cena terrestre houver desaparecido e estivermos diante de Deus.

43. FRUTOS REVELANDO FALSAS PROFECIAS


“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos” 
(Mateus 7.15-16a).

Como identificar a verdadeira profecia da falsa? Os "falsos profetas” não são apenas os heréticos. Pedro alerta para a sutileza da mensagem de falsos mestres, que introduziriam heresias destruidoras, negando o Salvador que os havia resgatado. A camuflagem do lobo em pele de cordeiro lembra esse perigo.
O falso profeta é um indivíduo gentil, agradável e atencioso, de ensino aparentemente equilibrado e usando um vocabulário cristão. Na falsa profecia, não há alusão a porta estreita ou caminho apertado, estando a sutileza mais no que não se diz do que no que se declara. Não se apresenta nada de realmente ofensivo para o homem natural, uma mensagem que agrade a todos, elogiada por liberais, modernistas, evangélicos e todos os demais. O discurso é sempre vago e genérico, nunca particularizando doutrinas: santidade, retidão, justiça e ira de Deus são assuntos evitados, prevalecendo a ideia do amor divino. Ocultar a verdade é tão repreensível e condenável quanto proclamar uma total heresia. A total pecaminosidade do pecado e a completa incapacidade do ser humano de salvar-se a si mesmo nunca são lembrados. Os falsos profetas referem-se à cruz mencionando superficialmente pessoas que a circundavam, numa abordagem sentimental, mas desconhecendo inteiramente o que Paulo chamou de "escândalo da cruz”. Não se enfatiza o arrependimento, mas cria-se a ilusão de uma estrada larga que conduz ao céu: basta ao indivíduo decidir-se por Cristo e então misturar-se à multidão. A santidade tem sido reduzida a algo fácil, seduzindo as pessoas, não se incentivando um auto-exame.
“Pelos seus frutos vocês os reconhecerão”. Árvore má não significa estragada, pois, se assim o fosse, não produziria fruto nenhum. Fruto mau não indica podridão, mas qualidade deficiente, produto que não pode ser utilizado. Jesus chamava a atenção para o perigo de nos deixamos enganar pelas aparências de alguém que apenas se assemelha a cristão. Existe uma ligação indissolúvel entre a crença e a vida: tal como o homem pensa, assim ele age. Inevitavelmente, proclamamos aquilo que somos e aquilo em que acreditamos. Os puritanos chamavam de "crentes temporários" aqueles que davam aparência de regeneração e conversão durante algum tempo. O indivíduo apenas superficialmente lavado pode dar a impressão de ser verdadeiro cristão, mas sua natureza íntima inevitavelmente acabará se manifestando externamente: o cão volta ao próprio vômito e a porca ao lamaçal.
Abordando a natureza ou o caráter do bom fruto, deveríamos nos preocupar acerca do estado da própria igreja, mais do que do estado do mundo lá fora. É possível encontrarmos uma pessoa boa, ética e moral, com elevadíssimos códigos e padrões de vida pessoal, "um bom ímpio”, parecendo cristão, mas não o sendo. Já se disse que parece haver melhores crentes fora da igreja do que dentro dela, significando que podem ser encontradas pessoas com excelente moralidade no mundo. Filósofos gregos do paganismo pregaram seus princípios morais antes do nascimento de Cristo, mas tornaram-se oponentes do evangelho, considerando a pregação da cruz uma loucura. Justiça humana não passa de trapos imundos aos olhos de Deus. Somente aquilo que resulta do caráter verdadeiramente cristão, da nova natureza, é que se reveste de qualquer valor aos olhos de Deus. O cristão deve ser exemplo das bem-aventuranças, pois o indivíduo que possui em seu interior a natureza divina, necessariamente produz bons frutos, os quais estão nelas descritos. Esse teste exclui os "bons ímpios", os "falsos profetas" e os "crentes temporários". O fruto que se forma em nós e que deve ser procurado na vida do cristão consiste em amor, paz, alegria, longanimidade, gentileza, bondade, mansidão, controle próprio e fé. Manifestar esse fruto do Espírito afeta o homem integralmente, seu traje e comportamento, sendo Deus sua única preocupação, bem como seu relacionamento com ele e com sua verdade.
Deus é o juiz e nunca se deixa enganar: toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Busquemos ter certeza de possuirmos a natureza divina, de que somos participantes dela, de que a nossa árvore é boa e por isso, o fruto dela também necessariamente tem que ser bom.

