A identidade cristã nos dias atuais

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

23. AMOR AO INIMIGO

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos...” 
(Mateus 5. 43-44a).

Amar, bendizer, fazer bem, orar: quatro ações que normalmente praticamos, ou pelo menos deveríamos praticar, por nossos cônjuges, amigos, parentes, irmãos da igreja, pessoas caras a nós. No entanto, amar os inimigos, bendizer a quem nos maldiz, fazer bem aos que nos odeiam e orar por quem nos maltrata e persegue é algo que ultrapassa o chamado bom senso do homem natural. A sexta ilustração de Jesus para com cumprimento da lei é, sem dúvida, a mais difícil de ser praticada.
Escribas e fariseus diziam: "Amem o seu próximo e odeiem o seu inimigo", algo muito mais facilmente executável do que o que Jesus propôs. Nada há, porém, no Antigo Testamento que dê respaldo a essa interpretação. Para eles, o próximo era apenas outro israelita. Quem não fosse judeu, deveria ser odiado, atitude, aliás, comum a todos os povos a eles contemporâneos. Embora não encontrado explicitamente no Velho Testamento, tal ódio pode ter sido motivado pela ordem de Deus dada ao povo para exterminar os povos da terra na conquista de Canaã. Havia também a influência dos chamados Salmos imprecatórios, nos quais certas maldições são rogadas contra determinadas pessoas. Tais textos têm que ser entendidos como fazendo parte de um contexto definido.
Qual seria a única força que pode capacitar um homem a não revidar, a voltar a outra face, a caminhar a segunda milha, a dar tanto a capa quanto a túnica quando a última está sendo arrancada à força e a ajudar outras pessoas que estejam padecendo necessidade? A força vital necessária para tanto é o novo nascimento; é preciso que esse homem tenha morrido para si mesmo, para seus próprios interesses e suas próprias preocupações, tenha nascido de novo. Na interpretação de Cristo, o próximo inclui até os nossos inimigos. Há pessoas más, iniquas e injustas, mas Deus envia-lhes a chuva e ordena que o sol brilhe sobre elas, experimentando essas pessoas aquilo que se convencionou chamar de "graça comum". O amor de Deus não depende de qualquer coisa que exista no homem, mas se manifesta apesar do homem. Esse amor desinteressado deveria ser também nosso. Sendo um novo homem, uma nova criatura, uma nova criação, devemos ver todas as coisas de uma perspectiva diferente e reagir de modo diferente. No entanto, as nossas ações não devem ter por objetivo tentar transformar os inimigos em amigos por elas lhes favorecerem.
São três os exemplos claros deixados por Jesus de amor aos inimigos. O primeiro deles é bendizer aos que nos maldizem, ou seja, responder com palavras gentis as palavras amargas, duras e grosseiras a nós dirigidas. Fazer bem aos que nos odeiam já implica em desenvolvermos atos de benevolência em troca de atos maldosos. Orar pelos que nos maltratam e nos perseguem diz respeito a nos ajoelharmos e intercedermos junto a Deus, pedindo perdão por malfeitores que não sabem o que fazem. Segundo o pastor Martin Jones, é possível amar sem gostar, pois "Deus nos ordena que amemos a uma pessoa e a tratemos como se gostássemos dela", seja ela judia ou samaritana. Os seguidores de Cristo souberam pôr isso em prática. Paulo ensinou: "Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber..." Estevão orou de modo semelhante a Cristo quando estava sendo apedrejado.
Este ensinamento destina-se a cada um de nós e a Bíblia nos autoriza a dizer que podemos ter esta atitude se formos capacitados pelo Espírito Santo. Se todos os cristãos do mundo estivessem amando com essa pureza e intensidade, o reavivamento no meio cristão não demoraria muito a acontecer e poderia fazer muita diferença para o mundo inteiro.