A identidade cristã nos dias atuais

sexta-feira, 15 de maio de 2020

ÍNDICE

Por que foi criado este “blog”?
1. O que é ser cristão?
2. Bem-aventuranças
3. Humildade em espírito
4. Choro
5. Mansidão
6. Fome e sede de justiça
7.  Misericórdia
8.  Limpeza de coração
9.  Pacificação
10. Perseguição por causa da justiça
11. Regozijo na tribulação
12. Sal da terra
13. Luz do mundo
14. Sal e luz
15. A letra e o espírito
16. Cristo e o Antigo Testamento
17. Escribas, fariseus e o cristão
18. Como lidar com a ira
19. O adultério
20. O divórcio
21. Juramentos
22. Retaliação
23. Amor ao inimigo
24. O que você faz de mais?
25. Obras de justiça
26. Oração
27. O “Pai Nosso” como adoração
28. O “Pai Nosso” como petição
29. O jejum
30. Tesouros da terra e dos céus
31. Deus ou as riquezas
32. Duplo senhorio?
33. Ansiedade
34. Aves e flores
35. Causa e cura da preocupação
36. Pequena fé e como ampliá-la
37. Julgamentos
38. Obstáculos à boa visão
39. Juízo espiritual e discriminação
40. Buscando e encontrando
41. A regra áurea
42. Estreita a porta, apertado o caminho
43. Frutos revelando falsas profecias
44. Falsa paz
45. Pseudocristianismo
46. Dois homens, duas casas
47. Rocha ou areia?
48. Subindo o monte do Sermão
49. Avaliação: provas e testes da fé
50.Conclusão 
Palavra Final


O primeiro texto deste blog foi divulgado no dia 14/06/2019; não faz um ano, portanto, até que ele fosse concluído na data de hoje, 14/05/2020. Em menos de um ano, quanta coisa mudou! Embora as circunstâncias tenham mudado (e como!), o evangelho de Cristo não muda”, foi uma frase por nós escrita no primeiro texto desta série de publicações. Será que é preciso dizer mais? Em menos de um ano, estamos convivendo hoje com a pandemia do “Corona Vírus 19”, algo que mudou e paralisou o mundo todo, com ameaças de infecção e morte de muita gente, obrigando o ser humano a refletir sobre a própria vida e a efemeridade da existência humana. Deus não precisou de muita coisa para fazer a humanidade paralisar suas atividades e notar que algo não vai bem neste mundo por Ele criado: bastou um micro-organismo, invisível a olho nu.

Deus está alertando toda a população mundial (inclusive nós, seus filhos) para a necessidade de um autoexame como indivíduos e de um macroexame como sociedade. A Igreja paralisou seus cultos presenciais e passou a fazê-los virtualmente, com a utilização dos avanços tecnológicos ao alcance de cada um. Aleluia pela participação dos irmãos neste sentido. No entanto, nós, cristãos do século XXI, estamos sendo chamados por Deus para uma avaliação do nosso Cristianismo, da nossa identidade cristã: como estamos vivendo hoje o nosso relacionamento com Deus, com o próximo e com as pessoas do mundo de modo geral? Será que estamos seguindo os ensinamentos bíblicos? Será que as características descritas no Sermão do Monte estão sendo por nós buscadas? Já somos bem-aventurados nas qualidades indicadas por Cristo Jesus? Somos sal e luz para um mundo em putrefação e nas trevas? Amamos a nosso próximo como a nós mesmos? E os inimigos: estamos amando, fazendo o bem, abençoando e mesmo orando pelos que nos perseguem, segundo registrou Lucas? Buscamos obedecer à Lei de Deus no seu espírito, ou nos atemos apenas à dureza da letra? Finalmente, como homem prudente, estamos construindo nossa casa espiritual sobre a Rocha que é Cristo, ou sobre a areia da efemeridade das coisas mundanas?

