A identidade cristã nos dias atuais

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

23. AMOR AO INIMIGO

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos...” 
(Mateus 5. 43-44a).

Amar, bendizer, fazer bem, orar: quatro ações que normalmente praticamos, ou pelo menos deveríamos praticar, por nossos cônjuges, amigos, parentes, irmãos da igreja, pessoas caras a nós. No entanto, amar os inimigos, bendizer a quem nos maldiz, fazer bem aos que nos odeiam e orar por quem nos maltrata e persegue é algo que ultrapassa o chamado bom senso do homem natural. A sexta ilustração de Jesus para com cumprimento da lei é, sem dúvida, a mais difícil de ser praticada.
Escribas e fariseus diziam: "Amem o seu próximo e odeiem o seu inimigo", algo muito mais facilmente executável do que o que Jesus propôs. Nada há, porém, no Antigo Testamento que dê respaldo a essa interpretação. Para eles, o próximo era apenas outro israelita. Quem não fosse judeu, deveria ser odiado, atitude, aliás, comum a todos os povos a eles contemporâneos. Embora não encontrado explicitamente no Velho Testamento, tal ódio pode ter sido motivado pela ordem de Deus dada ao povo para exterminar os povos da terra na conquista de Canaã. Havia também a influência dos chamados Salmos imprecatórios, nos quais certas maldições são rogadas contra determinadas pessoas. Tais textos têm que ser entendidos como fazendo parte de um contexto definido.
Qual seria a única força que pode capacitar um homem a não revidar, a voltar a outra face, a caminhar a segunda milha, a dar tanto a capa quanto a túnica quando a última está sendo arrancada à força e a ajudar outras pessoas que estejam padecendo necessidade? A força vital necessária para tanto é o novo nascimento; é preciso que esse homem tenha morrido para si mesmo, para seus próprios interesses e suas próprias preocupações, tenha nascido de novo. Na interpretação de Cristo, o próximo inclui até os nossos inimigos. Há pessoas más, iniquas e injustas, mas Deus envia-lhes a chuva e ordena que o sol brilhe sobre elas, experimentando essas pessoas aquilo que se convencionou chamar de "graça comum". O amor de Deus não depende de qualquer coisa que exista no homem, mas se manifesta apesar do homem. Esse amor desinteressado deveria ser também nosso. Sendo um novo homem, uma nova criatura, uma nova criação, devemos ver todas as coisas de uma perspectiva diferente e reagir de modo diferente. No entanto, as nossas ações não devem ter por objetivo tentar transformar os inimigos em amigos por elas lhes favorecerem.
São três os exemplos claros deixados por Jesus de amor aos inimigos. O primeiro deles é bendizer aos que nos maldizem, ou seja, responder com palavras gentis as palavras amargas, duras e grosseiras a nós dirigidas. Fazer bem aos que nos odeiam já implica em desenvolvermos atos de benevolência em troca de atos maldosos. Orar pelos que nos maltratam e nos perseguem diz respeito a nos ajoelharmos e intercedermos junto a Deus, pedindo perdão por malfeitores que não sabem o que fazem. Segundo o pastor Martin Jones, é possível amar sem gostar, pois "Deus nos ordena que amemos a uma pessoa e a tratemos como se gostássemos dela", seja ela judia ou samaritana. Os seguidores de Cristo souberam pôr isso em prática. Paulo ensinou: "Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber..." Estevão orou de modo semelhante a Cristo quando estava sendo apedrejado.
Este ensinamento destina-se a cada um de nós e a Bíblia nos autoriza a dizer que podemos ter esta atitude se formos capacitados pelo Espírito Santo. Se todos os cristãos do mundo estivessem amando com essa pureza e intensidade, o reavivamento no meio cristão não demoraria muito a acontecer e poderia fazer muita diferença para o mundo inteiro.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

22. RETALIAÇÃO


“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso” (Mateus 5. 38-39a).

O dicionário define retaliar como revidar com dano igual ao dano recebido. Tanto o título dado a este texto quanto a lei do Velho Testamento são expressões fortes que precisam ser entendidas, no contexto de uma multidão de pessoas que, tendo saído do Egito, rumava para a Terra Prometida, onde se organizaria como povo. Nesta quinta ilustração dada por Jesus sobre a interpretação da lei mosaica, vamos manter mais uma vez aquela tríplice divisão da matéria, considerando o que o Velho Testamento afirma, o que os escribas e fariseus defendiam e o que Jesus define como válido diante do espírito da lei.
Êxodo, Levítico e Deuteronômio trazem a expressão "olho por olho, dente por dente". Por que foi outorgado este princípio? Como nos casos de adultério e divórcio, o principal intuito deste preceito mosaico era o de controlar os excessos; no caso em questão era controlar a ira, a violência e a vingança. O revide faz parte do nosso instinto natural de seres humanos, presente até mesmo nas crianças na mais tenra idade. Era necessário reduzir essa tendência, devolvendo certa ordem à sociedade dos homens. Por causa da dureza do coração humano, a lei previa castigo sempre equivalente à ofensa, sem jamais excedê-la.
O mais importante da questão é que o preceito foi dado para ser aplicado pelos juízes, não por indivíduos, fato que escribas e fariseus pareciam ignorar, dele fazendo uma questão de aplicação pessoal. Assim, consideravam como um dever pôr em prática o "olho por olho" e "dente por dente", numa perspectiva legalista, considerando somente o direito legal, atitude típica do egoísmo do ser humano natural.
Vejamos agora o que Jesus define como o espírito da lei. Em primeiro lugar, não resistir ao perverso é uma atitude que não pode ser aplicada ao pé da letra, pois forças policiais, magistrados, juízes e tribunais de justiça resistem ao perverso por força da própria função. Este ensino não se destina às nações ou ao mundo em geral, nem ao indivíduo que não é cristão. Jesus estava falando com aqueles que ele já havia descrito nas bem-aventuranças, pessoas humildes de espírito, perfeitamente conscientes de que são pecadoras e totalmente carentes aos olhos de Deus, que choram por seus pecados, são mansos, tem fome e sede de justiça, e assim por diante. O ensino desse preceito não pode ser observado por quem não possua essas qualidades. Além do mais, o presente preceito só pode ser aplicado ao cristão e em suas relações pessoais, não em suas relações como cidadão do seu país. O Senhor pede a cada um de nós que encare a si mesmo ao afirmar: "Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado”. Em outras palavras, Jesus dizia que, se somos crentes autênticos, precisamos morrer para o próprio eu.
É preciso que eu esteja seguro em minhas atitudes para comigo mesmo, com relação ao meu espírito de autodefesa diante da injustiça, bem como da retaliação, que tanto caracteriza o homem natural. Isto se aplica ao relacionamento com o próximo, assim como às exigências impostas pela comunidade ou pelo Estado. Finalmente, podemos entender as palavras de Jesus, acrescidas do adendo, com plena aplicação ao preceito estudado: "Se alguém quiser ser meu discípulo, então negue-se a si mesmo (juntamente a todos os direitos que julga ter sobre a sua própria pessoa), tome a sua cruz e siga-me". No mundo atual, no qual o ser humano tanto luta por seus direitos, esquecendo-se de que precisa também considerar os seus deveres, numa civilização que transtornou a ideia de valores de tal forma que não sabemos mais realmente quais são os direitos humanos pelos quais deveríamos lutar, Jesus continua aconselhando: “Não resistam ao perverso”.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

21. JURAMENTOS

“Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma...” 
(Mateus 5. 34a)

Será que deveríamos considerar o juramento – uma simples questão de comunicação e de como falar com os outros – tão importante, quando existem problemas tão grandes no mundo moderno? Segundo o Novo Testamento, tudo o que o cristão faz e diz é muito importante, por ser ele quem é e pelo efeito que isso deve exercer sobre seus semelhantes.

