“Ele nos capacitou para
sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a
letra mata, mas o Espírito vivifica”
(2 Coríntios 3.6).
“Estou reposicionando
as coisas, ajuntando-as num quadro geral, para que fiquem no devido lugar.” (Bíblia Mensagem)
Até aqui, Jesus esboçou as características que
o cidadão do Reino de Deus deve apresentar, em forma de bem-aventuranças. O
homem bem-aventurado é aquele que, em um exame introspectivo, reconhece a sua pobreza
em espírito diante de Deus; que chora pela miserabilidade do pecado,
tanto seu quanto dos outros; que sente fome e sede da justiça que só
Deus pode prover, e que busca incessantemente uma limpeza de coração
diante de Deus. No seu relacionamento com o próximo, ele busca uma posição de mansidão,
mesmo diante da provocação; ele se reveste de misericórdia para com a
atitude do outro e procura manter para com ele um espírito de pacificação,
mesmo em meio aos conflitos que o envolvem. O próximo, olhando para
o cristão, nunca vai entendê-lo na carne e pode vir perseguição por
causa da justiça, justiça essa que o próximo reconhece no servo de Deus e que
jamais conseguirá atingir. As consequências de tal atitude de bem-aventurança é
a atuação do cristão no mundo como sal e luz.
A partir de agora, o Senhor vai abordar temas
relacionados à Lei. Ele se dirigia a judeus conhecedores da lei, que avaliavam
qualquer nova doutrina comparando-a com o texto mosaico. Jesus começa agora a
discutir a sua própria visão positiva da lei, estabelecendo o contraste entre a
sua fala e o falso ensino negativo dos escribas e fariseus, cuja justiça
precisa ser excedida por seus seguidores.
Jesus usa repetidas vezes a frase "vocês
ouviram o que foi dito aos seus antepassados". Após retornarem do
cativeiro babilônico, os judeus falavam o aramaico, e não mais o hebraico,
língua na qual foram escritas a lei e os profetas. Por essa razão, o povo
dependia inteiramente do ensino dos fariseus e escribas, os “doutores da lei”,
no tocante a qualquer conhecimento que quisessem ter da lei. Esses judeus davam
grande importância à tradição, referindo-se sempre aos seus antepassados. São
seis as declarações particulares que Jesus faz ilustrando a lei: a primeira diz
respeito ao mandamento "Não matarás" e a última se refere a amar ao
próximo e odiar ao inimigo. O desejo de Cristo era mostrar o verdadeiro sentido
e espírito da lei, corrigindo conclusões erradas que os escribas e fariseus
haviam extraído dela.
A outra afirmação que Jesus faz também seis
vezes é "eu, porém, lhes digo". É uma declaração crucial com
relação à doutrina da pessoa do Senhor Jesus, que tinha grande autoridade, pois
ele falava como Deus. Toda correção de foco encontrada no Sermão do Monte precisa ser
aceita como de autoria do próprio Filho de Deus, o qual estava presente quando
as leis foram entregues a Moisés, participando, portanto, da promulgação das
mesmas. O evangelho de Cristo não consiste em qualquer lei, e sim em algo que
nos transmite vida, estabelecendo determinados princípios e pedindo que os
apliquemos. O Cristianismo não consiste em um conjunto de regras fixas; ao contrário,
ele aplica os princípios centrais da fé cristã a cada situação.
Martim Lloyd-Jones aponta como princípios
básicos para a interpretação da lei os seguintes: a necessidade de nos atermos ao
seu espírito, e não meramente à letra; o fato de que o desejo
de se praticar o mal vem antes da ação; a oportunidade de encararmos a
lei de modo positivo e não negativo, praticando e amando o que é
direito, em vez de procurarmos a santificação de uma forma puramente mecânica,
seguindo um conjunto de regras; o reconhecimento da lei não como um molde
ao qual nos ajustarmos, mas uma oportunidade de conhecermos melhor a
Deus e um desafio de buscarmos a estatura de varão perfeito à luz da pessoa
viva de Cristo.
“Não pensem, nem por um instante, que eu
vim para anular as Escrituras, a Lei de Deus e os Profetas. Não estou aqui para
anular, mas para cumprir” (Bíblia Mensagem).