Finalmente, gostaríamos de agradecer: primeiramente a Deus, pela oportunidade de criação deste blog e compartilhamento desta mensagem; em segundo lugar ao pastor Daniel Carmona, líder espiritual da Igreja Batista em Valinhos, no estado de São Paulo, pelo desafio do trabalho do discipulado, motivador desta obra. Gostaríamos também de agradecer ao irmão Sérgio Geraldo dos Santos, por ter pacientemente estudado os textos semanalmente conosco, visando a torná-los suficientemente claros para quem por eles for alcançado. Juntos, subimos o Monte do Sermão.

A Deus, toda a honra e toda a glória.

   Prof. Ricardo Simões Rocha   


quinta-feira, 14 de maio de 2020

50. CONCLUSÃO


“Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu ensino, porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da lei” (Mateus 7.28-29).

Há vinte séculos, os ensinos de Cristo no Sermão do Monte provocaram os efeitos registrados no texto acima: multidões maravilhadas com a autoridade com que Cristo se expressava. A partir de agora, o foco do texto deixa de ser o sermão e é transferido para o Pregador. Parece que o auditório original do Sermão do Monte reagiu melhor à sua pregação do que os leitores do mesmo texto nos dias hoje, dois mil anos após ter sido ela proferida.
A autoridade do Sermão do Monte está na pessoa do Pregador, Jesus Cristo, o próprio Filho de Deus encarnado. A perfeita estrutura do sermão, a beleza da expressão, os impressionantes quadros ilustrativos são admiráveis, mas acima de tudo sobressai a autoridade de quem pregou. Jesus ensinava as multidões com conhecimento e autoridade, e não como escribas, fariseus e doutores da lei. Autoridade, confiança e segurança naquilo que dizia faziam de Jesus um mestre admirável que surpreendeu seu auditório até o fim. Ele apresentou-se diante de seus ouvintes como o único verdadeiro intérprete da lei. Ao incluir a sua pessoa no texto do ensino, Jesus não fez no Sermão apenas referências indiretas, mas também alusões diretas, quando disse, por exemplo: "Vocês são bem aventurados quando, por minha causa, forem injuriados, perseguidos..." Pelas Escrituras, sabemos que aquele que estava sentado no monte ensinando o povo é o mesmo que no fim haverá de assentar-se no trono da sua glória, quando todas as nações tiverem de comparecer diante dele para ouvir o seu julgamento.
As multidões que ouviram ao Senhor Jesus ficaram maravilhadas com sua doutrina. O texto não esclarece nada além disso; não sabemos se muitos o seguiram ou o que aconteceu depois disso. Existem hoje pessoas que nem ao menos ficam admiradas diante do Sermão do Monte. Cristo não veio simplesmente para nos transmitir uma lei mais recente, nem estava dizendo aos homens como deveriam viver. O Sermão do Monte é muito mais difícil de ser posto em prática que a própria legislação mosaica, não tendo existido até hoje qualquer ser humano capaz de a observar por inteiro. No sermão, Jesus condenou qualquer confiança em nossos esforços próprios para a obtenção da salvação; ele ensinou que precisamos de algo novo: renascimento, natureza e vida.
O objetivo de Cristo neste Sermão é o de levar o povo evangélico a perceber sua natureza ou caráter como um povo e mostrar-lhes como aplicar esses conhecimentos na vida diária. O Reino que Cristo veio estabelecer é totalmente diferente de qualquer outro que o mundo já tinha visto antes, um Reino de luz, dos céus, o Reino de Deus. O sermão começa com as bem-aventuranças, as características que o cidadão do Reino de Deus deve possuir. Ao nos apropriarmos das bem-aventuranças, tornamo-nos sal e luz para um mundo que se putrefaz e jaz em trevas. Os ouvintes haviam ouvido o que Moisés havia recebido como texto legal da própria trindade divina, deturpado pelos doutores da lei; Cristo veio para ensinar o verdadeiro espírito que havia além da dura letra da lei. A falsa profecia, a árvore dos maus frutos e a construção da casa sobre a areia servem de alerta final e de testes da fé.
À medida que subimos o Monte do Sermão, vamos podendo descortinar cenários mais amplos na caminhada da vida cristã. Começando com as bem-aventuranças como primeiro degrau, até a opção entre rocha ou areia, em um lugar mais alto no monte, o cristão tem a oportunidade de conhecer melhor os desafios da sua caminhada rumo à santificação. Não é fácil viver neste mundo mesmo com a presença de Deus na vida. “Diz o tolo em seu coração: ‘Deus não existe!’”, afirma o salmista, denotando que a vida sem ele e mesmo a negação da sua existência é loucura. O ser humano precisa preencher o seu vazio existencial e o único ser que pode ocupar todo o espaço de forma satisfatória é Deus. Precisamos conhecê-lo, amá-lo, temê-lo e viver seus ensinos, tão bem expostos no Sermão do Monte. 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