O Antigo Testamento, em Êxodo, Deuteronômio e Levítico, afirma sobre juramento:“Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão”. “Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome”. “Não jurem falsamente pelo meu nome, profanando assim o nome do seu Deus. Eu sou o Senhor”. Os antigos diziam e os doutores da Lei repetiam: "Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos". Esta não é uma declaração que possa ser encontrada no Antigo Testamento, mas pode estar ligada a diferentes fontes da Torá. Tratava-se, portanto, de uma reformulação feita pelos doutores da lei.

Com relação aos juramentos, a própria lei mosaica procurava frear as inclinações humanas para a mentira. Um dos piores problemas enfrentados por Moisés foi a tendência do povo de mentirem uns aos outros, tornando a vida caótica, pois não se podia confiar nas palavras e declarações alheias. Por isso, a lei procurava restringir os juramentos às questões sérias e importantes. Os israelitas deveriam ser lembrados de que eram o povo de Deus e que seus diálogos e conversas eram feitos sobre o olhar do Criador; os juramentos estavam incluídos nessa seriedade. A atitude de escribas e fariseus era ditada inteiramente pelo legalismo. Eles haviam distorcido o significado dos juramentos e parafraseado trechos bíblicos sobre o assunto. Segundo entendiam, um judeu podia fazer toda a espécie de juramentos, contanto que não viesse a cometer perjúrio.

O legalismo continua vivo entre nós e por isso todas essas questões são altamente relevantes. A santidade e o mundanismo são ambos definidos pelo mundo de forma muito diferente do que se vê no ensino bíblico. Os fariseus eram desonestos ao fazerem distinções entre juramento e juramento, dizendo que alguns deles eram obrigatórios, mas outros não. Jesus mostra aos seguidores da letra da lei o seu verdadeiro espírito. Ele não proibiu o uso do juramento, mas orientou a não o fazer pelo céu, pela terra, por Jerusalém ou pela própria cabeça. Ele proíbe o juramento por qualquer criatura ou coisa criada, pois tudo pertence a Deus. Proibiu também o uso de qualquer juramento na conversação comum, quando as nossas afirmativas devem se limitar a sim ou não, ou seja, à verdade pura. Infelizmente, no campo das relações internacionais, dentro de cada governo e até mesmo no meio das mais sagradas associações da vida, impera a mentira. Os homens têm olvidado o ensino de Jesus Cristo no tocante aos votos e aos juramentos, bem como quanto à veracidade comum, à verdade e à honestidade naquilo que se diz. A mentira não tem tamanho maior ou menor.

Na segunda metade do século XX, época de atuação mais intensa de Martyn Lloyd-Jones, a relativização das coisas já se fazia presente no mundo, mas isto se acentuou até a nossa época, quando o mundo intelectual não admite a existência da verdade absoluta. Não nos conformemos com o presente século pós-moderno, conforme alertou Paulo, mas procuremos nos transformar pela renovação do nosso entendimento, pois é muito mais fácil sermos influenciados pelo mundo do que o influenciar. O nosso discurso deve estar afinado com a nossa postura de vida. Sejam, portanto, as nossas palavras sim, sim; não, não; ou seja, a verdade absoluta, para que não passemos a relativizar, dizendo aquilo que vem do maligno.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

20. O DIVÓRCIO


“Foi dito: ‘Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio’. Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera...”
(Mateus 5. 31-32a)

Esta passagem faz parte das Escrituras assim como qualquer outra, mas muitos pregadores passam por cima deste assunto. Tudo aquilo de que precisamos saber nos é suprido no evangelho, onde encontramos um claro ensino e instrução acerca de cada aspecto de nossa vida. Há muitas dificuldades de interpretação, mas a maior parte é por causa da criação humana, que atribuiu à doutrina do matrimônio um aspecto sacramental católico.
Na lei mosaica, o adultério era punido com a pena de morte. Por isso, Jesus não inclui o divórcio no mesmo tema do adultério. No seu tempo, os homens tinham as mulheres em baixíssima conta e buscavam divorciar-se por qualquer razão indigna e frívola. No entanto, a verdadeira causa da separação era a concupiscência e a paixão, tratadas no texto anterior. Consideremos alguns princípios: o divórcio era limitado a determinadas causas, só permissível quando havia algum defeito natural, moral ou físico descoberto na mulher (na lei apresentada como impureza ou imundícia), eliminando-se razões frívolas, superficiais e injustas. Outro princípio afirmava que qualquer homem que se divorciasse de sua mulher teria de lhe dar carta de divórcio. Isso era uma proteção à mulher e mostrava a seriedade do matrimônio. Um terceiro princípio afirmava que o homem que viesse a dar à sua esposa carta de divórcio teria de fazê-lo de maneira permanente, não podendo desposá-la novamente. Pelos princípios expostos, notamos que a legislação mosaica impunha certa ordem a uma situação que se tornara caótica.
De tudo o que a lei determinava, parece que escribas e fariseus somente enfatizavam a necessidade de o marido dar carta de divórcio à esposa, muitas vezes por motivos banais. Jesus dá a sua interpretação para o problema do divórcio, qual seja a necessidade de haver causa real para isso. Mais tarde, durante seu ministério, o assunto divórcio volta a ser questionado por alguns fariseus, quando duas perguntas capciosas são feitas a Jesus: "É lícito ao marido repudiar a mulher por qualquer motivo?" "Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar?" Jesus tem então oportunidade de mostrar o real significado do matrimônio instituído por Deus desde o Éden, enfatizando as seguintes ideias: marido e mulher feitos uma só carne e a indissolubilidade do matrimônio e da vida a dois em comum. Tudo o mais havia sido permitido por Deus por causa da dureza do coração humano. Moisés nunca havia ordenado que alguém se divorciasse. Segundo a lei mosaica, só existe uma razão legítima para o divórcio, o que é chamado de "relações sexuais ilícitas", ou seja, infidelidade por parte de um dos cônjuges. Outro motivo, como o cônjuge incrédulo, ou mesmo a moderna “incompatibilidade de gênios", não deveria ser aventado, pois levaria ao adultério. Jesus, o grande legislador, deixa claro que houve uma legislação temporária para os filhos de Israel, devido às suas situações peculiares. Aos adúlteros impunha-se a pena de morte por apedrejamento. Jesus apenas anulou essa legislação temporária e legitimou o divórcio no caso de relações sexuais ilícitas.
Dada a seriedade e solenidade do assunto tratado, terminamos com o último parágrafo conforme definido por Martyn Lloyd Jones: "Você é testemunha das condições vigentes no mundo e na sociedade ao nosso redor. Surpreende-nos ainda que este mundo seja o que é, quando homens e mulheres brincam e se divertem com as coisas mais sérias e com a palavra de Deus, em uma questão tão importante quanto é o matrimônio? Que direito temos para esperar que as nações cumpram os seus acordos, uma vez que homens e mulheres, nem mesmo quanto às questões mais solenes e sagradas, como é o caso do matrimônio, observam os seus deveres? Devemos começar por nós mesmos, devemos começar pelo princípio: precisamos observar a legislação divina em nossas próprias vidas, como indivíduos. Então, e somente então, teremos o direito de confiar em povos e nações, esperando um tipo diferente de conduta e comportamento da parte do mundo em geral."

terça-feira, 5 de novembro de 2019

19. O ADULTÉRIO


“Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mateus 5.28).

