A identidade cristã nos dias atuais

terça-feira, 29 de outubro de 2019

17. ESCRIBAS, FARISEUS E O CRISTÃO


“Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus” (Mateus 5.20).

Jesus Cristo era uma pessoa incomum: não pertencia à ordem dos escribas e fariseus nem era doutor da lei oficialmente reconhecido. No entanto, ali estava ele, defronte de todos, sendo considerado como Mestre. O seu ensino não era incoerente com o que a lei e os profetas disseram; no entanto, era muito diferente do ensino dos escribas e fariseus. Mesmo a conduta de Jesus não era comum, pois ele buscava a companhia de pessoas desprezadas pelo povo, tornando-se “amigo de publicanos e pecadores”. Nos seus ensinos, incluía-se ainda algo estranhos aos judeus, que podemos definir como “doutrina da graça”. Tudo isso o distinguia no que dizia e fazia de tudo o que o povo já tinha ouvido, bem como explica por que sua mensagem era entendida de forma errada.
A lei de Deus pode ser entendida como dividida em duas partes: a primeira diz respeito à nossa relação com Deus ("Amarás o Senhor teu Deus de todo coração") e a segunda com o próximo ("Amarás ao teu próximo como a ti mesmo"). A primeira parte é a mais importante, é relacionamento espiritual, mas temos que considerar a segunda, do relacionamento humano, como decorrência da anterior, o que ressalta o valor de todos os aspectos da Lei de Deus. Jesus quis ensinar que cumpre a nós observar toda e qualquer porção da Lei, praticando e ensinando aos outros cada um dos seus preceitos.
Quem eram os escribas e fariseus, ou, generalizando-se a definição, os “doutores da lei”? Doutores da lei eram pessoas que dedicavam a própria vida a estudar a Lei, isto é, o Antigo Testamento, vindo a saber de cor os textos bíblicos. Seu estudo também incluía os pensamentos dos grandes rabinos. Em Lucas 11.52, Jesus os condena dizendo: “Ai de vós, doutores da lei, porque tomastes a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes os que queriam entrar”. Escriba era um copista, alguém que fazia cópias das Escrituras hebraicas. Fariseu era um membro do grupo religioso judaico surgido no século II a.C., que vivia na estrita observância das escrituras religiosas e da tradição oral. Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus critica a religiosidade do grupo ao inserir a oração arrogante feita pelo fariseu. Resumindo, escribas e fariseus eram pessoas de grande conhecimento e vivência com a Lei.  
Jesus faz duas acusações à religiosidade dos escribas e fariseus. Em primeiro lugar, acusa-os de terem uma religião inteiramente externa, formal, em vez de uma religião que partisse do coração. Eram os “sepulcros caiados” mencionados por Jesus, que mantinham a aparência de religiosidade em vez de buscarem um real relacionamento com Deus. Em segundo lugar, eles preocupavam-se mais com os aspectos cerimoniais do que com as realidades morais da lei. A devoção deles consistia em regras e normas ditadas por homens, com base em certas concessões que o farisaísmo havia feito entre si, mas que, na realidade, violavam a lei que diziam observar. O objetivo final dos fariseus não era o de glorificarem a Deus, mas a si mesmos. A grande falha dos fariseus é que eles se interessavam pelos detalhes e não pelos princípios básicos, fixavam-se mais nas ações e não nos motivos, valorizavam o fazer, não o ser. "Não há justo, nem sequer um": a lei, dada por Deus a Moisés, condena o mundo inteiro, para que se cale toda a boca, a fim de que todo mundo seja culpável perante Deus, pois todos necessitam da sua glória.
Fariseus e escribas foram denunciados por Jesus como indivíduos inconscientemente hipócritas, pensando que tudo ia bem com eles, quando na verdade estavam presos à letra da Lei, modificada através dos tempos, e deixando de lado o verdadeiro espírito que a havia motivado. Escribas, fariseus e o cristão: existe a possibilidade de dependermos de coisas distorcidas e descansarmos sobre coisas que apenas vagamente dizem respeito à verdadeira adoração, em vez de assumirmos uma posição de autênticos adoradores nos dias de hoje. No entanto, o que o homem faz quando está sozinho, isso é o que tem real importância. Os pensamentos que se agitam em nosso interior e que se ocultam do mundo exterior porque temos vergonha deles proclamam o que nós realmente somos. Que cada um de nós seja sincero diante de Deus, sem falsa religiosidade, mas buscando fazer a luz do evangelho brilhar diante dos homens, para que os homens vejam as nossas boas obras, mas glorifiquem ao Pai, que está nos céus.