“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês
vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês
os reconhecerão por seus frutos”
(Mateus 7.15-16a).
Como
identificar a verdadeira profecia da falsa? Os "falsos profetas” não são
apenas os heréticos. Pedro alerta para a sutileza da mensagem de falsos
mestres, que introduziriam heresias destruidoras, negando o Salvador que os
havia resgatado. A camuflagem do lobo em pele de cordeiro lembra esse
perigo.
O
falso profeta é um indivíduo gentil, agradável e atencioso, de ensino
aparentemente equilibrado e usando um vocabulário cristão. Na falsa profecia,
não há alusão a porta estreita ou caminho apertado, estando a sutileza
mais no que não se diz do que no que se declara. Não se apresenta
nada de realmente ofensivo para o homem natural, uma mensagem que agrade a
todos, elogiada por liberais, modernistas, evangélicos e todos os demais. O
discurso é sempre vago e genérico, nunca particularizando doutrinas: santidade,
retidão, justiça e ira de Deus são assuntos evitados, prevalecendo a ideia do
amor divino. Ocultar a verdade é tão repreensível e condenável quanto proclamar
uma total heresia. A total pecaminosidade do pecado e a completa incapacidade
do ser humano de salvar-se a si mesmo nunca são lembrados. Os falsos profetas
referem-se à cruz mencionando superficialmente pessoas que a circundavam, numa
abordagem sentimental, mas desconhecendo inteiramente o que Paulo chamou de
"escândalo da cruz”. Não se enfatiza o arrependimento, mas cria-se a
ilusão de uma estrada larga que conduz ao céu: basta ao indivíduo
decidir-se por Cristo e então misturar-se à multidão. A santidade tem sido
reduzida a algo fácil, seduzindo as pessoas, não se incentivando um auto-exame.
“Pelos seus frutos vocês os reconhecerão”. Árvore má não significa estragada, pois, se assim o
fosse, não produziria fruto nenhum. Fruto mau não indica podridão, mas qualidade
deficiente, produto que não pode ser utilizado. Jesus chamava a atenção
para o perigo de nos deixamos enganar pelas aparências de alguém que apenas se
assemelha a cristão. Existe uma ligação indissolúvel entre a crença e a vida:
tal como o homem pensa, assim ele age. Inevitavelmente, proclamamos aquilo que
somos e aquilo em que acreditamos. Os puritanos chamavam de "crentes
temporários" aqueles que davam aparência de regeneração e conversão
durante algum tempo. O indivíduo apenas superficialmente lavado pode dar a
impressão de ser verdadeiro cristão, mas sua natureza íntima inevitavelmente
acabará se manifestando externamente: o cão volta ao próprio vômito e a porca
ao lamaçal.
Abordando
a natureza ou o caráter do bom fruto, deveríamos nos preocupar acerca do estado
da própria igreja, mais do que do estado do mundo lá fora. É possível
encontrarmos uma pessoa boa, ética e moral, com elevadíssimos códigos e padrões
de vida pessoal, "um bom ímpio”, parecendo cristão, mas não o sendo. Já se
disse que parece haver melhores crentes fora da igreja do que dentro dela,
significando que podem ser encontradas pessoas com excelente moralidade no
mundo. Filósofos gregos do paganismo pregaram seus princípios morais antes do
nascimento de Cristo, mas tornaram-se oponentes do evangelho, considerando a
pregação da cruz uma loucura. Justiça humana não passa de trapos imundos aos
olhos de Deus. Somente aquilo que resulta do caráter verdadeiramente cristão,
da nova natureza, é que se reveste de qualquer valor aos olhos de Deus. O
cristão deve ser exemplo das bem-aventuranças, pois o indivíduo que possui em
seu interior a natureza divina, necessariamente produz bons frutos, os quais
estão nelas descritos. Esse teste exclui os "bons ímpios", os
"falsos profetas" e os "crentes temporários". O fruto que
se forma em nós e que deve ser procurado na vida do cristão consiste em
amor, paz, alegria, longanimidade, gentileza, bondade, mansidão, controle
próprio e fé. Manifestar esse fruto do Espírito afeta o homem integralmente, seu
traje e comportamento, sendo Deus sua única preocupação, bem como seu
relacionamento com ele e com sua verdade.
Deus
é o juiz e nunca se deixa enganar: toda árvore que não produz bons frutos é
cortada e lançada ao fogo. Busquemos ter certeza de possuirmos a natureza
divina, de que somos participantes dela, de que a nossa árvore é boa e por
isso, o fruto dela também necessariamente tem que ser bom.
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