Esta é a segunda ilustração que Jesus deixou acerca do ensino sobre a lei. Os dez mandamentos devem ser entendidos como um todo, um conjunto indissolúvel, já que o último se liga ao atual mandamento focalizado. O propósito inteiro da lei é mostrar a extrema pecaminosidade do pecado, ou seja, a nossa propensão para o mal, a origem de nossos atos: o homem interior. A tendência do homem natural é ver o pecado como uma consequência natural da sua evolução, pois, tendo evoluído do animal, segundo crê, ele está se desfazendo lentamente de sua natureza animalesca. Não é esta, no entanto, a verdadeira doutrina bíblica do pecado. O homem natural não entende por que Jesus morreu nem o verdadeiro significado da cruz. A encarnação do Filho de Deus não seria necessária se o ser humano não fosse pecador. "Não há justo, nem um sequer", afirmou Paulo.
A regeneração, o novo nascimento deve acontecer por causa do pecado humano e do sacrifício de Cristo. Para aqueles que não entendem corretamente a doutrina do pecado, a cruz e o novo nascimento não fazem sentido. Pouco se prega sobre o pecado hoje. A rejeição do Evangelho leva o homem ao inferno e o próprio Jesus alertou muitas vezes seus seguidores para a dificuldade que era o caminho estreito e a porta apertada que conduzem à presença de Deus. O verdadeiro evangelismo começa pela santidade de Deus, passa pela pecaminosidade do homem, pelas exigências da lei, sua punição e pelas consequências da escolha humana. O pecado não é exatamente o que eu faço, mas aquilo que me impulsiona a fazê-lo. É como uma enfermidade, que nasce dentro do homem e se manifesta em sintomas, que são as obras pecaminosas. Ele é sutil: acontece por procuração, através de terceiros, com o nosso interesse em literaturas, reportagens e filmes que o abordem, por exemplo; ele nos engana, levando-nos a pensar que somos filósofos ou sociólogos querendo entender coisas escabrosas. O pecado é um fator de perversão e ele torna nossos membros e instintos, criados por Deus de modo perfeito, como nossos inimigos. Mãos, olhos e outros componentes corporais nossos podem se tornar empecilhos para o nosso viver. O pecado a tudo distorce, ele perverte o ser humano, transformando o bem que nele existe em mal, além de destruí-lo, introduzindo a morte na vida do homem.
Há, porém, uma maior profundidade na fala do Salvador quando ele sugere eliminar algum membro do corpo para que o todo não seja lançado no inferno. O que Jesus queria dizer era que, por mais importante que alguma coisa seja para uma pessoa, se isso for servir de armadilha, fazendo-a tropeçar, seria preferível desfazer-se dessa tal coisa. Precisamos lembrar a importância da alma e do seu destino, eliminando qualquer adversário que se apresente no nosso caminho. Se minhas faculdades, propensões e habilidades me conduzem ao pecado, então deverei livrar-me delas. "Que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Se reconhecêssemos o que os puritanos chamavam de "a praga dos nossos próprios corações", isso nos ajudaria a buscar a santidade.  O nosso coração deveria desconhecer a amargura, a inveja, o ciúme, o ódio e o despeito, mas caracterizar-se sempre pelo amor. Paulo afirmou que “se vivermos segundo a carne, caminhamos para a morte; mas, se pelo Espírito mortificarmos os feitos do corpo, certamente viveremos”. É preciso, portanto, que o corpo seja mantido em sujeição, reduzido à escravidão, mortificando nossos membros.
Um preço imenso teve de ser pago para que fôssemos libertados do pecado. Jesus suou gotas de sangue no Jardim do Getsêmani, suportou toda agonia e todo sofrimento e finalmente morreu na cruz pelo nosso pecado. Isaac Watts disse que esse amor "requer a minha alma, a minha vida, o meu tudo". A nossa santificação não pode ser buscada por nossas próprias forças, mas no poder do Espírito. Aquilo que o autor chama de poluição do pecado", o que faz com que, embora um homem não esteja praticando nenhum pecado num dado momento, ele continue sendo pecador, precisa ser por nós reconhecido. Sem pecado, poderemos ver a Deus face a face, estar de pé diante dele, sem qualquer culpa, sem mancha nem motivo de reprimenda.

18. COMO LIDAR COM A IRA

“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento
(Mateus 5. 21-22a).

A justiça que excede a de escribas e fariseus é o ensinamento que Jesus vai reforçar até o final do Sermão do Monte. Não é o contraste entre a lei de Moisés e o ensino de Jesus, mas entre a falsa interpretação da Lei e a interpretação autêntica que nos foi oferecida pelo Senhor da Lei. Jesus deixou seis exemplos acerca de sua interpretação da lei de Deus em contraposição à interpretação dos escribas e fariseus, e o primeiro deles é “não matarás”.
"Não matarás" é um dos dez mandamentos, mas, ao dizerem "quem matar estará sujeito a julgamento", os doutores da lei reduziam o sentido do mandamento apenas a um caso de homicídio literal, num julgamento relacionado apenas ao juízo baixado por algum tribunal local, esquecendo-se do juízo divino. Todo aquele que aceitar apenas a letra da lei e se esquecer do seu espírito, do seu conteúdo e do seu sentido, pode-se persuadir de que é perfeitamente justo aos olhos da lei. Era o que acontecia com o jovem rico, que foi conversar com Jesus, e mesmo com Saulo, antes de se tornar Paulo.
Também nós podemos conceber a lei de Deus conforme a encontramos nas Escrituras, mas, ao mesmo tempo, defini-la e interpretá-la, transformando-a em algo que possamos observar com extrema facilidade, porque só a estamos obedecendo negativamente.
Jesus exprimiu seu ponto de vista em três momentos, e o primeiro deles  é novamente o erro no apego à letra da lei, mas não ao seu espírito. Não matar não é meramente não cometer um homicídio físico literal, mas inclui a ira no coração sem motivo contra algum irmão. A tragédia do povo israelita é que eles perderam de vista o conteúdo espiritual da lei. Tolerarmos a ira em nossos corações contra alguém é o mesmo que cometermos homicídio. Indo um pouco além, o desprezo ao próximo em forma de zombaria ou escárnio é uma atitude que acaba impelindo a pessoa a cometer homicídio, pelo menos no coração. O assassinato não envolve somente a destruição da vida física de outra pessoa, mas também a tentativa de destruição de sua alma e espírito, derrotando aquela outra pessoa de alguma maneira. A nossa Ira deve dirigir-se somente contra o pecado, jamais contra o pecador, pelo qual devemos sentir tristeza e compaixão. É o aviso de Paulo aos Efésios: “Irai-vos e não pequeis”.
Em segundo lugar, Cristo afirma que a reação a tudo isso não deve ser negativa, e sim positiva. Ele afirma que devemos dar passos positivos para nos reconciliarmos com o nosso irmão. É necessário primeiramente consertar a situação com o irmão e somente depois voltar e oferecer o sacrifício a Deus. Não podemos estar bem com Deus enquanto estivermos cometendo injustiça contra nosso semelhante humano. Obedecer é melhor do que sacrificar, dizem as Escrituras.
Por fim, Jesus está dizendo que todas essas ações são urgentes. O cristão precisa chegar a um acordo com seu adversário sem demora. Segundo o dicionário, ira é cólera, raiva, indignação, o que leva a um desejo de vingança. O ódio é uma paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém. Esta é uma definição humana para o problema, mas as Escrituras afirmam que a ira não é nossa, mas do Senhor, quando for justa. Ela não pode tomar conta de nosso coração levando-nos a pecar e precisa ser administrada segundo a vontade de Deus.
Os fariseus e escribas sempre foram culpados de reduzir o sentido e até mesmo os requisitos da Lei. Eles já haviam despido esse mandamento do seu grande conteúdo, reduzindo-o meramente a uma questão de homicídio literal, sem nunca se preocupar com o juízo divino. Enquanto aceitarmos a letra da lei esquecendo-nos do espírito, podemos tentar nos enganar, persuadindo-nos de que somos considerados perfeitamente justos aos olhos da lei. A ira guardada no coração é homicídio. Nossa atitude diante da ira não deve ser negativa, e sim positiva: a reconciliação e depois a oferta. Finalmente, há uma urgência em tudo isso, face o nosso relacionamento com Deus

terça-feira, 29 de outubro de 2019

17. ESCRIBAS, FARISEUS E O CRISTÃO


“Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus” (Mateus 5.20).