42. ESTREITA A PORTA, APERTADO O CAMINHO

“Entrem pela porta estreita (...) é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mateus 7.13a-14).


Nesta divisão final do Sermão, Jesus está encerrando sua mensagem aos ouvintes e ele os alerta para que a ponham em prática na vida diária. A mais notável característica da vida para a qual Jesus nos chamou é a estreiteza, o aperto: porta estreita, caminho apertado. Por outra porta mais larga à esquerda, grande multidão de pessoas vai entrando, seguindo um caminho amplo. Havia um quadro nas igrejas mais antigas que representava esta cena.
Desde o início, a porta de entrada e o caminho que percorremos são estreitos, e isto precisa seja evidenciado no evangelismo, alertando-se o neófito para coisas que tem de deixar de lado. Mundanismo é uma das características da multidão de pessoas que entra pela porta larga. Ao se tornar cristã, uma pessoa começa a se ver como alguém solitário na multidão, pois sente-se sozinha ao começar a caminhar num sentido diametralmente oposto ao da multidão. As coisas que pertencem ao mundo e que agradam à nossa natureza não regenerada devem ser deixadas do lado de fora da porta estreita. É preciso deixar o nosso próprio "eu" de fora, e esta é a prova mais difícil; o "eu" é o homem adâmico, a natureza caída no pecado, o velho homem. É necessário crucificar o amor próprio, não vivendo mais para nós, mas deixando Cristo viver em nosso lugar.
A vida cristã é difícil, pois ela é por demais gloriosa e maravilhosa para poder ser fácil; o padrão é muito elevado e por isso são poucos os que nela permanecem. Qualquer um pode seguir o que é comum, mas poucos fazem algo incomum. Além disso, as dificuldades da porta e do caminho estreitos envolvem sofrimento e perseguição. O próprio Jesus foi rejeitado pelo mundo, pelo seu próprio povo, por homens e mulheres, simplesmente por ter sido quem foi. Não podem entrar famílias juntas pela porta estreita, mas pessoa após pessoa. A vida de Jesus foi uma estrada apertada e espinhosa, mas ele continuou caminhando por ela.
Entrar pela porta estreita é um convite, uma exortação e um chamamento à ação, algo que requer uma decisão e um compromisso. É o evangelho a força que está controlando a minha vida? A porta estreita é difícil e precisa procurada; Lutero, Wesley e outros a buscaram durante muito tempo, mesmo já estando a serviço de uma igreja teoricamente cristã.
A filosofia do caminho largo denota uma vida vazia, tanto intelectual quanto moralmente, mesmo quando considerada segundo seus próprios méritos: uma existência de luxo e exibicionismo, mas também de sombras e meras aparências. A dificuldade que envolve todos aqueles que não são crentes em Jesus é que eles jamais viram a glória da vida cristã. O Deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo. O indivíduo que vive a vida terrena como um fim em si mesma não é lógico, mas incoerente. O caminho espaçoso conduz os homens à vergonha, à miséria e à a perdição, pois o salário do pecado é a morte espiritual e a separação de Deus. A vida cristã nos leva a uma experiência mais abundante, com nova vida, nova perspectiva, novos desejos, tudo novo. Isto se reflete nesta vida terrena, evoluindo até aquela que é eterna, sem mancha e incorruptível. Existem outras pessoas neste caminho, juntamente com você, mas são poucos os que o acham. Liderando os poucos que caminham por ali está o Senhor Jesus Cristo, estendendo-nos um convite para que vivamos conforme ele viveu e nos tornemos cada vez mais parecidos com ele. Não pense nas perdas, nos sacrifícios e nos sofrimentos. O ato de entrar pela porta estreita não salva ninguém, mas indica que já houve salvação. É possível tropeçar no pecado e interromper a comunhão com o Senhor; nesse caso, devemos confessar nossos erros e o sangue de Cristo nos limpará, sem que deixemos o caminho estreito.
Porta estreita e caminho apertado conduzem para a vida e poucos são os que os acham. Serão poucos os que se salvam? Lucas nos diz que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Não cabe a nós tentarmos descobrir quantos serão os habitantes da Pátria Celeste. Precisamos entrar e ter certeza de que já estamos no caminho certo.  Disse o pastor Marcílio Gomes Teixeira que há três surpresas reservadas para nós no céu: vamos procurar por pessoas que não acharemos; vamos encontrar pessoas que nunca imaginamos; mas a surpresa maior é que nós vamos estar lá!