49. AVALIAÇÃO: PROVAS E TESTES DA FÉ


“Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7.21).

Os dois versos abaixo são importantes e precisam ser lembrados; Jesus disse e João anotou: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. Amar no contexto cristão não é mero sentimentalismo, mas aprendizagem e prática de princípios.
O homem prudente que construiu sobre a rocha é aquele que, tendo ouvido os ensinamentos de Cristo, cumpre-os. Larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição é um conceito sempre presente nos ensinamentos de Cristo. Um dia, quando as duas casas forem testadas, uma delas haverá de cair, sendo grande a sua ruína. A religião falsa, além de errada, é inútil, não conduz a nada, podendo dar satisfação temporária, mas não resiste aos testes reais. O caminho espaçoso, a árvore má e a casa sobre a areia não resistem aos testes de qualidade. Tolo é o homem que vive e confia em meras coisas incapazes de ajudá-lo no momento de aflição. O ensinamento não só se aplica à vida neste mundo, mas também extrapola para o que acontecerá após a morte e o além-túmulo. 
A chuva cai individualmente sobre justos e injustos; ela pode representar na parábola enfermidades, perdas ou desapontamentos, algo que sai errado em nossas vidas. A enchente pode representar o mundo e sua influência, o mundanismo que, em sua sutileza, penetra em tudo e por toda a parte. Pode representar também perseguições. O vento talvez apresente os ataques de Satanás que, em sua característica multiforme, ataca direta ou indiretamente, citando as Escrituras ou com pensamentos imundos, lançando dúvidas e negações contra nós. Grandes líderes cristãos do passado sofreram com isso e no presente o processo continua. Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do mal nas regiões celestes. Como acontecimento final, além de ventos, chuvas e inundações, enfrentaremos a morte. Nada existe que sonde tão profundamente um ser humano em relação aos alicerces, quanto o fato da morte.
“Considere o íntegro, observe o justo; há futuro para o homem de paz”, afirmou o salmista. O homem sensato, que construiu sobre a rocha, concorda com Paulo quando o apóstolo afirma que “os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles”. O pseudo crente descobre que, quando precisa de ajuda, o que ele considerava sua fé de nada lhe valerá. Dedicar-se à tarefa de viver o Sermão do Monte é o segredo do homem perfeito, justo, bom e crente em Jesus. Depois da morte, temos que considerar o dia do julgamento final. Todos os seres humanos haverão de ser julgados pelo Senhor. Tudo será levantado e alegações de grandes coisas teoricamente feitas em nome de Deus não serão levadas em conta. Não haverá segunda oportunidade ou apelação da sentença. 
Por isso, viver aqui na terra desfrutando de paz, certeza e segurança depende da edificação sobre a rocha. Talvez não exista nada mais perigoso para uma correta vida cristã do que uma vida devocional mecânica. A leitura da Bíblia deve ser feita porque Deus fala com você através dela, mas, após a mera leitura, a meditação e a colocação em prática da mensagem precisam ser feitas. Teste a si mesmo por meio do Sermão do Monte. Não dependa de suas próprias atividades, achando que, por ser ativo no trabalho cristão, deve estar tudo certo. Teremos que nos defrontar com o Senhor face a face, e essa realidade deve ocupar o centro da nossa vida.

48. SUBINDO O MONTE DO SERMÃO


Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha... e ela caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus 7.25 e 27b).