Jesus Cristo era uma pessoa incomum: não pertencia à ordem dos escribas e fariseus nem era doutor da lei oficialmente reconhecido. No entanto, ali estava ele, defronte de todos, sendo considerado como Mestre. O seu ensino não era incoerente com o que a lei e os profetas disseram; no entanto, era muito diferente do ensino dos escribas e fariseus. Mesmo a conduta de Jesus não era comum, pois ele buscava a companhia de pessoas desprezadas pelo povo, tornando-se “amigo de publicanos e pecadores”. Nos seus ensinos, incluía-se ainda algo estranhos aos judeus, que podemos definir como “doutrina da graça”. Tudo isso o distinguia no que dizia e fazia de tudo o que o povo já tinha ouvido, bem como explica por que sua mensagem era entendida de forma errada.
A lei de Deus pode ser entendida como dividida em duas partes: a primeira diz respeito à nossa relação com Deus ("Amarás o Senhor teu Deus de todo coração") e a segunda com o próximo ("Amarás ao teu próximo como a ti mesmo"). A primeira parte é a mais importante, é relacionamento espiritual, mas temos que considerar a segunda, do relacionamento humano, como decorrência da anterior, o que ressalta o valor de todos os aspectos da Lei de Deus. Jesus quis ensinar que cumpre a nós observar toda e qualquer porção da Lei, praticando e ensinando aos outros cada um dos seus preceitos.
Quem eram os escribas e fariseus, ou, generalizando-se a definição, os “doutores da lei”? Doutores da lei eram pessoas que dedicavam a própria vida a estudar a Lei, isto é, o Antigo Testamento, vindo a saber de cor os textos bíblicos. Seu estudo também incluía os pensamentos dos grandes rabinos. Em Lucas 11.52, Jesus os condena dizendo: “Ai de vós, doutores da lei, porque tomastes a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes os que queriam entrar”. Escriba era um copista, alguém que fazia cópias das Escrituras hebraicas. Fariseu era um membro do grupo religioso judaico surgido no século II a.C., que vivia na estrita observância das escrituras religiosas e da tradição oral. Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus critica a religiosidade do grupo ao inserir a oração arrogante feita pelo fariseu. Resumindo, escribas e fariseus eram pessoas de grande conhecimento e vivência com a Lei.  
Jesus faz duas acusações à religiosidade dos escribas e fariseus. Em primeiro lugar, acusa-os de terem uma religião inteiramente externa, formal, em vez de uma religião que partisse do coração. Eram os “sepulcros caiados” mencionados por Jesus, que mantinham a aparência de religiosidade em vez de buscarem um real relacionamento com Deus. Em segundo lugar, eles preocupavam-se mais com os aspectos cerimoniais do que com as realidades morais da lei. A devoção deles consistia em regras e normas ditadas por homens, com base em certas concessões que o farisaísmo havia feito entre si, mas que, na realidade, violavam a lei que diziam observar. O objetivo final dos fariseus não era o de glorificarem a Deus, mas a si mesmos. A grande falha dos fariseus é que eles se interessavam pelos detalhes e não pelos princípios básicos, fixavam-se mais nas ações e não nos motivos, valorizavam o fazer, não o ser. "Não há justo, nem sequer um": a lei, dada por Deus a Moisés, condena o mundo inteiro, para que se cale toda a boca, a fim de que todo mundo seja culpável perante Deus, pois todos necessitam da sua glória.
Fariseus e escribas foram denunciados por Jesus como indivíduos inconscientemente hipócritas, pensando que tudo ia bem com eles, quando na verdade estavam presos à letra da Lei, modificada através dos tempos, e deixando de lado o verdadeiro espírito que a havia motivado. Escribas, fariseus e o cristão: existe a possibilidade de dependermos de coisas distorcidas e descansarmos sobre coisas que apenas vagamente dizem respeito à verdadeira adoração, em vez de assumirmos uma posição de autênticos adoradores nos dias de hoje. No entanto, o que o homem faz quando está sozinho, isso é o que tem real importância. Os pensamentos que se agitam em nosso interior e que se ocultam do mundo exterior porque temos vergonha deles proclamam o que nós realmente somos. Que cada um de nós seja sincero diante de Deus, sem falsa religiosidade, mas buscando fazer a luz do evangelho brilhar diante dos homens, para que os homens vejam as nossas boas obras, mas glorifiquem ao Pai, que está nos céus.  

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

16. CRISTO E O ANTIGO TESTAMENTO

“Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra"


(Mateus 5. 17-18).
Devemos viver vidas retas. Em que consiste essa retidão que devemos manifestar? Jesus estabelece no texto em questão duas proposições categóricas: a. tudo quanto ensinaria dali por diante estava em absoluta harmonia integral com as Escrituras do Antigo Testamento; sua doutrina é totalmente harmônica com o Antigo Testamento, mas está em total dissonância com os ensinamentos dos fariseus e escribas, contradizendo-os frontalmente. Isto se reporta ao que os quatro evangelhos registram do antagonismo manifestado contra Jesus por parte dos mestres da lei. A lei de Deus tem um caráter absoluto, jamais poderá ser alterada, nem mesmo modificada no mais leve grau, pois é eterna. Os requisitos da lei são permanentes e jamais poderão ser ab-rogados ou reduzidos até que o céu e a Terra passem. “Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês” (2 Pedro 1.19).
O próprio Espírito Santo cuidou da Igreja Primitiva, constituída principalmente de gentios, ao incorporar as Escrituras do Antigo Testamento às suas próprias novas estruturas, considerando-as uma só unidade. Entender Hebreus, por exemplo, implica em conhecer o Antigo Testamento. Ele demonstra que, na Nova Aliança, a lei foi posta dentro de nós, escrita em nossas mentes e em nossos corações, e não é mais alguma coisa fora de nós. Na lei cerimonial, Jesus Cristo é o altar, o holocausto, a bacia de lavar, o incenso e tudo o mais. Na lei judicial, Israel era a nação teocrática que falhou e que hoje não existe mais, o que significa que a lei judicial foi cumprida. A lei moral está em vigor até os nossos dias e continuará até o final dos tempos. No futuro, o Reino de Deus cobrirá a face da terra. Aqueles que morrem incrédulos quanto ao Senhor Jesus estão debaixo da condenação da lei. A lei envolve um farto elemento profético, bem como um copioso elemento evangélico. Ela é cheia de graça, pois nos conduz a Cristo.
A lei se manifesta em duas categorias: a primeira diz respeito à nossa relação com Deus e a segunda se refere às nossas relações com o próximo. O grande mandamento é amar a Deus de todo coração, alma e entendimento; o segundo é amar ao próximo como a si mesmo, disso dependendo todo o restante da lei e dos profetas. Na Idade Média, os chamados casuístas da igreja católica tornaram-se hábeis no estabelecimento de distinções sutis e injustificáveis quanto às Escrituras, principalmente no tocante às questões de consciência e de comportamento. Ainda hoje, questões de divórcio, por exemplo, são resolvidas através de manobras casuísticas. No que nos diz respeito, porém, somos todos capazes de racionalizar os nossos próprios pecados, justificando-os por meio de uma explicação capciosa e desculpando-nos das coisas que fazemos ou que não fazemos, numa atitude tipicamente farisaica.
Perguntas vitais para encerrar: Você conhece a Deus e o ama? Pode dizer com honestidade que a maior e primeira coisa em sua vida é a glória de Deus? Sem querer parecer melhor do que qualquer outra pessoa, você quer de fato honrar, glorificar e amar a Deus acima de todas as coisas? A Bíblia “Mensagem”, comentando sobre a Lei, afirma: “Levem-na a sério, mostrem o caminho para os outros, e terão um lugar de honra no Reino”. Que cada um de nós examine a si mesmo quanto a isso.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

15. A LETRA E O ESPÍRITO

Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica
(2 Coríntios 3.6).