41. A REGRA ÁUREA

“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7.12)


Continuando a abordar o tema do julgamento ao próximo, surge a regra áurea, a qual, no nosso relacionamento com as demais pessoas, deve ser o pensamento a nortear nossa vida. Ao Jesus dizer que devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos, isto é um resumo dos mandamentos com relação ao nosso semelhante. A regra áurea aparece no judaísmo, no hinduísmo, no confucionismo e no budismo de forma negativa, levando o homem a não fazer aos outros o que não quer que façam para ele.  Ao separarmos o que nos agrada e o que nos desagrada, devemos aplicar o resultado positivamente ao nosso semelhante, evitando, assim, conflitos maiores.
Os pensadores atuais concordam que o mais grave problema do século XX era o do relacionamento humano, é isto continua no século XXI. O problema envolve o dinheiro, mas principalmente o que eu quero e o que a outra pessoa quer. Não basta meramente dizermos às pessoas qual é o caminho correto; o problema é muito mais profundo do que isso. A lei também não é algo negativo, proibido. O espírito real por trás de tudo é que amemos ao próximo como a nós mesmos, ou seja, o que desejamos como nosso bem-estar deve também ser desejado como bem-estar do próximo. Precisamos nos interessar pelo próximo, amá-lo, querer ajudá-lo e nos interessarmos pela sua felicidade.
Aplicando a regra áurea ao século XX e contextualizando-a até o XXI, lembramos inicialmente que o ser humano é uma criatura pecadora e pervertida, por si só incapaz de praticar a lei áurea. Aliás, o homem natural aborrece a lei na sua totalidade e não a deseja: criou-se o ditado " a teoria na prática é outra". A razão disso é que, antes da aversão à lei, o homem tem uma atitude errada para com próprio Legislador, o Senhor Deus; a lei é uma expressão da pessoa, do caráter e da vontade de Deus. O homem natural é um inimigo alienado do Criador, vivendo como se Deus não existisse. O problema está no "ego", no amor que devemos para com o próximo como a nós mesmos. O egocentrismo surgiu no Éden, está presente no mundo e infelizmente atinge a própria igreja. Autossatisfação, autoproteção e auto interesse ocupam muito espaço na mente humana. Isso está em todas as fases do relacionamento, em áreas como trabalhismo, política, economia, tanto nacional como internacionalmente. "Direitos humanos" é sempre uma expressão presente na mídia de todas as formas, com sentido correto ou deturpado. A solução para os problemas do mundo atual é essencialmente teológica e ela não surgirá enquanto o pecado estiver controlando o coração humano em indivíduos, grupos humanos e nações.
Pensando positivamente, como é possível alguém pôr em prática a regra áurea? Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo nos leva a pensar em Deus primeiro e depois no próximo. Ninguém pode amar ao próximo como a si mesmo se não der a Deus a primazia. Precisamos reconhecer a sua santidade, poder, força criativa e nossa própria pequenez diante dele. Como míseros pecadores, podemos tentar esquecer que, em algum tempo, tivemos qualquer direito, sendo indignos de tudo. Assim, começamos a ver o nosso semelhante também como vítima do pecado, numa ideia totalmente nova. Reconhecendo que o próximo é exatamente como nós, também se encontrando em uma situação terrível diante de Deus, poderemos começar a amá-lo como a nós mesmos.
Deus jamais trata conosco conforme o nosso merecimento; ele nos confere suas bênçãos, mediante a sua graça, apesar daquilo que somos. É como se Deus estivesse nos dizendo: "Tratem os semelhantes em harmonia com este princípio, não vendo neles apenas o que é ofensivo, problemático e distorcido, mas vendo a realidade espiritual por trás disso tudo". Contemplemos os nossos semelhantes de acordo com essa nova perspectiva; se assim o fizermos, poderemos pôr em prática a regra áurea, demonstrando ao mundo a única maneira pela qual nossos problemas podem ser resolvidos e agindo como missionários e como embaixadores de Cristo.

