A identidade cristã nos dias atuais

quinta-feira, 27 de junho de 2019

3. HUMILDADE EM ESPÍRITO

“Bem-aventurados os humildes em espírito, pois deles é o Reino dos céus.” (Mateus 5.3)

“Quão pobres são aqueles que se consideram ricos! Quão ricos são aqueles que se veem pobres!” (Thomas Watson)
Toda escada começa pelo primeiro degrau e ele deve ser acessível a todos os que queiram subir. A escada das bem-aventuranças começa pelos “pobres em espírito”. Há uma sequência bem definida nas bem-aventuranças e a primeira delas abre a compreensão de tudo quanto vem a seguir. Ser pobre em espírito é característica fundamental do cidadão do Reino de Deus. Ela aponta para um esvaziamento, enquanto as demais bem-aventuranças apontam para uma plenitude. Se não for pobre em espírito, lágrimas, mansidão, fome e sede de justiça, misericórdia, pureza de coração, espírito de pacificador e perseguição por causa da justiça serão estágios muito difíceis de serem alcançados. O primeiro ponto de contato entre minha alma e Deus não é o que eu tenho, mas o que não tenho.
Pobres em espírito são aqueles que não exibem o orgulhoso espírito do mundo, são pobres somente por não dependerem das coisas materiais. A pobreza em Espírito aludida por Cristo contrasta diretamente com a impressão de confiança própria e de segurança em si mesmo mostrada pelo indivíduo no mundo, quando busca um emprego, por exemplo. Segundo Lloyd Douglas, referindo-se à letra de um hino de John Wesley, alguém teria levantado a seguinte questão: "Qual é o homem que, desejando uma colocação, um emprego, sonharia jamais em dirigir-se ao patrão a fim de dizer-lhe: 'Vil e pecaminoso eu sou?' Ridículo!" Não estamos aqui considerando um homem face a face com outro, mas homens frente a frente com Deus. Muitos fazem confusão ao compararem autoconfiança, auto segurança e auto expressão de um lado e a verdadeira personalidade de uma pessoa de outro lado. Espiritualmente, estamos dentro de um Reino diferente de tudo quanto pertence a este presente mundo mau. O pobre em espírito não é popular nem mesmo dentro da igreja, conforme acontecia antigamente.
Vejamos inicialmente os aspectos negativos da bem-aventurança: O que não é ser pobre em espírito? Em primeiro lugar, não quer dizer que o cristão deveria ser tímido ou retraído, fraco ou acovardado; lembre-se de que os humildes de espírito não nasceram assim. Em segundo lugar, o homem que realmente é pobre em espírito não precisa preocupar-se tanto com sua aparência pessoal e com a impressão que esteja causando aos outros; pelo contrário, ele sempre dará a impressão certa. Em terceiro lugar, ser pobre em espírito não exige a supressão da sua personalidade, pois trata-se de uma transformação que se verifica no âmbito espiritual. Finalmente, a humildade do Espírito também não reside na pouca erudição, no pouco conhecimento.
Vejamos agora os aspectos positivos: Isaías 57.15 afirma: “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo; habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde em espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito”. O próprio Isaías, tal como Gideão, Moisés e Davi tiveram atitudes dessa natureza. Pedro jamais deixou sua própria personalidade, mas, ao mesmo tempo, ele se tornou um homem pobre em espírito. Paulo, um homem de tremendas capacidades, apareceu após a conversão em fraqueza, temor e grande tremor. Jesus, ao encarnar, é o exemplo supremo da pobreza em espírito. Resumindo, essa qualidade representa uma completa ausência de orgulho pessoal, de segurança própria e de auto dependência diante de Deus. É a consciência de que nada somos diante dele e, portanto, nada podemos fazer por nós mesmos. Pobre em espírito não depende de seus dotes naturais que vêm do berço, não depende do dinheiro ou de riquezas, não depende da educação recebida, de dotes naturais de personalidade, de inteligência ou de habilidades gerais ou particulares. Não depende da própria moralidade, conduta ou bom comportamento. Sermos pobres em espírito é sentirmos que nada somos, que nada temos, e olharmos para Deus em total submissão a ele, dependendo inteiramente de sua misericórdia e de sua graça.
Na parábola, a pobreza de espírito do publicano era melhor que a plenitude da excelência externa do fariseu. A declaração de nosso Senhor “em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” é uma regra rígida, que exclui a todos, exceto aos pobres em espírito.
Afirma Spurgeon: “Pobres de espírito: as palavras soam como se descrevessem os donos de nada, mas descrevem os herdeiros de todas as coisas. Feliz pobreza!”