A identidade cristã nos dias atuais

segunda-feira, 4 de maio de 2020

32. DUPLO SENHORIO?

“Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6. 21).

O pecado é algo que exerce um efeito inteiramente perturbador e desorganizador no equilíbrio da vida de um homem. Corpo, alma (ou mente) e espírito são as três partes normalmente consideradas no ser humano, dentre as quais a porção mais elevada de todas é o espírito. Em certo sentido, porém, o dote mais elevado que Deus concedeu ao homem neste mundo é a mente, pois é através dela que as coisas materiais são percebidas e analisadas pelo ser humano. O homem foi criado por Deus para compreender, ser governado e controlado pelo seu entendimento. Por isso, o homem, após a queda, não continua sendo governado por sua mente e compreensão, mas sim pelos seus desejos, afetos e concupiscências, em uma atitude desequilibrada.
Outro elemento a considerar é que o pecado cega o ser humano no tocante a determinadas questões vitais. Paulo afirma isso, ao dizer que "o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos". O pecado cega a mente dos homens para as coisas que são perfeitamente óbvias; uma delas é que nenhum dos tesouros terrenos perdura, o homem não vai poder levar nenhum deles quando morrer. O pecado também cega o ser humano no que diz respeito aos valores absoluto e relativo das coisas. Somos criaturas presas ao tempo, mas estamos destinados a viver na eternidade, não havendo comparação possível entre a importância relativa do tempo e o valor absoluto da eternidade.
O homem mundano está vivendo exclusivamente para si mesmo e para seus semelhantes, estando Deus sendo esquecido na sua vida. O homem sempre tenta misturar coisas que não se misturam. Antes de Cristo vir ao mundo, o filósofo Aristóteles afirmou que não existem pontos intermediários entre dois pontos opostos: os opostos são antagônicos e jamais se conseguirá obter um meio termo entre eles. Não se pode servir a dois senhores: ou existe luz, ou prevalecem as trevas; o olho é bom ou mau; servimos a Deus ou às riquezas. O homem natural não tem essa noção, mas a igreja de Deus, durante muito tempo, tem procurado misturar determinados valores incompatíveis uns com os outros. Se a igreja é uma sociedade de natureza espiritual, então não nos podemos misturar com o mundo. Uma vez que se perca a distinção entre o mundo e a Igreja, ela deixa de ser verdadeiramente cristã. O pecado também reduz o homem a um escravo daquelas coisas que foram criadas justamente para servi-lo: alimento, vestuário, família, amigos e muitas outras coisas nos foram dados por Deus com o propósito de que delas desfrutássemos. O efeito final do pecado sobre o homem é que ele arruína completamente esse relacionamento. O homem moderno acredita que está sendo dirigido pela sua mente, pela sua razão, e, com base nelas, rejeita a existência de Deus. Vive exclusivamente para o presente. Não percebe que a luz que nele existe se obscureceu. O racionalismo e o Iluminismo deixaram marcas profundas no desenvolvimento do homem moderno e, infelizmente, também no seio da Igreja. Se o homem natural vier a se converter, então a sua mente será restaurada e ele se tornará um ser realmente racional. Na conversão, a mente é libertada dessas distorções do mal e das trevas espirituais e então consegue entender a verdade. 
O indivíduo enganado pelo pecado não somente vai descobrir, no final, que está de mãos vazias, mas também que se enganou a si mesmo, que foi desviado do caminho reto por sua suposta luz e que agora está do lado de fora da vida eterna e debaixo da ira de Deus. O Espírito Santo pode mostrar-nos como nos convém ser libertos das perversões e da poluição do pecado, tornando-nos homens e mulheres inteiramente renovados, criados segundo o padrão do próprio Filho de Deus, capazes de amar as realidades divinas, capazes de servir a Deus, e a Deus somente.

31. DEUS OU AS RIQUEZAS


“Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6.24).