terça-feira, 12 de maio de 2020

40. BUSCANDO E ENCONTRANDO


“Peçam e lhes será dado; busquem e encontrarão; batam e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (Mateus 7.7-8).

Esta é uma das grandes, abrangentes e graciosas promessas que só podem mesmo ser encontradas na Bíblia, com as quais podemos enfrentar todas as incertezas da vida. É uma promessa feita pelo Filho de Deus, que falou com toda a plenitude e autoridade de seu Pai.
A vida é uma jornada repleta de perplexidades, problemas e incertezas. O que importa não são as coisas que naturalmente vêm ao nosso encontro, mas a nossa prontidão em nos defrontamos com elas. Abraão enfrentou isso, e segundo alguém disse, ele, ao deixar sua terra, "saiu sem saber para onde ia, mas sabia com quem ia". Jesus não promete modificar a vida para nós, removendo dificuldades, provações, problemas e tribulações, ou aparando os espinhos. Ele enfrentou a vida neste mundo de maneira realista, consciente de que a carne é herdeira dos males que certamente virão, mas garantiu que jamais precisaremos andar preocupados. Pedir, buscar e bater são ações correspondentes a receber, encontrar e abrir. A promessa, porém, não é universal e absoluta, mas será cumprida segundo a vontade de Deus. Precisamos tomar consciência da nossa necessidade, bem como lembrar as riquezas da graça que estão em Cristo Jesus. Pedir, buscar e bater são verbos que demonstram nossa persistência e perseverança, mas é aí que muitos de nós falhamos. A questão principal é a percepção de nossa necessidade, a consciência do suplemento e a persistência na busca do que pedimos.
Na continuação, Jesus nos lembra, através de uma parábola, que Deus é o nosso Pai. Se o pai terreno tudo faz por seus filhos, quanto mais não nos fará Deus? Um dos nossos maiores defeitos é reconhecer a Deus como nosso Pai. Não se trata da paternidade universal, tão apregoada nos dias de hoje. Trata-se da certeza do verso escrito por João, quando diz que, "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus", crendo em seu nome. Na qualidade de pai, Deus está interessado em seu filho, preocupa-se com ele, conserva-o debaixo do seu olhar vigilante, tem um propósito para sua vida e sempre deseja abençoá-lo e ajudá-lo. Por isso, ele jamais nos dará qualquer coisa que nos seja espiritualmente prejudicial.
Deus nunca erra, conhecendo a diferença que há entre o bem e o mal, de modo muito mais completo do que qualquer outro ser. Um pai terreno pode pensar que está agindo para o bem do seu filho ao lhe dar o que é pedido, embora mais tarde descubra que o prejudicou. Deu jamais incorrerá nesses erros, permitindo-nos coisas materiais que podem nos desviar do bom caminho.
"... quanto mais o Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem". A melhor coisa a nos ser dada por Deus é o seu Espírito, que nos permite discernir o bem e o mal. Pedir, buscar e bater, portanto, não correspondem a ações imediatas de Deus ao receber, permitir que se encontre e abrir, ou seja, em atender. Qualquer coisa que contribua para aprimorar a salvação de nossas almas, para nossa santificação final, qualquer coisa que nos aproxime mais do Senhor, expanda nossa vida e que nos faça progredir espiritualmente, Deus nos dará. Que todos nós possamos descobrir, através do conhecimento das Escrituras, em que consistem essas "boas coisas" e então as pedirmos ao Pai Celestial. Se buscarmos em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, então temos a garantia de que todas as demais coisas nos serão acrescentadas. Deus nos haverá de abençoar com uma riqueza e uma abundância que jamais poderíamos imaginar. “... todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta.”

