“Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa
as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não
nos deixes cair em tentação, mas
livra-nos do mal” (Mateus 6.11-13).
Após
as petições iniciais na forma de adoração, a oração do “Pai Nosso”
prossegue com três petições humanas, considerando Martyn Lloyd Jones que
elas incluem todas as nossas grandes necessidades em nossa caminhada por este
mundo. A sequência das petições é pelo pão diário; em seguida, pelo perdão
dos pecados; após isso, petição para ser resguardado de qualquer
coisa que me lance novamente no pecado e ser libertado de qualquer coisa
que se oponha aos meus mais elevados interesses, atinentes à minha vida superior
e verdadeira.
O
"pão nosso de cada dia" pode ser entendido como "dá-nos neste
dia aquilo que nos é necessário", englobando todas as nossas necessidades
materiais. Tudo quanto devemos pedir neste aspecto é aquilo que é suficiente ou
necessário para cada dia. Deus nos dá bênçãos além das mínimas necessárias, mas
estas não devem se constituir em nossa preocupação maior. A seguir temos
"perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores". Na justificação, após o novo nascimento, somos perdoados dos
pecados até então cometidos; enquanto caminhamos por este mundo, continuamos
precisando de perdão para as nossas dívidas e fracassos diários. Ao lavar os
pés dos apóstolos na páscoa derradeira, Jesus corrigiu Pedro, que queria
receber um banho completo, ao dizer que o resto do corpo já estava limpo, sendo
necessária a limpeza apenas dos pés. Realmente, indo além na metáfora, no
processo da nossa salvação, todos os pecados já foram perdoados, mas
continuamos caminhando por este mundo com tanta sujeita e corrupção, e os
nossos pés precisam de constante limpeza da poeira dos caminhos. Por isso,
“perdoa-nos as nossas dívidas”. O homem que sabe que foi perdoado em virtude do
sangue vertido por Jesus é o indivíduo que sente a compulsão de perdoar os
outros. Por isso existe a comparação estabelecida por "assim como", e
este ponto é tão importante que Jesus reafirmou a necessidade de perdoarmo-nos
uns aos outros após o término da oração. A última petição, que alguns entendem
como dupla, é "não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal";
nela pedimos que Deus não nos leve a situações onde poderíamos ser vítimas
fáceis de tentações, mas nos livre da maldade, tanto daquela interiorizada em
nós quanto da exterior, para que a nossa comunhão com Deus jamais venha a
sofrer interrupção.
A
parte final da oração, "Pois teu é o Reino, o poder e a glória para
sempre", aparece em algumas versões antigas e não em outras, pondo-se em
dúvida se Jesus teria ou não proferido essas palavras. No entanto, elas são
extremamente apropriadas. Assim, a oração começa e termina fazendo referência
ao Reino de Deus. Nosso alimento diário nos foi assegurado e temos com Pai
alguém que nos pode guardar do mal, de Satanás, de nós mesmos e de tudo o mais.
“O mundo está cheio de pessoas que se julgam guerreiros de oração, mas
que nem sabem o que é orar. Utilizam-se de fórmulas, programas, conselhos e
técnicas de vendas para conseguir o que querem de Deus. Não façam essa asneira.
Vocês estão diante do Pai. E ele sabe o de que estão precisando, melhor do que
vocês mesmos.” Usando sua maneira
mais direta e popular de se expressar, Eugene Peterson, autor da tradução
bíblica chamada “A Mensagem”, assim se expressa em Mateus 6. É triste vermos o
que tem sido feito com os princípios absolutos do Reino de Deus pelos homens
que se dizem cristãos, e a oração, com seu uso por vezes indevido e inadequado,
é uma área que reflete bem isto. Se todo cristão verdadeiro se dedicasse a
conhecer a estrutura simples e direta da Oração do Pai Nosso, começando com a adoração
a Deus e culminando com as petições humanas, creio que o cristão que
ora e a Igreja à qual ele pertence seriam mais abençoados por Deus e o
crescimento do seu Reino seria maior.