Após viver neste mundo que tal modo que usemos tudo quanto possuímos com a finalidade de acumularmos tesouro no céu, sem nos importarmos com nossas posses materiais, nossos dons, nossos talentos ou nossas propensões, vamos pensar agora na opção pelo senhorio da vida. Lembre-se de que o Sermão do Monte é uma mensagem dirigida a quem já é cristão, ou seja, a você, a mim e a toda a Igreja.
O interesse maior do político é sobre os tesouros da terra. E nós, quando somos convocados para escolher os candidatos que nos representem, qual é o nosso verdadeiro interesse, qual é o motivo que nos leva a votar? Se analisarmos com honestidade esta questão, veremos que infelizmente sempre haverá algum tesouro da terra que desperte interesse em nós, o mesmo em candidatos e eleitores cristãos. Ao lidarmos com os tesouros terrenos, será que estamos conscientes de que somos peregrinos, meros estrangeiros que passamos por este mundo, tendo que lidar com assuntos mundanos enquanto aqui estamos?
Olhando para o assunto do ponto de vista negativo, ao aconselhar que não se ajuntem tesouros na terra, Cristo estava ensinando que os tesouros materiais não perduram, que são passageiros, transitórios e efêmeros, ideias representadas em "traça, ferrugem e ladrões". Esses tesouros jamais nos satisfazem completamente, por isso as pessoas nunca estão completamente felizes. A moda se modifica; embora nos mostremos muito entusiasmados a respeito de certas coisas por algum tempo, logo elas perdem o poder de atração sobre nós. A medida em que vamos envelhecendo, as coisas parecem ir-se tornando diferentes, havendo nelas um elemento de traça e de ferrugem. A corrupção manifesta-se em todas as coisas terrenas: elas são inteiramente impuras. Por fim, as coisas inevitavelmente perecem. Na ideia de "ladrões", podemos considerar outros assaltantes que nos vivem assaltando: enfermidades, negócios malsucedidos, colapsos industriais, guerra e, por fim, morte.
Deixemos de lado as ideias negativas e vamos meditar sobre o lado positivo da questão. Devemos ajuntar tesouros no céu, lembrando que Pedro disse da existência de uma herança incorruptível, sem mácula, reservada nos céus para nós. Tal herança está livre de traça, ferrugem e ladrões e o nosso bom senso cristão deveria nos levar a pensar nela. O lugar onde estamos armazenando nosso tesouro nos remete à ideia de senhorio: estamos servindo a Deus ou às riquezas? É verdade que as coisas terrenas exercem sobre nós forte domínio e poder, o qual é grande e sutil. Prosperidade material e elevado intelecto, por exemplo, podem representar para o homem seu apego a tesouros na terra. Este mundo é um cárcere que nos aprisiona e exerce seu terrível efeito sobre nós. A menos que tenhamos consciência desse fato e nos resguardamos dele, esse domínio, esse poder pode chegar a nos conquistar, transformando-nos em escravos. "Porque onde está o seu tesouro aí estará também o seu coração" significa que as coisas humanas se apossam de nossos sentimentos, afetos e sensibilidade; elas afetam também nossa mente; nossa visão e toda a nossa perspectiva ética passam a ser controladas por essas coisas; elas controlam até mesmo nossa atitude religiosa. A maneira como encaramos os tesouros da terra, em última análise, determina o nosso relacionamento com Deus e o destino eterno de nossa alma.
A quem você está servindo, a Deus ou às riquezas? Ambos exigem dedicação total. As coisas do mundo dominam a personalidade inteira do homem, afetando todos os aspectos da sua vida. “Ninguém pode servir a dois senhores...  Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”. Quem é o seu deus: o Criador dos céus e da terra ou o dinheiro, que representa a personalidade inteira do ser humano no apego às coisas terrenas? As coisas da terra hão de perecer, mas Deus e a sua Palavra permanecerão eternamente.