39. JUÍZO ESPIRITUAL E DISCRIMINAÇÃO


 “Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão” (Mateus 7.6).

Já aprendemos que não devemos julgar o próximo, que devemos tirar a viga dos próprios olhos antes de ajudar o irmão com o cisco e que não devemos ser hipercríticos. No entanto, o verso acima parece contrastar com tudo o que se disse antes. Vamos procurar o perfeito equilíbrio das Escrituras.
Jesus criticou a hipercrítica, mas não disse que não devemos discriminar. É necessário reconhecer ciscos e vigas e distinguir entre indivíduo e indivíduo. As duas figuras usadas por Jesus foram o cão e o porco; o cão era o carniceiro das ruas, um animal meio selvagem, feroz e perigoso, não o bicho de estimação de hoje; o porco, na mente dos judeus, representava tudo quanto havia de mais imundo e por isso era repudiado. Jesus nunca tratou duas pessoas exatamente da mesma maneira. Fariseus e doutores da lei eram tratados de forma diferente de publicanos e pecadores. Jesus em nada modificava a verdade, mas variava o método de apresentação; assim também fizeram os apóstolos. Os judeus que rejeitaram a mensagem, como cães e porcos espirituais, foram deixados de lado pelos apóstolos, que então se voltaram para os gentios.
Precisamos reconhecer diferentes tipos de pessoas e aprender a discriminar entre esses tipos. Não podemos apresentar a verdade de forma mecânica, da mesma maneira para todos. As pessoas são diferentes e a mensagem precisa ser apresentada de forma diversificada. O Novo Testamento sempre ensinou a necessidade da preparação. Como disse Paulo, devemos nos tornar "tudo para com todos", para, de alguma forma, salvar alguns; ele se fazia judeu para com judeus e gentio para com os gentios. É preciso avaliar como apresentamos a verdade, pois o método de apresentação precisa variar de pessoa para pessoa. Para determinadas pessoas, certas coisas são ofensivas, embora não o sejam para outras. Alguns incrédulos devem ouvir inicialmente apenas a doutrina da justificação pela fé. A mulher samaritana queria discutir diversos assuntos, mas Jesus não o permitiu, fazendo-a pensar sobre si mesma, sua vida de pecados e a necessidade de salvação. Eleição e predestinação, ou outras doutrinas profundas da Igreja discutidas com uma pessoa ainda na incredulidade, ou mesmo para neófitos, não é boa prática.
O efeito do pecado e do mal sobre o ser humano torna-o um cão ou um porco quanto à verdade divina, numa atitude antagônica à mensagem de Deus. Trata-se de uma atitude que se entranha profundamente no ser humano, transformando-o em algo odioso diante da inocência, pureza, santidade e verdade divinas. A solução para essas pessoas é o novo nascimento no Reino de Deus. Outro ponto a considerar é a natureza da verdade, que é bastante variada, com muitas facetas. Precisamos crescer no conhecimento da complexidade da verdade, tendo fome e sede de doutrinas mais elevadas, caminhando em direção à nossa santificação. Por isso, disse Jesus aos que são capazes de entender: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça".
Seria medida certa colocarmos a Bíblia inteira ao alcance de pessoas que se enquadram como cães e porcos espirituais? Devemos estampar certos trechos das Escrituras em letreiros, principalmente aqueles que fazem alusão ao sangue de Cristo? A má compreensão e mesmo a rejeição à mensagem provocam às vezes seu uso como blasfêmia. Embora haja pessoas que se converteram independentemente de qualquer instrumentalidade humana, tal fato não é norma, pois o servo de Deus deve continuar expondo as Escrituras. Entretanto, temos que ter cautela quanto aos aspectos da verdade, lidando com pessoas diferentes. Somos guardiães e expositores da Bíblia; devemos estar preparados para tão grande responsabilidade, com estudo e oração. 
Como Felipe e o eunuco, Deus continua precisando de homens e mulheres como nós, que exponham a verdade para aqueles que não são capazes de compreender as Escrituras Sagradas. Equilíbrio e senso de proporção quanto a essas realidades devem ser mantidos, para que a exposição equilibrada e completa da mensagem de Deus seja bem-sucedida.

