A identidade cristã nos dias atuais

sexta-feira, 14 de junho de 2019

POR QUE FOI CRIADO ESTE BLOG?

Vivemos em um mundo complicado. Talvez seja correto afirmar-se que cada momento histórico vivido pelo homem tenha tido suas complicações. Porém, creio que em nenhum outro momento foi tão difícil definirem-se parâmetros, valores, comportamentos, coisas, enfim, que eram mais ou menos claras em suas definições há 50 anos atrás. A Modernidade vivida pela humanidade desde os grandes acontecimentos do século XV, como os grandes descobrimentos marítimos, por exemplo, parece que, no dizer do filósofo, liquefez-se, virou água e, assim, o que parecia sólido perdeu suas características. Vivemos a Pós-Modernidade, ou a Modernidade Líquida, ou qualquer outro nome que se queira dar. Aliás, não é bom nem prudente tirarmos conclusões quando estamos no meio da onda que cresce sobre nós. É mais prudente tentar manter a cabeça fora d'água e sobreviver ao momento, para depois avaliarmos os estragos causados pelo "tsunami". 
Pensando nestas dificuldades mencionadas, e em outras que poderiam ser lembradas, estamos criando aqui um espaço para discutirmos o que significa ser cristão nos dias de hoje. Embora as circunstâncias tenham mudado (e como!), o evangelho de Cristo não muda. Por isso, ser cristão hoje não é diferentes em suas características na atualidade em comparação com os dias apostólicos. E onde está o parâmetro para compararmos o nosso modo de ser cristão com aquilo que Cristo pregou e os apóstolos viveram e propagaram no seu tempo? Creio que o padrão está na Bíblia, principalmente no "Sermão do Monte" pregado por Jesus Cristo. Martyn Lloyd-Jones, assim como outros autores, deixou uma obra que vai-nos servir de base: "Estudos no Sermão do Monte", uma coletânea de sessenta sermões por ele pregados na Capela de Westminster, em Londres, em meados do século passado. Procuraremos nos ater às ideias ali encontradas, buscando atualizar aquilo que for circunstancial (muito pouco, por sinal), mas mantendo aquilo que é imutável, qual seja, a mensagem do Senhor Jesus. Vamos procurar crescer pouco a pouco, semanalmente se possível, na publicação dos textos.
Que Deus seja louvado por tudo aquilo que fizermos e que os textos sejam edificantes para as vidas por eles alcançadas, é o nosso desejo.


Prof. Ricardo Simões Rocha
  

1. O QUE É SER CRISTÃO?

“Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo:...” (Mateus 5.1-2)

Superficialidade é a característica mais evidente da igreja cristã dos nossos dias. Tomando-se conhecimento dos grandes movimentos do Espírito de Deus no seio da Igreja através da sua história em várias ocasiões de sua existência, vemos que, em algumas épocas, a Igreja dormiu e precisou de despertamento; a Igreja envelheceu, e necessitou de renovação; ela parecia ter morrido em outros momentos, ansiando por reavivamento. A Igreja edificada por Cristo não fechará suas portas nem morrerá, mas, no momento em que vivemos, ela parece ter-se tornado superficial com a entrada do mundanismo, perdendo a profundidade da fé e da devoção a Deus, levando-nos a refletir sobre o que significa Cristianismo. O que é ser cristão? 
O Sermão do Monte é uma descrição do caráter do crente e servirá de base para a nossa busca da definição do ser cristão. O que significa para nós o sermão? Onde o mesmo participa de nossa vida diária e qual é seu papel em nosso modo de pensar, em nossas atitudes? Qual é a nossa relação para com ele? A quem se destina esse sermão? Realmente, qual é o seu propósito e qual a sua relevância?
O cristão é uma pessoa que deve observar a lei de Deus, deve estar consciente da constante presença de Deus na sua vida e deve viver sempre no temor a Deus. Jones afirma: “É como se o nosso Senhor houvesse dito: ‘Por causa daquilo que vocês são, eis como vocês deveriam encarar a lei e como deveriam viver.’” Se cada cristão hoje estivesse tentando viver o Sermão do Monte, o grande reavivamento pelo qual a Igreja ora já teria começado, estariam acontecendo coisas notáveis e assombrosas, o mundo ficaria atônito e homens e mulheres seriam impelidos e atraídos para o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O Sermão do Monte não existe para servir de base doutrinária para o chamado evangelho social, embora tenha sua aplicação na vida cristã na sociedade. Também não é puramente um comentário da lei mosaica, um código de ética ou de moral, uma espécie de segunda edição dos dez mandamentos, embora Cristo sempre cite a Lei de Moisés em seus ensinos. No ponto de vista dispensacional, alguns entendem que o sermão se destinaria à "Era do Reino", ao milênio, não sendo para nós. O certo é que o sermão foi pregado a pessoas que deveriam pôr em prática suas instruções, tanto naquele tempo como sempre.
Sobre a vinda do Reino de Deus, podemos afirmar um e um ainda não: o reino veio, está vindo e virá completamente, mas ainda não se estabeleceu por completo. Por isso, Jesus veio, viveu, morreu e ressuscitou, e em seguida enviou o seu Santo Espírito, para que você e eu pudéssemos pôr em prática o Sermão do Monte.
Se ao menos todos nós estivéssemos vivendo conforme o Sermão do Monte, então os homens saberiam que o evangelho é realmente dinâmico, reconheceriam que o Cristianismo é uma realidade viva e não ficariam mais a procurar por alguma outra coisa.
O Sermão do Monte somente pode ser compreendido à luz de sua totalidade, havendo nele uma ordem e sequência lógica. Somente pessoas regeneradas podem pôr em prática os preceitos do Sermão do Monte, em termos de conduta, princípios éticos e moralidade.
Há diversas maneiras de subdividir esse sermão e Martim Jones defende dois aspectos: o geral e os particulares. O aspecto geral ocupa o trecho de Mateus 5, de 3 a 16; o restante do sermão ocupa-se com os aspectos particulares da vida e da conduta do crente. Após o aspecto geral, no restante do capítulo 5, temos as bem-aventuranças, descrevendo o caráter geral dos cristãos; a reação do mundo diante deles; a função do cristão na sociedade e no mundo; exemplos e ilustrações particulares de como vive o cristão no mundo. O sexto capítulo inteiro relaciona-se à vida do cristão diante de Deus, em ativa submissão e em total dependência dele. O sétimo capítulo traz uma descrição do crente em Cristo como quem vive perenemente sob o julgamento de Deus e, portanto, no temor ao Senhor. O capítulo termina com o cristão comparado ao homem que está edificando uma casa e sabe que ela será submetida a um teste de resistência.