Estamos alcançando o final dos ensinos de Cristo sobre a vida cristã. Diante do monte do Sermão, podemos subi-lo passo a passo, enfrentando as dificuldades da caminhada, ou ficarmos embaixo, apenas admirando a paisagem. Nosso desafio tem sido enfrentarmos a subida.
Na parábola das duas casas, o tolo não acredita que deva consultar arquiteto ou cuidar de planos e especificações para a construção. No paralelo com o pseudocristão, este não se dá ao trabalho de estudar a Palavra do Senhor e conhecer a sua mensagem completa. Ao contrário, escolhe o que mais aprecia e concentra-se na doutrina do amor e do perdão de Deus, por exemplo, deixando de lado a sua justiça. Santidade é uma doutrina desagradável, preferindo ele mensagens que denotem sentimento de consolo, de felicidade, de alegria e de paz interior. Se não estamos lendo a Palavra de Deus de maneira a sermos sondados e confrontados por ela, não a estamos usando corretamente. A Bíblia traz uma tremenda exposição dos efeitos do pecado, para nos ensinar que em nosso interior existe algo que pode nos arrastar para baixo e que, por natureza, somos falsos, imundos e vis. Isto não agrada o pseudocristão. Nascemos em iniquidade e em pecado fomos concebidos, conforme nos diz o salmista. Sem o novo nascimento e uma nova natureza, estamos fora do Reino de Deus, pois todos os seres humanos estão no caminho largo e precisam fazer a opção pela porta estreita e pelo caminho apertado para serem salvos.
Tiago afirmou em sua epístola que a fé sem obras é morta. Ela se manifesta na vida da pessoa, de maneira geral, por meio daquilo que ela diz e faz; ela transparece por meio da personalidade inteira do indivíduo. Como posso saber se sou um homem prudente ou insensato? O Sermão do Monte é um bom teste: se você fica ressentido diante dele, não querendo ouvi-lo quando pregado, você deve ser insensato. O falso crente fica impaciente diante do Sermão do Monte, porque não quer ser examinado, sondado, sentindo-se intranquilo com sua mensagem. Nossas respostas instintivas e reações imediatas demonstram o que realmente somos, levando-nos a pensar uma segunda vez acerca de alguma atitude e a nos tornar mais resguardados e cuidadosos com nossas respostas. Por isso, nossas reações imediatas diante do Sermão do Monte demonstram se somos ou não cristãos autênticos. Além disso, crentes nominais são levados a esquecer rapidamente tudo o que ouviram, chegando alguns mesmo a elogiar alguns preceitos do Sermão do Monte sem jamais colocá-los em prática.
O autêntico cristão não faz restrição à benéfica sondagem que o Sermão do Monte faz em sua vida, embora isso possa vir a lhe causar constrangimento e sensação desconfortável. Ele se sente cada vez menor, à medida que sobe o Monte do Sermão, precisando sacrificar a cada dia o seu próprio “eu”.  Ele se humilha diante da Palavra de Deus e concorda com o que a Bíblia diz sobre sua vida. Ele admite e confessa o seu total fracasso e a sua completa indignidade. Ele aceita plenamente os ensinos e a interpretação de Cristo acerca da lei, focalizando-se no seu espírito e não na sua letra. É, enfim, o homem sensato que constrói sua casa sobre a rocha. Jamais conseguiremos chegar à santidade completa neste mundo, mas o nosso desejo e esforço devem ter esse objetivo.
“A vereda do justo é como a luz da alvorada, que brilha cada vez mais até a plena claridade do dia”, conforme escreveu Salomão em um de seus provérbios. A luz do amanhecer não aparece de repente, mas pouco a pouco, brilhando cada vez mais. Pleno meio dia, sol a pino, somente na eternidade com Deus. Devemos, no entanto, fazer a luz do evangelho brilhar cada vez mais, para que as pessoas vejam nossas boas obras, resultado da nossa fé, e glorifiquem a Deus, nosso Pai, que está nos céus.  

47. ROCHA OU AREIA?


“Eis que ponho em Sião uma pedra, uma pedra já experimentada, uma preciosa pedra angular para alicerce seguro; aquele que confia, jamais será abalado”
(Isaias 28.16).

