“Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for
muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no
Reino dos céus” (Mateus 5.20).
Jesus Cristo era uma pessoa incomum: não pertencia à ordem dos escribas e fariseus nem era doutor da lei oficialmente reconhecido. No entanto, ali estava ele, defronte de todos, sendo considerado como Mestre. O seu ensino não era incoerente com o que a lei e os profetas disseram; no entanto, era muito diferente do ensino dos escribas e fariseus. Mesmo a conduta de Jesus não era comum, pois ele buscava a companhia de pessoas desprezadas pelo povo, tornando-se “amigo de publicanos e pecadores”. Nos seus ensinos, incluía-se ainda algo estranhos aos judeus, que podemos definir como “doutrina da graça”. Tudo isso o distinguia no que dizia e fazia de tudo o que o povo já tinha ouvido, bem como explica por que sua mensagem era entendida de forma errada.
A
lei de Deus pode ser entendida como dividida em duas partes: a primeira diz
respeito à nossa relação com Deus ("Amarás o Senhor teu Deus de todo
coração") e a segunda com o próximo ("Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo"). A primeira parte é a mais importante, é relacionamento
espiritual, mas temos que considerar a segunda, do relacionamento humano, como
decorrência da anterior, o que ressalta o valor de todos os aspectos da Lei de
Deus. Jesus quis ensinar que cumpre a nós observar toda e qualquer porção da
Lei, praticando e ensinando aos outros cada um dos seus preceitos.
Quem
eram os escribas e fariseus, ou, generalizando-se a definição, os “doutores da
lei”? Doutores da lei eram pessoas que dedicavam a
própria vida a estudar a Lei, isto é, o Antigo Testamento, vindo a saber de cor
os textos bíblicos. Seu estudo também incluía os pensamentos dos grandes
rabinos. Em Lucas 11.52, Jesus os condena dizendo: “Ai de vós, doutores da
lei, porque tomastes a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes
os que queriam entrar”. Escriba era um
copista, alguém
que fazia cópias das Escrituras hebraicas. Fariseu era um membro do grupo religioso judaico
surgido no século II a.C., que vivia na estrita observância das escrituras
religiosas e da tradição oral. Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus
critica a religiosidade do grupo ao inserir a oração arrogante feita pelo
fariseu. Resumindo, escribas e fariseus eram pessoas de grande conhecimento e
vivência com a Lei.
Jesus
faz duas acusações à religiosidade dos escribas e fariseus. Em primeiro lugar,
acusa-os de terem uma religião inteiramente externa, formal, em vez de uma religião
que partisse do coração. Eram os “sepulcros caiados” mencionados por Jesus, que
mantinham a aparência de religiosidade em vez de buscarem um real
relacionamento com Deus. Em segundo lugar, eles preocupavam-se mais com os
aspectos cerimoniais do que com as realidades morais da lei. A devoção deles
consistia em regras e normas ditadas por homens, com base em certas concessões
que o farisaísmo havia feito entre si, mas que, na realidade, violavam a lei
que diziam observar. O objetivo final dos fariseus não era o de glorificarem a
Deus, mas a si mesmos. A grande falha dos fariseus é que eles se interessavam
pelos detalhes e não pelos princípios básicos, fixavam-se mais nas
ações e não nos motivos, valorizavam o fazer, não o ser.
"Não há justo, nem sequer um": a lei, dada por Deus a Moisés,
condena o mundo inteiro, para que se cale toda a boca, a fim de que todo mundo
seja culpável perante Deus, pois todos necessitam da sua glória.
Fariseus
e escribas foram denunciados por Jesus como indivíduos inconscientemente hipócritas,
pensando que tudo ia bem com eles, quando na verdade estavam presos à letra da
Lei, modificada através dos tempos, e deixando de lado o verdadeiro espírito
que a havia motivado. Escribas, fariseus e o cristão: existe a possibilidade de
dependermos de coisas distorcidas e descansarmos sobre coisas que apenas vagamente
dizem respeito à verdadeira adoração, em vez de assumirmos uma posição de
autênticos adoradores nos dias de hoje. No entanto, o que o homem faz quando
está sozinho, isso é o que tem real importância. Os pensamentos que se agitam
em nosso interior e que se ocultam do mundo exterior porque temos vergonha deles
proclamam o que nós realmente somos. Que cada um de nós seja sincero diante de
Deus, sem falsa religiosidade, mas buscando fazer a luz do evangelho brilhar
diante dos homens, para que os homens vejam as nossas boas obras, mas
glorifiquem ao Pai, que está nos céus.