“Estou reposicionando as coisas, ajuntando-as num quadro geral, para que fiquem no devido lugar.” (Bíblia Mensagem)
Até aqui, Jesus esboçou as características que o cidadão do Reino de Deus deve apresentar, em forma de bem-aventuranças. O homem bem-aventurado é aquele que, em um exame introspectivo, reconhece a sua pobreza em espírito diante de Deus; que chora pela miserabilidade do pecado, tanto seu quanto dos outros; que sente fome e sede da justiça que só Deus pode prover, e que busca incessantemente uma limpeza de coração diante de Deus. No seu relacionamento com o próximo, ele busca uma posição de mansidão, mesmo diante da provocação; ele se reveste de misericórdia para com a atitude do outro e procura manter para com ele um espírito de pacificação, mesmo em meio aos conflitos que o envolvem. O próximo, olhando para o cristão, nunca vai entendê-lo na carne e pode vir perseguição por causa da justiça, justiça essa que o próximo reconhece no servo de Deus e que jamais conseguirá atingir. As consequências de tal atitude de bem-aventurança é a atuação do cristão no mundo como sal e luz.
A partir de agora, o Senhor vai abordar temas relacionados à Lei. Ele se dirigia a judeus conhecedores da lei, que avaliavam qualquer nova doutrina comparando-a com o texto mosaico. Jesus começa agora a discutir a sua própria visão positiva da lei, estabelecendo o contraste entre a sua fala e o falso ensino negativo dos escribas e fariseus, cuja justiça precisa ser excedida por seus seguidores.
Jesus usa repetidas vezes a frase "vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados". Após retornarem do cativeiro babilônico, os judeus falavam o aramaico, e não mais o hebraico, língua na qual foram escritas a lei e os profetas. Por essa razão, o povo dependia inteiramente do ensino dos fariseus e escribas, os “doutores da lei”, no tocante a qualquer conhecimento que quisessem ter da lei. Esses judeus davam grande importância à tradição, referindo-se sempre aos seus antepassados. São seis as declarações particulares que Jesus faz ilustrando a lei: a primeira diz respeito ao mandamento "Não matarás" e a última se refere a amar ao próximo e odiar ao inimigo. O desejo de Cristo era mostrar o verdadeiro sentido e espírito da lei, corrigindo conclusões erradas que os escribas e fariseus haviam extraído dela.
A outra afirmação que Jesus faz também seis vezes é "eu, porém, lhes digo". É uma declaração crucial com relação à doutrina da pessoa do Senhor Jesus, que tinha grande autoridade, pois ele falava como Deus. Toda correção de foco  encontrada no Sermão do Monte precisa ser aceita como de autoria do próprio Filho de Deus, o qual estava presente quando as leis foram entregues a Moisés, participando, portanto, da promulgação das mesmas. O evangelho de Cristo não consiste em qualquer lei, e sim em algo que nos transmite vida, estabelecendo determinados princípios e pedindo que os apliquemos. O Cristianismo não consiste em um conjunto de regras fixas; ao contrário, ele aplica os princípios centrais da fé cristã a cada situação.
Martim Lloyd-Jones aponta como princípios básicos para a interpretação da lei os seguintes: a necessidade de nos atermos ao seu espírito, e não meramente à letra; o fato de que o desejo de se praticar o mal vem antes da ação; a oportunidade de encararmos a lei de modo positivo e não negativo, praticando e amando o que é direito, em vez de procurarmos a santificação de uma forma puramente mecânica, seguindo um conjunto de regras; o reconhecimento da lei não como um molde ao qual nos ajustarmos, mas uma oportunidade de conhecermos melhor a Deus e um desafio de buscarmos a estatura de varão perfeito à luz da pessoa viva de Cristo.
“Não pensem, nem por um instante, que eu vim para anular as Escrituras, a Lei de Deus e os Profetas. Não estou aqui para anular, mas para cumprir” (Bíblia Mensagem).

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

14. SAL E LUZ

“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”
(Mateus 5.16).

“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9).
Já vimos o que somos; vamos agora considerar aquilo que devemos ser. O crente não é uma pessoa que vive isolada: estando do mundo, não pertence ao mundo, mas mantém certa relação com ele. Embora deva ter mente e perspectiva diferentes daquelas dos homens deste mundo, o cristão não deve alienar-se da vida ativa na sociedade em que vive. A função do crente no mundo é uma das mais urgentes questões com que se defrontam a igreja e o crente individual nesta nossa época. É um ensino importante em face da situação mundial vigente, pois, à medida em que o problema do pecado no mundo for se agravando, a possibilidade de perseguição aumenta. Por que devemos ser sal e luz? Porque isto é o que se espera de nós. O sal deve salgar e a luz deve iluminar. A cidade edificada sobre um monte não se pode esconder; se somos cristãos verdadeiros, não podemos nos ocultar. Se escondermos nossa natureza regenerada, nós nos tornaremos completamente inúteis. Sal e luz têm uma qualidade única e assim, uma vez que a percam, tornam-se perfeitamente inúteis. Não existe nenhuma outra coisa criada por Deus que seja tão completamente inútil quanto um crente meramente nominal. Ele não funciona nem como um indivíduo do mundo, nem como crente, sendo rejeitado pelo mundo e inútil para a Igreja. Se descobrirmos em nós mesmos tendência de esconder a nossa luz debaixo de um alqueire, então teremos de começar a examinar-nos, a fim de certificar-nos se somos realmente luz.
Como podemos saber se realmente estamos funcionando como sal e luz neste mundo? Em uma lâmpada antiga,  duas coisas eram necessárias: o azeite e o pavio. O azeite é algo imprescindível, representa a vida divina que Deus incute em nós. Temos certeza de que dispomos do azeite da vida, conforme somente o Santo Espírito de Deus pode dar? Precisamos passar horas em oração, meditação e estudo da Palavra, para mantermos nosso estoque de azeite completo. O segundo elemento da comparação, o pavio, precisava ser constantemente aparado para produzir boa luz. Isso nos leva à necessidade de relembrarmos constantemente as bem-aventuranças, ou seja, aquilo que somos pela graça de Deus, ou aquilo que ele espera que sejamos. Longe de querermos ser parecidos com este mundo, devemos procurar ser diferentes dele o máximo que pudermos. Em vez de nos tornarmos grosseiros, rudes, feios e vociferantes como o mundo, devemos nos tornar humildes, pacíficos e pacificadores em toda nossa conversa e conduta. O crente é essencialmente diferente dos homens do mundo.
Deve também haver em nós total ausência de ostentação e exibicionismo. Nossas obras devem ser boas, mas a glória é de Deus. O "eu" deve estar esquecido no meio da humildade de espírito, mansidão e de todas as outras virtudes. Ele precisa desaparecer, porque a causa é a glória do Senhor.
Ser sal e luz é uma atitude individual. A tarefa primordial da igreja é pregar o Evangelho e, quando a igreja começa a intervir nas lides políticas, sociais e econômicas, ela já se comprometeu quanto à ordem evangelizadora que Deus lhe deu. Que se permita ao crente individual desempenhar seu papel de cidadão, mas a igreja não deve se intrometer nem se preocupar com tais questões. O pecado é tão abominável em um capitalista quanto em um comunista, em um rico quanto em um pobre, e cabe à igreja atingir a cada indivíduo através de cada cristão.
Ser cristão no mundo não é fácil, pois ele não é do mundo, é forasteiro, peregrino. Seu caráter contradiz os valores mundanos, sendo por isso rejeitado e perseguido pelos do mundo. Ele está neste mundo com um propósito: dele participar sem se deixar influenciar: estar no mundo e não ser dele. O Reino de Cristo não é clube fechado, pois não pode haver salvação de pessoas sem o contato com elas, sem influenciá-las. Imitamos Jesus, mas como ele não devemos ser influenciados pelo pecado, mas influenciar os pecadores.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

13. LUZ DO MUNDO

“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa” (Mateus 5. 14-15).

