“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus” (Mateus
5: 9).
“Nada existe, em toda a dimensão das
Escrituras, que nos teste, perscrute e humilhe de tal maneira como estas
bem-aventuranças” (Martin Lloyd-Jones).
O incrédulo jamais virá a entender a vida cristã autêntica. Ao
encarnar, Cristo estava estabelecendo um Reino inteiramente novo e diferente, e
somente o indivíduo espiritualmente renovado pode viver essa nova vida
requerida aos súditos do Reino. Os judeus, incluindo João Batista, esperavam um
reino material, tanto é que, após a multiplicação dos pães, reconhecendo nele o
Messias, queriam proclamá-lo Rei. No entanto, o Messias havia vindo para
promover a paz, não para levá-los à guerra.
Por que os pacificadores são bem-aventurados? Por serem
absolutamente diferentes de todas as outras pessoas. Por que há tantas guerras
no mundo, em constante tensão internacional? Somente por causa do pecado. Todas
as nossas dificuldades provêm das nossas concupiscências, egoísmo e cobiça. Enquanto
o coração do homem não for transformado, jamais o problema seja solucionado. O
drama, porém, é que esse mal não está somente no mundo, mas também na igreja.
Ao depositar fé nas organizações humanas e crer que o homem será capaz de
solucionar seus problemas, o cristão estará se desviando das Escrituras para soluções e
ideologias humanas, que apenas promovem um ufanismo vazio. Se enxergarmos este
mundo moderno através de um olhar neotestamentário, começaremos a entender melhor
as coisas.
A grande necessidade do mundo moderno é de um bom número de
pacificadores. O que é um pacificador? Não deve ser apenas um apaziguador
conforme o mundo entende, mas uma pessoa que deseja a paz e está disposta a
fazer tudo para que ela seja instaurada e mantida; que se preocupa com o fato
de que todos os homens devem estar em paz com Deus. Buscando passivamente a paz,
o pacificador procura ativamente não provocar conflitos, tudo fazendo para
estabelecer a concórdia. Isto exige uma nova natureza no ser humano, um novo
coração limpo do pecado. Ele terá de ser liberto do próprio “eu”, pois, ao
pensar defensivamente em si próprio, o cristão não poderá agir devidamente com
um pacificador. Exige-se, portanto, do pacificador, uma neutralidade ao
reaproximar os dois lados que estão se desentendendo. Cada indivíduo envolvido
em um conflito olha para questão de um ponto de vista egocêntrico, mas o
pacificador não pode agir assim.
No cristão convivem o velho e o novo homem. O velho homem deve ser
anulado, para que o novo homem possa desenvolver uma nova visão de seus
semelhantes. Sem recriminar a cada um pessoalmente, o cristão entende a atitude
errada das pessoas como o domínio do deus deste mundo sobre elas, competindo a
ele ter piedade e misericórdia delas. O pacificador deve desenvolver também uma
visão inteiramente nova do próprio mundo como um todo, pois seu grande objetivo
é a glória de Deus entre os homens. Ele se deixa até humilhar para que a glória
de Deus seja promovida.
O pacificador não deve ficar ocupando-se apenas da teoria, mas
partir para a prática. Em primeiro lugar, ele precisa aprender o que falar e o
que calar, controlando sua língua. Como afirma Tiago, ele deve ser pronto para
ouvir e tardio para falar e para se irar. Não repita informações com ideias
grosseiras e indignas que você sabe que podem prejudicar a outrem. O que
aconteceria se todas as pessoas dissessem tudo o que pensam? Portanto, uma das
primeiras coisas a fazer quando se quer estabelecer a paz é saber quando se
calar. Sempre devemos encarar toda e qualquer situação à luz do Evangelho.
O
próximo passo é tomar a iniciativa de procurar meios para aliviar a aflição do
seu inimigo, tornando-se positivo e ativo na busca pela paz. Se não pensarmos
em nós mesmos sob hipótese nenhuma, as pessoas ao nosso redor perceberão que
poderão se aproximar, sendo recebidas com empatia e compreensão. Tudo isso significa
que o pacificador é filho de Deus e que se assemelha a seu Pai Celeste.
Adoramos a um Deus de paz que, para restabelecer a paz com o ser humano, enviou
seu Filho ao mundo. Se Deus tivesse insistido em defender seus direitos e sua
dignidade, toda a humanidade estaria consignada à perdição eterna. Jesus foi
chamado de “Príncipe da Paz” pois, embora tivesse deixado sua posição celestial,
a si mesmo se humilhou e veio deliberadamente a este mundo sofrer por cada um
de nós.
Sejamos aquele tipo empático de pessoa de quem,
mesmo aqueles que porventura carregarem espírito de amargor contra nós, possam se
aproximar percebendo o seu erro e então se sintam levados a falar sobre os
problemas que os afligem. Promovamos a paz como autênticos filhos do “Deus da paz".