Todas as áreas da atividade humana são mutáveis e evoluem com o tempo; assim também é a construção. Na arquitetura antiga, quando as construções eram feitas de pedras, uma pedra muito forte, cuidadosamente selecionada na pedreira e talhada no tamanho e formato corretos, era utilizada como “pedra angular de esquina”. Esta pedra receberia o maior peso do edifício e iria sustentá-lo, direcionando ângulos, paredes e muros. No Sermão do Monte, há um contraste entre a atitude do homem prudente e a do homem insensato com relação aos ensinamentos de Jesus, sobre a absoluta necessidade de colocar em prática os ensinamentos da Palavra de Deus. O contraste é entre o “ouvir” e o “fazer”. Apenas professar a fé sem mudar o modo de viver não é ser cristão. Nas palavras de Paulo, “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”.
Jesus descreve a pessoa que ouve as suas palavras e as põe em prática como um homem sábio ou prudente. O homem prudente tem um comportamento equilibrado, sabe o que quer e o que está fazendo; segue sua vida com equilíbrio racional. Ele não age induzido por meras emoções, mas prefere as coisas consistentes; é moderado, cauteloso e sensato. Ele é sábio porque constrói sua vida sobre fundamento firme. Mesmo enfrentando tempestades, ele não perde a confiança na rocha onde construiu sua casa. É preciso aprender a “ouvir a palavra de Deus e a praticá-la”, para construirmos uma vida estabilizada sobre a rocha que é Jesus.
A pessoa que ouve as suas palavras e não as pratica é um tolo, um insensato, um homem sem bom senso. Ele está sempre com pressa e vive das coisas imediatas, por não saber esperar. Na parábola, ele não estava preocupado realmente em construir sua casa com segurança, deixando-se levar pelas aparências, sempre à procura de atalhos e resultados imediatos. Do ponto de vista espiritual, esse homem não firmava a sua fé em algo consistente, situação muito encontrada em nossos dias: uma fé imediata, sujeita a grandes decepções e frustrações. Quem quer construir uma casa para si não pode fazê-lo de qualquer maneira. O tolo despreza o ensino e a instrução.
Enquanto o primeiro construtor cavou bem fundo e pôs o alicerce sobre a rocha, o segundo construiu a sua casa na areia, sem o alicerce firme. O construtor insensato agiu de maneira imprudente, não se preocupando em pensar o que poderia acontecer com a casa quando as chuvas chegassem. Ele foi negligente em não pensar no futuro, fixando-se só no presente. Ignorou o risco das consequências desastrosas e do grande prejuízo que as chuvas poderiam lhe causar. É muito mais fácil levar-se uma vida sem preocupação com oração, leitura e estudo das Escrituras do que ter uma vida espiritual com essas práticas. Existem muitos cristãos que pensam tão somente no presente, em aproveitar a vida e os prazeres do pecado. Há duas perspectivas: uma de curto e outra de longo alcance em cada decisão que tomamos na vida. A casa firme resistiu às fortes chuvas; a segunda casa sofreu com as chuvas, pois os rios transbordaram, e o vento soprou contra ela, que caiu e foi totalmente destruída. Os cristãos verdadeiros e os falsos frequentemente se parecem: joio e trigo serão separados por Deus somente na eternidade. Os dois edificadores espiritualmente ouvem as palavras ditas por Jesus e são membros da comunidade cristã visível; ambos leem a Bíblia, vão à igreja, ouvem os sermões e compram literatura cristã. O motivo que os distancia é que os alicerces da vida deles estão ocultos aos nossos olhos. Apenas uma tempestade revelará a verdade. 
Na vida cristã, não faz nenhuma diferença quantos sermões alguém ouviu, quantas vezes leu a Bíblia, embora tudo isso seja importante. A diferença estará em quanto daquilo que ouvimos, lemos e aprendemos de Jesus estamos colocando em prática quando a tempestade chegar.

46. DOIS HOMENS, DUAS CASAS


“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia” 
(Mateus 7.24 e 26).