“Vocês estão aqui para ser luz, para trazer as cores de Deus ao mundo” 
(Bíblia “A Mensagem”).
“Vós sois a luz do mundo”:  a frase foi dita por Jesus a homens simples, inteiramente destituídos de importância, segundo consideração do mundo. Isto deveria levar-nos a perceber quão notável e glorioso é sermos cristãos. O sentido da frase é "vós (e vós somente) sois a luz do mundo".
O mundo está em trevas, apesar do Iluminismo, quando os homens começaram a interessar-se novamente pelo conhecimento organizado, marcando o início da Modernidade. Esse movimento foi o começo do ataque contra a autoridade das Sagradas Escrituras, quando a filosofia e o pensamento mundano colocaram a razão humana acima da vontade divina. Pela visão humana, o conhecimento é aquilo que nos transmite luz em muitos e diversos assuntos. O avanço desse conhecimento ao longo dos últimos séculos tem sido realmente notável. O grande problema é que os homens sempre se concentraram exclusivamente sobre um dos aspectos do conhecimento, sobre coisas, leis mecânicas, princípios científicos, um conhecimento quase exclusivamente biológico ou técnico. Esse conhecimento não nos tem ajudado a resolver os grandes, básicos e vitais problemas da vida, os problemas do ser e da existência; no campo do relacionamento humano, continuam as trevas quanto a como viver e conviver para sobrevivermos neste mundo. Ampliando a visão, existem graves problemas industriais e econômicos nas sociedades, bem como total desentendimento entre as nações. No terreno da ciência pura ou da filosofia, os escritores sentem-se inteiramente desconcertados quando tentam compreender e explicar as circunstâncias vigentes em nossos dias, atribuindo isso à falta de mais conhecimento. Qual é a origem primária das nossas dificuldades? O que se pode fazer quanto a essas questões mundiais? Quanto a isso, os livros nada tem a dizer. Filósofos e pensadores são habilidosos em fazerem análises, mas não conseguem propor soluções. Com exceção do cristão, ninguém pode oferecer qualquer conselho útil que reflita conhecimento e instruções acerca de questões de ordem moral. Ao fazer a declaração, Jesus assegurou que o crente comum, embora talvez nunca tenha lido qualquer ensaio filosófico, compreende e conhece melhor a vida do que o maior pensador que não é crente. O mesmo Jesus que afirmou "eu sou a luz do mundo" também está afirmando que nós somos luzes. Somente ele pode conceder-nos essa luz vital. Por termos crido no evangelho e recebido luz, conhecimento e instrução, essa luz tornou-se parte integrante do nosso ser. As Escrituras, ao abordarem a natureza do crente, sempre enfatizam o que ele é para após refletirem sobre o que ele faz. Nossas vidas, refletindo o que somos, deveriam vir sempre antes; porém, se os nossos lábios falarem mais alto do que as nossas vidas, isso terá pouquíssimo valor. O sal da terra foi mencionado antes da luz do mundo, por isso devemos ser algo antes de começarmos a agir como algo.
Como podemos demonstrar que efetivamente somos a luz do mundo? A primeira coisa que a luz faz é dissipar as trevas, bem como tudo quanto a elas pertence. Mateus afirmou que "o povo que andava em trevas viu uma grande luz". A luz não somente revela as coisas ocultas das trevas, mas também explica sua causa. Todas as dificuldades do mundo, desde o nível individual até o internacional, provêm do estado do homem alienado de Deus. Criado por Deus, enquanto não se conformar com a normas divinas, sua tendência é errar o alvo, é pecar. Somente os cristãos dispõem de uma explicação apropriada para os problemas do mundo. João afirmou que "a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más". Somente o evangelho proclama esta verdade. Educação, conhecimento, resoluções políticas, conferências internacionais, nada tem resolvido. É preciso nascer de novo, o homem necessita de uma nova natureza que ame a luz e abomine as trevas e não o contrário.
As pessoas do mundo olham para o cristão: será que estão vendo em nós alguma coisa diferente? Nossas vidas têm servido de advertência com relação à vida deles? Será que eles estão observando em nós atitudes tão diferentes daquelas que o mundo costuma ter? Somente os cristãos verdadeiros são a luz do mundo. Portanto, vivamos e atuemos no mundo como Filhos da Luz.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

12. SAL DA TERRA

“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mateus 5.13).


"Se não faz diferença, que diferença faz?" (Oscar Pauser)
Qual deve ser a relação entre o povo crente em Cristo, por um lado, e a sociedade e o mundo, por outro? "Vós sois o sal da terra". Essa expressão descreve tanto o cristão quando o mundo: o cristão como sal, num mundo visto como a humanidade que ainda não foi regenerada em Cristo. A época por nós vivida é muito semelhante ao retrato que a Bíblia faz do mundo na época de Cristo, atualizada para um século trágico, principalmente porque sua própria maneira de viver tem desmentido e derrubado por terra a sua filosofia. No século XIX, esperava-se muito do século XX, a “era áurea”, alicerçada sobre a Teoria da Evolução, não somente no sentido biológico, mas também no sentido filosófico. O homem teria evoluído a partir do animal, atingindo um certo estágio de desenvolvimento, e a ideia predominante era que a vida inteira estava inexoravelmente progredindo, desenvolvendo-se, aprimorando-se: as guerras seriam abolidas, as enfermidades erradicadas e o sofrimento desapareceria. O homem finalmente aprendera a viver e as massas populacionais, através de uma correta educação, não mais se entregariam ao alcoolismo, à imoralidade ou aos vícios. Sentadas à mesa de conferências, as nações se entenderiam. Entre estas ideias esboçadas por Martyn Lloyd Jones em meados do século XX e os nossos dias, o mundo entrou na era Pós-Moderna, um período de frustração e de destruição da utopia.
O mundo é decaído, pecaminoso e mau, inclina-se para a maldade e para o conflito armado. Assemelha-se à carne que tende a putrefazer-se e ficar poluída de germens. Como resultado do pecado e da queda do homem, a vida no mundo em geral tende a piorar até ficar pútrida. Existem micróbios, agentes infecciosos e bacilos da maldade no próprio corpo da humanidade e, se não forem neutralizados, causarão enfermidades graves. Isto está acontecendo através da história, desde a queda do homem no Jardim do Éden, o dilúvio, a Torre de Babel, Sodoma e Gomorra, prolongando-se até os nossos dias. O mundo é mau, pecaminoso e maligno; qualquer otimismo em relação ao mundo é uma atitude totalmente antibíblica contestada pela própria história.
“Vós (e somente vós) sois o sal da terra”: este é o real sentido do texto. O sal é essencialmente diferente do material ao qual é aplicado e, em certo sentido, exerce todas as suas virtudes exatamente por causa dessa diferença. Mesmo em pequena quantidade em relação à matéria a ser salgada, o sal faz uma grande diferença. O cristão constitui uma espécie separada, destacada e inigualável de indivíduos. Deve existir nele algo que o distinga de todas as outras pessoas e que o torne reconhecido, como o sal. A principal função do sal é a de preservar, agindo como um antisséptico. Outra função do sal é prover sabor, impedindo que o alimento fique insosso. Portanto, a vida neste mundo se tornará insípida sem o cristianismo bíblico. Por sentirem a vida insípida, as pessoas buscam esta ou aquela forma de diversão, chegando às mais diversas drogas na procura de algum sabor para a vida.
O indivíduo verdadeiramente santificado exerce influência pessoal, a qual permeia e penetra em qualquer grupo de pessoas no qual ele esteja. Nos nossos dias, o nosso sal cristão tem perdido seu sabor e não estamos mais influenciando nossos semelhantes incrédulos por sermos "santos", conforme deveríamos estar fazendo. Atuação como sal da terra não é ação coletiva da igreja, mas vivência individual. Cada um de nós, em seu próprio círculo de atividades, precisa atuar nesse processo de decadência do mundo, para que a massa inteira possa ser preservada. Lembrando a frase citada no início, sempre repetida por um grande cristão com o qual tivemos o privilégio de conviver, "se não faz diferença, que diferença faz?" Se o fato de sermos cristãos não faz diferença no meio onde vivemos e atuamos e o nosso sal já perdeu o sabor, que diferença faz sermos ou não crentes no Senhor Jesus? Sejamos o sal da terra, permitindo a ação do Espírito Santo de Deus em nós.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

11. REGOZIJO NA TRIBULAÇÃO

“Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mateus 5:11-12).

