“Qualquer que
olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu
coração” (Mateus 5.28).
Esta
é a segunda ilustração que Jesus deixou acerca do ensino sobre a lei. Os dez
mandamentos devem ser entendidos como um todo, um conjunto indissolúvel, já que
o último se liga ao atual mandamento focalizado. O propósito inteiro da lei é
mostrar a extrema pecaminosidade do pecado, ou seja, a nossa propensão
para o mal, a origem de nossos atos: o homem interior. A tendência do homem
natural é ver o pecado como uma consequência natural da sua evolução, pois,
tendo evoluído do animal, segundo crê, ele está se desfazendo lentamente de sua
natureza animalesca. Não é esta, no entanto, a verdadeira doutrina bíblica do
pecado. O homem natural não entende por que Jesus morreu nem o verdadeiro
significado da cruz. A encarnação do Filho de Deus não seria necessária se o
ser humano não fosse pecador. "Não há justo, nem um sequer", afirmou
Paulo.
A
regeneração, o novo nascimento deve acontecer por causa do pecado humano e do
sacrifício de Cristo. Para aqueles que não entendem corretamente a doutrina do
pecado, a cruz e o novo nascimento não fazem sentido. Pouco se prega sobre o
pecado hoje. A rejeição do Evangelho leva o homem ao inferno e o próprio Jesus
alertou muitas vezes seus seguidores para a dificuldade que era o caminho
estreito e a porta apertada que conduzem à presença de Deus. O verdadeiro
evangelismo começa pela santidade de Deus, passa pela pecaminosidade do homem,
pelas exigências da lei, sua punição e pelas consequências da escolha humana. O
pecado não é exatamente o que eu faço, mas aquilo que me impulsiona a fazê-lo. É
como uma enfermidade, que nasce dentro do homem e se manifesta em sintomas, que
são as obras pecaminosas. Ele é sutil: acontece por procuração, através
de terceiros, com o nosso interesse em literaturas, reportagens e filmes que o abordem,
por exemplo; ele nos engana, levando-nos a pensar que somos filósofos ou
sociólogos querendo entender coisas escabrosas. O pecado é um fator de
perversão e ele torna nossos membros e instintos, criados por Deus de modo
perfeito, como nossos inimigos. Mãos, olhos e outros componentes corporais
nossos podem se tornar empecilhos para o nosso viver. O pecado a tudo distorce,
ele perverte o ser humano, transformando o bem que nele existe em mal, além de
destruí-lo, introduzindo a morte na vida do homem.
Há,
porém, uma maior profundidade na fala do Salvador quando ele sugere eliminar
algum membro do corpo para que o todo não seja lançado no inferno. O que Jesus
queria dizer era que, por mais importante que alguma coisa seja para uma
pessoa, se isso for servir de armadilha, fazendo-a tropeçar, seria preferível
desfazer-se dessa tal coisa. Precisamos lembrar a importância da alma e do seu
destino, eliminando qualquer adversário que se apresente no nosso caminho. Se
minhas faculdades, propensões e habilidades me conduzem ao pecado, então deverei
livrar-me delas. "Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro e perder
a sua alma?"
Se
reconhecêssemos o que os puritanos chamavam de "a praga dos nossos
próprios corações", isso nos ajudaria a buscar a santidade. O nosso coração deveria desconhecer a
amargura, a inveja, o ciúme, o ódio e o despeito, mas caracterizar-se sempre
pelo amor. Paulo afirmou que “se vivermos segundo a carne, caminhamos para a
morte; mas, se pelo Espírito mortificarmos os feitos do corpo, certamente
viveremos”. É preciso, portanto, que o corpo seja mantido em sujeição,
reduzido à escravidão, mortificando nossos membros.
Um
preço imenso teve de ser pago para que fôssemos libertados do pecado. Jesus
suou gotas de sangue no Jardim do Getsêmani, suportou toda agonia e todo
sofrimento e finalmente morreu na cruz pelo nosso pecado. Isaac Watts disse que
esse amor "requer a minha alma, a minha vida, o meu tudo". A
nossa santificação não pode ser buscada por nossas próprias forças, mas no
poder do Espírito. Aquilo que o autor chama de poluição do pecado", o que
faz com que, embora um homem não esteja praticando nenhum pecado num dado momento,
ele continue sendo pecador, precisa ser por nós reconhecido. Sem pecado,
poderemos ver a Deus face a face, estar de pé diante dele, sem qualquer culpa,
sem mancha nem motivo de reprimenda.