38. OBSTÁCULOS À BOA VISÃO


“Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” (Mateus 7.3)

Jesus vai agora mostrar suas razões para que não sejamos hipercríticos, e a primeira delas é "não julguem, para que não sejam julgados". Esta é uma razão eminentemente prática e pessoal e o seu significado é que "não sejam julgados por Deus". Lembremo-nos de que as palavras que estamos considerando foram endereçadas a pessoas crentes no Senhor Jesus, não a incrédulos.
Existem nas Escrituras três tipos de julgamento. O primeiro deles tem resultado final e eterno e determina a posição ou situação de um ser humano diante de Deus; é ele que separa os bodes das ovelhas. O segundo julgamento se refere somente aos filhos de Deus, exatamente por serem assim. Paulo, ao expor a doutrina da Ceia do Senhor, disse que quem come e bebe da Ceia sem discernir o corpo, come e bebe para sua própria condenação. Por isso, devemos julgar e condenar a nós mesmos naquilo que estiver errado. Devemos andar nesta vida de uma forma cautelosa, examinando-nos a nós mesmos, para que não sejamos alcançados por esta forma de julgamento. Deus está conduzindo seus filhos à salvação e por isso ele os disciplina. O terceiro julgamento, refere-se aos galardões e atinge a todos os cristãos, ministros ou leigos. Embora esse julgamento não irá determinar o destino eterno de nossa alma, ele o afetará.
Outro ponto importante é o critério do julgamento. A razão para não julgarmos o próximo é porque, se o fizermos, estaremos atraindo juízo contra nós mesmos e estabelecendo o critério do nosso julgamento. Deus nos julgará em consonância com os nossos padrões pessoais. O critério é que a quem muito foi dado, muito será exigido e a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. Estamos provando através do nosso juízo acerca de outros que sabemos o que é certo; assim sendo, se não praticarmos o que achamos correto, estaremos condenando a nós mesmos. Segundo Tiago, quem se apresenta como autoridade terá o critério correspondente aplicado no seu julgamento.
Jesus usa a ironia ao falar sobre o cisco e a viga. Ao usar a figura, ele mostra que a nossa intenção não é a retidão no juízo, pois, se fosse, julgaríamos antes a nós mesmos. Se alguém afirma que seu único interesse é justiça e verdade, e não visa especificamente a julgar ninguém, essa pessoa será tão crítica de si mesma quanto de seus semelhantes. Normalmente a crítica humana não é voltada para princípios, mas para pessoas. No tribunal de júri, o julgamento deve ser objetivo, sem preconceitos e verdadeiro. Julgando pessoas, aparentemente estamos preocupados com pequenos defeitos que alguém, o cisco, mas somos incapazes de observar o grande obstáculo que nos impede a visão, a viga.
Não existe órgão mais sensível do que o olho. Para tratar dele, requerem-se em um oculista qualidades como simpatia, paciência, calma e tranquilidade. Pensando no terreno espiritual, estaremos tratando com a alma, muito mais sensível que o olho. Ninguém pode ser um oculista espiritual se não dispuser, ele mesmo, de uma visão desimpedida e clara. Precisamos aprender a falar a "verdade em amor". Aplicando o que Tiago disse, estejamos prontos para ouvir, sendo demorados para falar e para nos irarmos. Guardemos bem isso: Não julguemos a nossos semelhantes, a menos que primeiramente tenhamos julgado a nós mesmos.