“A chave da alegria é a fé na futura graça de Deus — ‘é grande o vosso galardão nos céus’” (John Piper).
Os versículos acima ampliam e aplicam a bem-aventurança da perseguição já abordada às condições pessoais dos discípulos, aos quais o Senhor Jesus se dirigia naquela ocasião. Essa amplificação acrescenta algo ao seu significado e ressalta determinadas verdades que dizem respeito ao cristão. O crente em Cristo é reconhecido através das suas reações a coisas que acontecem nesta vida e neste mundo, principalmente quando observado em seu contato e comportamento em relação às outras pessoas.
Há três princípios ligados a esses versos. O primeiro afirma que o cristão é diferente de todos quantos não o são; conforme já foi visto, existe algo diferente no caráter do crente por ser ele parecido com o Senhor Jesus, fato que inevitavelmente atrai perseguição contra si. O segundo princípio mostra que a vida do cristão é controlada e dominada por Jesus Cristo; ele é perseguido por estar vivendo para a causa de Cristo e não para si. A terceira característica denota que a sua vida deveria ser controlada por pensamentos essenciais e sobre o mundo vindouro; o episódio dos “Heróis da Fé” de Hebreus termina afirmando que “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura cidade". Enquanto o ser humano incrédulo busca prazeres e evita pensar sobre o mundo vindouro, o cristão medita muito sobre essas realidades, pois elas controlam a sua perspectiva de existência. A referida perseguição não deve ser motivada por aquilo que somos como homens naturais, mas por aquilo que somos como novos homens em Cristo Jesus.
Como deve o cristão enfrentar a perseguição nas suas mais variadas formas? Ele não deve retaliar, agindo igual ao homem natural, o qual sempre devolve na mesma moeda. Ele não deve ficar ressentido, controlando suas ações e reações. Não deve nem ficar deprimido por causa da perseguição. Jesus coloca a questão em termos positivos e explícitos ao afirmar "regozijai-vos e exultai". Para o homem natural, isto é simplesmente impossível.
Como é possível ao cristão assim se regozijar e se alegrar submetido à aflição? Jamais devemos nos regozijar no fato da perseguição propriamente dita. Assemelhar-se aos profetas, que foram servos seletos de Deus e que agora se encontram em sua companhia, é motivo de júbilo. Tiago afirma que a perseguição é uma prova da nossa chamada e a certeza de que somos filhos de Deus.
Quem é o cristão, para onde está indo e o espera quando ali chegar são três pontos fundamentais para nortear sua trajetória nesta vida. O fato de que teremos um galardão no céu confirma que estamos no destino certo. É válido que um crente em Cristo viva na expectativa de galardões? Segundo a Bíblia, galardões são obtidos mediante a graça divina, mas isso não significa que mereçamos ou sejamos dignos da salvação. Assim como os pais humanos galardoam seus filhos, nosso pai celestial dá recompensas gratuitas ao seu povo. A Bíblia não revela muita coisa sobre o galardão e Deus deve ter uma ótima razão para isso. Levando-se em conta a linguagem humana, que é falha, limitada e imperfeita, a Bíblia não fala muita coisa do céu, porque poderíamos entender erradamente a mensagem. 
Quanto nos apegamos a esse mundo infeliz e desafortunado, deixamos de pensar sobre as realidades lá de cima! “Regozijai-vos e exultai!” Os pensamentos a respeito do céu deveriam encher-nos de regozijo e exultação. Se estamos em Cristo, essas maravilhas estarão à nossa espera.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

10. PERSEGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇA


“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5.8).

“Que admirável, espantosa e inesperada declaração!” (Martim Lloyd-Jones)
O crente em Cristo é perseguido por causa daquilo que ele é, pelo tipo de comportamento que apresenta, o qual resulta daquelas bem-aventuranças anteriormente mencionadas. As outras virtudes têm sido uma descrição direta do caráter cristão, enquanto esta é indireta; é como se Jesus tivesse dito: Isso é o que acontecerá com você somente porque você é cristão. Quando o cristão mostra ser um pacificador, esse é o resultado que ele colhe. Jesus começou e terminou a sua descrição do caráter cristão com a promessa "porque deles é o Reino dos Céus", com o intuito de demonstrar que o fator mais importante é o indivíduo ser membro do Reino.
Bem-aventurados os perseguidos, uma bem-aventurança que exige de nós cautela, por ser passível de má interpretação e compreensão. Muitos crentes estão sendo ativa e amargamente perseguidos neste exato momento em muitos países; é possível imaginar que esta será, nos nossos dias, a mais importante bem-aventurança para a nossa vida.
Por que vem a perseguição? Ela não é motivada por atitudes dignas de objeção, por sermos pessoas difíceis, por nos faltar sabedoria, ou por insensatez na maneira de testemunhar. Também não se refere a fanatismos ou excesso de zelo. As pessoas não são bem-aventuradas por defenderem qualquer outra causa, ou mesmo por motivos político-religiosos. Finalmente, o texto não se refere a bem-aventurança por perseguição a pessoas boas, nobres ou abnegadas.
Ser perseguido por causa da justiça é procurar ser justo, praticando justiça semelhantemente a Jesus Cristo. Você está sofrendo perseguições? Este é o ensino da Bíblia.  Escrevendo a Timóteo, Paulo, por exemplo, afirma que todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Por quem são os justos perseguidos? Os primitivos cristãos começaram a ser perseguidos pelos próprios judeus; ao longo da história, vemos o catolicismo perseguindo todos aqueles que ousavam contrariar seus dogmas; os puritanos foram perseguidos pela Igreja da Inglaterra e os próprios batistas surgiram por causa dessa perseguição. As perseguições não são movidas somente pelo mundo incrédulo, mas também pelas próprias pessoas que se dizem evangélicas e religiosas. Na cristandade atual, existem ideias que estão longe de serem ensinadas pelo Novo Testamento, as quais têm levado muitos de seus defensores a perseguir aos que estão tentando seguir com sinceridade e verdade ao Senhor Jesus por seu caminho longo e estreito. 
Jesus não foi perseguido por ser um homem bom, mas porque era muito diferente dos demais. Havia nele alguma coisa que fazia aquela gente sentir-se condenada, pois viam que sua própria retidão, em comparação com a de Cristo, parecia muito mesquinha. Os fariseus e outros simplesmente o odiavam por causa da sua total santidade, justiça e veracidade.
O cristão verdadeiro é um homem que nem todos louvam, assim como nunca louvaram a nosso Senhor. A mentalidade do homem natural é inimizade contra Deus, conforme nos diz Paulo. O novo nascimento é uma necessidade absoluta para que qualquer pessoa possa tornar-se um crente autêntico. Ninguém pode ser semelhante a Cristo sem ter sido inteiramente transformado. Para que nos tornemos iguais a Cristo, temos que nos tornar luzes; a luz sempre desmascara as trevas, e é por isso que as trevas odeiam a luz. Não é preciso fazermos coisas provocativas para que outros nos persigam; basta sermos como Cristo para que as perseguições se tornem inevitáveis.
Que Deus, mediante o seu Santo Espírito, nos dê profunda sabedoria, capacidade de discriminação e entendimento acerca dessas realidades, a fim de que, se porventura formos convocados a padecer pela perseguição, tenhamos a mais plena certeza de que estamos sofrendo por causa da justiça, e assim possamos receber pleno consolo e fortalecimento vindos desta gloriosa bem-aventurança.

domingo, 18 de agosto de 2019

9. PACIFICAÇÃO

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5: 9).