Após duas ilustrações, uma sobre os falsos profetas e a outra sobre a falsa paz ao chamar Deus de "Senhor", chegamos a uma terceira situação; a comparação entre dois homens e duas casas. A advertência aqui implícita é o perigo de buscarmos e desejamos somente os benefícios e as bênçãos da salvação, entrando na aparente posse delas. Destaca-se a diferença entre a verdadeira e a falsa profissão de fé cristã, entre o cristão e o crente de aparência, em suma, entre os filhos de Deus e os que somente pensam que o são.
Comecemos pela semelhança dos dois homens: tinham o mesmo desejo de construir suas casas, na mesma localidade, sujeitas aos mesmos testes e condições, vizinhas uma da outra. Planejavam casas aparentemente idênticas, cuja diferença estava apenas abaixo da superfície, no alicerce. Ambas as casas foram submetidas ao mesmo tipo de prova, sendo em tudo semelhantes, mas o Salvador mostrou uma diferença fundamental e vital. A aplicação espiritual da parábola é entre o autêntico crente em Cristo e o pseudo-crente.
Vamos agora para as diferenças entre o sábio e o tolo. O sábio cavou fundo, lançando os alicerces de sua casa, mas o tolo nem se preocupou em lançar um alicerce. Os tolos estão sempre com pressa, são impacientes, vivem querendo atalhos e resultados imediatos; não têm tempo para ouvir instruções ou regras para a construção da casa. Não se preocupam com cuidados ou detalhes, seguindo os próprios impulsos e ideias. Nunca pesam as consequências nem consideram possibilidades e eventualidades. Existem princípios de engenharia que devem ser observados para uma construção satisfatória e duradoura, e o sábio quer conhecer qual é a maneira certa de se fazerem as coisas. Ele não se deixa levar pela pressa, pela precipitação, por sentimentos ou emoções, pois espiritualmente sabe que os decretos, propósitos e planos de Deus são eternos e imutáveis. O sábio pensa antes de começar a agir.
O momento certo de se fazerem consultas e observações é no começo da construção, quando o construtor lança os alicerces, os quais, se mal projetados, resultarão em casa mal construída. Espiritualmente falando, "ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo", conforme alertou Paulo. A diferença entre o cristão e o pseudo crente já foi bastante realçada pelos puritanos; Whitefield, Wesley e outros examinavam os convertidos, antes de se tornarem membros de suas classes de estudo bíblico. Cristãos e pseudo crentes têm particularidades em comum: geralmente são encontrados na mesma esfera de atividades como membros da igreja, ouvem o mesmo evangelho, parecem gostar disso, têm perspectivas semelhantes e são tão parecidos na superfície como os dois construtores e suas casas.
Espiritualmente, parecem ser levados pelos mesmos desejos gerais de perdão, paz, consolação, orientação e de encontrar uma maneira para sair das dificuldades e das tribulações; por isso, inicialmente foram levados a participar de uma reunião evangélica, diante do grande desassossego da vida. Indo mais além, há até aquelas pessoas que querem possuir poder espiritual, à semelhança de Simão, o mago, embora estejam cegas para a verdade divina. Finalmente, também eles desejam chegar ao paraíso, acreditando na existência do céu e do inferno. É possível desenvolver um falso senso de perdão e possuir uma falsa paz no coração. Um fato que chama a atenção é quando uma pessoa não manifesta preocupação com seus pecados durante muito tempo. A Bíblia e a história estão cheias de exemplos que ilustram isso; não havia qualquer diferença evidente entre Judas Iscariotes e os outros doze, até que ele fosse apontado como o "filho da perdição".
Entre o cristão e o pseudo crente há uma questão essencial, que não se manifesta na superfície: qual é o alicerce da sua fé? Precisamos nos testar, verificando se, na nossa vida cristã, julgando sabermos o que queremos e o melhor a fazer, a precipitação, a falta de atenção a advertência, planos ou especificações, o arrojo impensado para a realização da obra não são indícios de auto ilusão espiritual. Você anda esperando apenas bênçãos e benefícios da vida e da salvação cristã, ou tem desejos mais profundos sobre isso? Anda atrás de resultados carnais e superficiais, ou busca conhecer a Deus e tornar-se mais e mais parecido com o Senhor Jesus Cristo? É de fato cristão convicto ou pseudo crente?