“Assim resplandeça a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem
o vosso Pai, que está nos céus”
(Mateus 5.16).
“Vocês, porém, são
geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para
anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (1 Pedro 2.9).
Já vimos o que somos; vamos agora considerar
aquilo que devemos ser. O crente não é uma pessoa que vive isolada: estando do
mundo, não pertence ao mundo, mas mantém certa relação com ele. Embora deva ter
mente e perspectiva diferentes daquelas dos homens deste mundo, o cristão não
deve alienar-se da vida ativa na sociedade em que vive. A função do crente no
mundo é uma das mais urgentes questões com que se defrontam a igreja e o crente
individual nesta nossa época. É um ensino importante em face da situação
mundial vigente, pois, à medida em que o problema do pecado no mundo for se
agravando, a possibilidade de perseguição aumenta. Por que devemos ser sal e
luz? Porque isto é o que se espera de nós. O sal deve salgar e a luz deve
iluminar. A cidade edificada sobre um monte não se pode esconder; se somos
cristãos verdadeiros, não podemos nos ocultar. Se escondermos nossa
natureza regenerada, nós nos tornaremos completamente inúteis. Sal e luz
têm uma qualidade única e assim, uma vez que a percam, tornam-se perfeitamente
inúteis. Não existe nenhuma outra coisa criada por Deus que seja tão
completamente inútil quanto um crente meramente nominal. Ele não funciona nem
como um indivíduo do mundo, nem como crente, sendo rejeitado pelo mundo e inútil
para a Igreja. Se descobrirmos em nós mesmos tendência de esconder a nossa luz
debaixo de um alqueire, então teremos de começar a examinar-nos, a fim de
certificar-nos se somos realmente luz.
Como podemos saber se realmente estamos
funcionando como sal e luz neste mundo? Em uma lâmpada antiga, duas
coisas eram necessárias: o azeite e o pavio. O azeite é algo imprescindível,
representa a vida divina que Deus incute em nós. Temos certeza de que dispomos
do azeite da vida, conforme somente o Santo Espírito de Deus pode dar? Precisamos
passar horas em oração, meditação e estudo da Palavra, para mantermos nosso
estoque de azeite completo. O segundo elemento da comparação, o pavio,
precisava ser constantemente aparado para produzir boa luz. Isso nos leva à
necessidade de relembrarmos constantemente as bem-aventuranças, ou seja, aquilo
que somos pela graça de Deus, ou aquilo que ele espera que sejamos. Longe de
querermos ser parecidos com este mundo, devemos procurar ser diferentes dele o
máximo que pudermos. Em vez de nos tornarmos grosseiros, rudes, feios e
vociferantes como o mundo, devemos nos tornar humildes, pacíficos e
pacificadores em toda nossa conversa e conduta. O crente é essencialmente
diferente dos homens do mundo.
Deve também haver em nós total ausência de
ostentação e exibicionismo. Nossas obras devem ser boas, mas a glória é de
Deus. O "eu" deve estar esquecido no meio da humildade de espírito,
mansidão e de todas as outras virtudes. Ele precisa desaparecer, porque a causa
é a glória do Senhor.
Ser sal e luz é uma atitude individual. A
tarefa primordial da igreja é pregar o Evangelho e, quando a igreja começa a
intervir nas lides políticas, sociais e econômicas, ela já se comprometeu
quanto à ordem evangelizadora que Deus lhe deu. Que se permita ao crente
individual desempenhar seu papel de cidadão, mas a igreja não deve se
intrometer nem se preocupar com tais questões. O pecado é tão abominável em um
capitalista quanto em um comunista, em um rico quanto em um pobre, e cabe à
igreja atingir a cada indivíduo através de cada cristão.
Ser cristão no mundo não é fácil, pois ele não é
do mundo, é forasteiro, peregrino. Seu caráter contradiz os valores mundanos,
sendo por isso rejeitado e perseguido pelos do mundo. Ele está neste mundo com
um propósito: dele participar sem se deixar influenciar: estar no mundo e não
ser dele. O Reino de Cristo não é clube fechado, pois não pode haver salvação
de pessoas sem o contato com elas, sem influenciá-las. Imitamos Jesus, mas como
ele não devemos ser influenciados pelo pecado, mas influenciar os pecadores.