A identidade cristã nos dias atuais

segunda-feira, 9 de março de 2020

28. O "PAI NOSSO" COMO PETIÇÃO

“Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (Mateus 6.11-13).

Após as petições iniciais na forma de adoração, a oração do “Pai Nosso” prossegue com três petições humanas, considerando Martyn Lloyd Jones que elas incluem todas as nossas grandes necessidades em nossa caminhada por este mundo. A sequência das petições é pelo pão diário; em seguida, pelo perdão dos pecados; após isso, petição para ser resguardado de qualquer coisa que me lance novamente no pecado e ser libertado de qualquer coisa que se oponha aos meus mais elevados interesses, atinentes à minha vida superior e verdadeira.
O "pão nosso de cada dia" pode ser entendido como "dá-nos neste dia aquilo que nos é necessário", englobando todas as nossas necessidades materiais. Tudo quanto devemos pedir neste aspecto é aquilo que é suficiente ou necessário para cada dia. Deus nos dá bênçãos além das mínimas necessárias, mas estas não devem se constituir em nossa preocupação maior. A seguir temos "perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Na justificação, após o novo nascimento, somos perdoados dos pecados até então cometidos; enquanto caminhamos por este mundo, continuamos precisando de perdão para as nossas dívidas e fracassos diários. Ao lavar os pés dos apóstolos na páscoa derradeira, Jesus corrigiu Pedro, que queria receber um banho completo, ao dizer que o resto do corpo já estava limpo, sendo necessária a limpeza apenas dos pés. Realmente, indo além na metáfora, no processo da nossa salvação, todos os pecados já foram perdoados, mas continuamos caminhando por este mundo com tanta sujeita e corrupção, e os nossos pés precisam de constante limpeza da poeira dos caminhos. Por isso, “perdoa-nos as nossas dívidas”. O homem que sabe que foi perdoado em virtude do sangue vertido por Jesus é o indivíduo que sente a compulsão de perdoar os outros. Por isso existe a comparação estabelecida por "assim como", e este ponto é tão importante que Jesus reafirmou a necessidade de perdoarmo-nos uns aos outros após o término da oração. A última petição, que alguns entendem como dupla, é "não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal"; nela pedimos que Deus não nos leve a situações onde poderíamos ser vítimas fáceis de tentações, mas nos livre da maldade, tanto daquela interiorizada em nós quanto da exterior, para que a nossa comunhão com Deus jamais venha a sofrer interrupção.
A parte final da oração, "Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre", aparece em algumas versões antigas e não em outras, pondo-se em dúvida se Jesus teria ou não proferido essas palavras. No entanto, elas são extremamente apropriadas. Assim, a oração começa e termina fazendo referência ao Reino de Deus. Nosso alimento diário nos foi assegurado e temos com Pai alguém que nos pode guardar do mal, de Satanás, de nós mesmos e de tudo o mais.
“O mundo está cheio de pessoas que se julgam guerreiros de oração, mas que nem sabem o que é orar. Utilizam-se de fórmulas, programas, conselhos e técnicas de vendas para conseguir o que querem de Deus. Não façam essa asneira. Vocês estão diante do Pai. E ele sabe o de que estão precisando, melhor do que vocês mesmos.” Usando sua maneira mais direta e popular de se expressar, Eugene Peterson, autor da tradução bíblica chamada “A Mensagem”, assim se expressa em Mateus 6. É triste vermos o que tem sido feito com os princípios absolutos do Reino de Deus pelos homens que se dizem cristãos, e a oração, com seu uso por vezes indevido e inadequado, é uma área que reflete bem isto. Se todo cristão verdadeiro se dedicasse a conhecer a estrutura simples e direta da Oração do Pai Nosso, começando com a adoração a Deus e culminando com as petições humanas, creio que o cristão que ora e a Igreja à qual ele pertence seriam mais abençoados por Deus e o crescimento do seu Reino seria maior.