Já aprendemos que não devemos julgar o próximo, que devemos tirar a viga dos próprios olhos antes de ajudar o irmão com o cisco e que não devemos ser hipercríticos. No entanto, o verso acima parece contrastar com tudo o que se disse antes. Vamos procurar o perfeito equilíbrio das Escrituras.
Jesus
criticou a hipercrítica, mas não disse que não devemos discriminar. É
necessário reconhecer ciscos e vigas e distinguir entre indivíduo
e indivíduo. As duas figuras usadas por Jesus foram o cão e o
porco; o cão era o carniceiro das ruas, um animal meio selvagem, feroz e
perigoso, não o bicho de estimação de hoje; o porco, na mente dos judeus,
representava tudo quanto havia de mais imundo e por isso era repudiado. Jesus
nunca tratou duas pessoas exatamente da mesma maneira. Fariseus e doutores da
lei eram tratados de forma diferente de publicanos e pecadores. Jesus em nada
modificava a verdade, mas variava o método de apresentação; assim também
fizeram os apóstolos. Os judeus que rejeitaram a mensagem, como cães e porcos
espirituais, foram deixados de lado pelos apóstolos, que então se voltaram para
os gentios.
Precisamos
reconhecer diferentes tipos de pessoas e aprender a discriminar entre esses
tipos. Não podemos apresentar a verdade de forma mecânica, da mesma maneira
para todos. As pessoas são diferentes e a mensagem precisa ser apresentada de
forma diversificada. O Novo Testamento sempre ensinou a necessidade da
preparação. Como disse Paulo, devemos nos tornar "tudo para com
todos", para, de alguma forma, salvar alguns; ele se fazia judeu para com
judeus e gentio para com os gentios. É preciso avaliar como apresentamos a
verdade, pois o método de apresentação precisa variar de pessoa para pessoa. Para
determinadas pessoas, certas coisas são ofensivas, embora não o sejam para
outras. Alguns incrédulos devem ouvir inicialmente apenas a doutrina da
justificação pela fé. A mulher samaritana queria discutir diversos assuntos,
mas Jesus não o permitiu, fazendo-a pensar sobre si mesma, sua vida de pecados
e a necessidade de salvação. Eleição e predestinação, ou outras doutrinas
profundas da Igreja discutidas com uma pessoa ainda na incredulidade, ou mesmo para
neófitos, não é boa prática.
O
efeito do pecado e do mal sobre o ser humano torna-o um cão ou um porco quanto
à verdade divina, numa atitude antagônica à mensagem de Deus. Trata-se de uma
atitude que se entranha profundamente no ser humano, transformando-o em algo
odioso diante da inocência, pureza, santidade e verdade divinas. A solução para
essas pessoas é o novo nascimento no Reino de Deus. Outro ponto a considerar é
a natureza da verdade, que é bastante variada, com muitas facetas. Precisamos
crescer no conhecimento da complexidade da verdade, tendo fome e sede de
doutrinas mais elevadas, caminhando em direção à nossa santificação. Por isso,
disse Jesus aos que são capazes de entender: "Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça".
Seria
medida certa colocarmos a Bíblia inteira ao alcance de pessoas que se enquadram
como cães e porcos espirituais? Devemos estampar certos trechos das Escrituras
em letreiros, principalmente aqueles que fazem alusão ao sangue de Cristo? A má
compreensão e mesmo a rejeição à mensagem provocam às vezes seu uso como
blasfêmia. Embora haja pessoas que se converteram independentemente de qualquer
instrumentalidade humana, tal fato não é norma, pois o servo de Deus deve
continuar expondo as Escrituras. Entretanto, temos que ter cautela quanto aos
aspectos da verdade, lidando com pessoas diferentes. Somos guardiães e
expositores da Bíblia; devemos estar preparados para tão grande
responsabilidade, com estudo e oração.
Como Felipe e o eunuco, Deus continua
precisando de homens e mulheres como nós, que exponham a verdade para aqueles
que não são capazes de compreender as Escrituras Sagradas. Equilíbrio e senso
de proporção quanto a essas realidades devem ser mantidos, para que a exposição
equilibrada e completa da mensagem de Deus seja bem-sucedida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário