“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mateus 5.13).
"Se não faz diferença, que diferença faz?" (Oscar Pauser)
Qual deve ser a relação entre o povo crente em Cristo, por um lado, e a sociedade e o mundo, por outro? "Vós sois o sal da terra". Essa expressão descreve tanto o cristão quando o mundo: o cristão como sal, num mundo visto como a humanidade que ainda não foi regenerada em Cristo. A época por nós vivida é muito semelhante ao retrato que a Bíblia faz do mundo na época de Cristo, atualizada para um século trágico, principalmente porque sua própria maneira de viver tem desmentido e derrubado por terra a sua filosofia. No século XIX, esperava-se muito do século XX, a “era áurea”, alicerçada sobre a Teoria da Evolução, não somente no sentido biológico, mas também no sentido filosófico. O homem teria evoluído a partir do animal, atingindo um certo estágio de desenvolvimento, e a ideia predominante era que a vida inteira estava inexoravelmente progredindo, desenvolvendo-se, aprimorando-se: as guerras seriam abolidas, as enfermidades erradicadas e o sofrimento desapareceria. O homem finalmente aprendera a viver e as massas populacionais, através de uma correta educação, não mais se entregariam ao alcoolismo, à imoralidade ou aos vícios. Sentadas à mesa de conferências, as nações se entenderiam. Entre estas ideias esboçadas por Martyn Lloyd Jones em meados do século XX e os nossos dias, o mundo entrou na era Pós-Moderna, um período de frustração e de destruição da utopia.
O mundo é decaído, pecaminoso e mau, inclina-se para a maldade e para o conflito armado. Assemelha-se à carne que tende a putrefazer-se e ficar poluída de germens. Como resultado do pecado e da queda do homem, a vida no mundo em geral tende a piorar até ficar pútrida. Existem micróbios, agentes infecciosos e bacilos da maldade no próprio corpo da humanidade e, se não forem neutralizados, causarão enfermidades graves. Isto está acontecendo através da história, desde a queda do homem no Jardim do Éden, o dilúvio, a Torre de Babel, Sodoma e Gomorra, prolongando-se até os nossos dias. O mundo é mau, pecaminoso e maligno; qualquer otimismo em relação ao mundo é uma atitude totalmente antibíblica contestada pela própria história.
“Vós (e somente vós) sois o sal da terra”: este é o real sentido do texto. O sal é essencialmente diferente do material ao qual é aplicado e, em certo sentido, exerce todas as suas virtudes exatamente por causa dessa diferença. Mesmo em pequena quantidade em relação à matéria a ser salgada, o sal faz uma grande diferença. O cristão constitui uma espécie separada, destacada e inigualável de indivíduos. Deve existir nele algo que o distinga de todas as outras pessoas e que o torne reconhecido, como o sal. A principal função do sal é a de preservar, agindo como um antisséptico. Outra função do sal é prover sabor, impedindo que o alimento fique insosso. Portanto, a vida neste mundo se tornará insípida sem o cristianismo bíblico. Por sentirem a vida insípida, as pessoas buscam esta ou aquela forma de diversão, chegando às mais diversas drogas na procura de algum sabor para a vida.
O indivíduo verdadeiramente santificado exerce influência pessoal, a qual permeia e penetra em qualquer grupo de pessoas no qual ele esteja. Nos nossos dias, o nosso sal cristão tem perdido seu sabor e não estamos mais influenciando nossos semelhantes incrédulos por sermos "santos", conforme deveríamos estar fazendo. Atuação como sal da terra não é ação coletiva da igreja, mas vivência individual. Cada um de nós, em seu próprio círculo de atividades, precisa atuar nesse processo de decadência do mundo, para que a massa inteira possa ser preservada. Lembrando a frase citada no início, sempre repetida por um grande cristão com o qual tivemos o privilégio de conviver, "se não faz diferença, que diferença faz?" Se o fato de sermos cristãos não faz diferença no meio onde vivemos e atuamos e o nosso sal já perdeu o sabor, que diferença faz sermos ou não crentes no Senhor Jesus? Sejamos o sal da terra, permitindo a ação do Espírito Santo de Deus em nós.