“Nada existe, em toda a dimensão das Escrituras, que nos teste, perscrute e humilhe de tal maneira como estas bem-aventuranças” (Martin Lloyd-Jones).
O incrédulo jamais virá a entender a vida cristã autêntica. Ao encarnar, Cristo estava estabelecendo um Reino inteiramente novo e diferente, e somente o indivíduo espiritualmente renovado pode viver essa nova vida requerida aos súditos do Reino. Os judeus, incluindo João Batista, esperavam um reino material, tanto é que, após a multiplicação dos pães, reconhecendo nele o Messias, queriam proclamá-lo Rei. No entanto, o Messias havia vindo para promover a paz, não para levá-los à guerra. 
Por que os pacificadores são bem-aventurados? Por serem absolutamente diferentes de todas as outras pessoas. Por que há tantas guerras no mundo, em constante tensão internacional? Somente por causa do pecado. Todas as nossas dificuldades provêm das nossas concupiscências, egoísmo e cobiça. Enquanto o coração do homem não for transformado, jamais o problema seja solucionado. O drama, porém, é que esse mal não está somente no mundo, mas também na igreja. Ao depositar fé nas organizações humanas e crer que o homem será capaz de solucionar seus problemas, o cristão estará se desviando das Escrituras para soluções e ideologias humanas, que apenas promovem um ufanismo vazio. Se enxergarmos este mundo moderno através de um olhar neotestamentário, começaremos a entender melhor as coisas.
A grande necessidade do mundo moderno é de um bom número de pacificadores. O que é um pacificador? Não deve ser apenas um apaziguador conforme o mundo entende, mas uma pessoa que deseja a paz e está disposta a fazer tudo para que ela seja instaurada e mantida; que se preocupa com o fato de que todos os homens devem estar em paz com Deus. Buscando passivamente a paz, o pacificador procura ativamente não provocar conflitos, tudo fazendo para estabelecer a concórdia. Isto exige uma nova natureza no ser humano, um novo coração limpo do pecado. Ele terá de ser liberto do próprio “eu”, pois, ao pensar defensivamente em si próprio, o cristão não poderá agir devidamente com um pacificador. Exige-se, portanto, do pacificador, uma neutralidade ao reaproximar os dois lados que estão se desentendendo. Cada indivíduo envolvido em um conflito olha para questão de um ponto de vista egocêntrico, mas o pacificador não pode agir assim.
No cristão convivem o velho e o novo homem. O velho homem deve ser anulado, para que o novo homem possa desenvolver uma nova visão de seus semelhantes. Sem recriminar a cada um pessoalmente, o cristão entende a atitude errada das pessoas como o domínio do deus deste mundo sobre elas, competindo a ele ter piedade e misericórdia delas. O pacificador deve desenvolver também uma visão inteiramente nova do próprio mundo como um todo, pois seu grande objetivo é a glória de Deus entre os homens. Ele se deixa até humilhar para que a glória de Deus seja promovida.
O pacificador não deve ficar ocupando-se apenas da teoria, mas partir para a prática. Em primeiro lugar, ele precisa aprender o que falar e o que calar, controlando sua língua. Como afirma Tiago, ele deve ser pronto para ouvir e tardio para falar e para se irar. Não repita informações com ideias grosseiras e indignas que você sabe que podem prejudicar a outrem. O que aconteceria se todas as pessoas dissessem tudo o que pensam? Portanto, uma das primeiras coisas a fazer quando se quer estabelecer a paz é saber quando se calar. Sempre devemos encarar toda e qualquer situação à luz do Evangelho. 
O próximo passo é tomar a iniciativa de procurar meios para aliviar a aflição do seu inimigo, tornando-se positivo e ativo na busca pela paz. Se não pensarmos em nós mesmos sob hipótese nenhuma, as pessoas ao nosso redor perceberão que poderão se aproximar, sendo recebidas com empatia e compreensão. Tudo isso significa que o pacificador é filho de Deus e que se assemelha a seu Pai Celeste. Adoramos a um Deus de paz que, para restabelecer a paz com o ser humano, enviou seu Filho ao mundo. Se Deus tivesse insistido em defender seus direitos e sua dignidade, toda a humanidade estaria consignada à perdição eterna. Jesus foi chamado de “Príncipe da Paz” pois, embora tivesse deixado sua posição celestial, a si mesmo se humilhou e veio deliberadamente a este mundo sofrer por cada um de nós.
Sejamos aquele tipo empático de pessoa de quem, mesmo aqueles que porventura carregarem espírito de amargor contra nós, possam se aproximar percebendo o seu erro e então se sintam levados a falar sobre os problemas que os afligem. Promovamos a paz como autênticos filhos do “Deus da paz".

sábado, 10 de agosto de 2019

8. LIMPEZA DE CORAÇÃO

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5.8).


Faze meu coração tornar-se singelo; tira dele as duplicidades, as pregas e as dobras que lhe ofuscam a visão, e deixa-o puro, sincero, inteiramente isento de qualquer hipocrisia” (Martim Lloyd-Jones).
O lugar central no ensino de Jesus é ocupado pelo coração, órgão tido como o centro da personalidade humana, e não apenas de afetos e emoções. Nas Escrituras, a palavra “coração” envolve a emoção, o intelecto e a vontade. É o centro do ser humano e considera o homem em sua totalidade. A fé cristã, em última análise, não é somente uma questão de doutrinas, de intelecto, de entendimento, sendo antes uma condição do coração. Além disso, o coração é o manancial de todas as nossas dificuldades, pois, conforme diz a Bíblia, dele procedem maus desígnios, homicídios, prostituição, furtos, falso testemunho e blasfêmias. Nestes últimos tempos, um grande engano tem sido propalado: a ideia de que todas as dificuldades dos homens se devem ao seu meio ambiente, e que, para mudar o ser humano, é preciso modificar o lugar onde vive. O primeiro erro foi cometido em um meio ambiente perfeito, o Éden, e por isso recolocar o homem em um ambiente perfeito não soluciona os seus problemas. Todas as nossas dificuldades originam-se no coração humano, o qual, segundo Jeremias, é enganoso, além de ser desesperadamente corrupto e maligno. Desenvolver os poderes intelectuais do homem não soluciona seus problemas, a educação sozinha não pode fazer nada.
Como podemos ser limpos de coração? Só poderemos ver a Deus se estivermos limpos de coração. Nada poderia estar mais distanciado de Deus do que o homem natural, mas o evangelho é algo sobrenatural. Por isso a expressão "limpos de coração" se liga à pureza, não meramente na superfície, mas no próprio âmago do ser humano, na fonte de onde emanam todas as suas atividades. A palavra “limpo” tem o sentido de singelo, destituído de hipocrisia, ou ainda purificado e destituído de contaminação. Segundo o Apocalipse, coisa alguma que seja impura, ou imunda, ou que tenha qualquer sinal de contaminação jamais poderá entrar na Jerusalém celestial. Ser limpo de coração significa ser semelhante ao próprio Jesus Cristo. É ter um amor não dividido, considerando Deus nosso bem maior, um amor que só se preocupa em valorizar a Deus. Vivemos para glória do Criador e ter o coração limpo deve ser o supremo alvo de nossa existência. O único objetivo do Cristianismo é proporcionar-nos a visão de Deus e levar-nos a vê-lo. Somente aqueles que se parecem com Cristo poderão ver a Deus e estar em sua presença. Como acontece com as demais bem-aventuranças, essa promessa pode ser parcialmente cumprida ainda nesta existência terrena. Podemos ver a Deus na natureza, na história, ou através da nossa experiência pessoal, vendo, como afirma a epístola aos Hebreus sobre Moisés, como aquele que “vê o que é invisível”. É verdade que agora vemos como em um espelho, de modo obscuro, mas chegará o tempo em que o veremos face a face. 
Como podemos tornar os nossos corações puros, limpos? Certamente não é fugindo do mundo para um mosteiro. Por nossos próprios méritos, tão pouco, nada conseguiremos. Somente Deus pode fazer essa limpeza no coração do homem, conforme ele prometeu. Com a presença do seu Santo Espírito em nós, isto se torna possível. Estamos nas mãos do Senhor e o nosso aperfeiçoamento está em andamento, pois Deus está tratando conosco e purificando nosso coração. Este processo deverá prosseguir até a glorificação final. Cumpre-nos colaborar fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance, fazendo morrer nossa natureza terrena. 
Você haverá de ver a Deus face a face! Deve ser seu supremo objetivo, seu desejo e sua grande ambição. Você e eu não dispomos de muito tempo para nos prepararmos devidamente. Mas você e eu, criatura sujeitas ao desgaste do tempo, haveremos de ver a Deus e estarmos na sua eterna e gloriosa presença para todo o sempre. 
Oremos com Davi, quando diz no Salmo 51, verso 10: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito inabalável." Amém.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

7. MISERICÓRDIA

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7).

"Que tremendo teste para cada um de nós, quanto à toda a nossa posição e profissão de fé Cristã!" (Martyn Lloyd- Jones)
O dicionário define "misericórdia", do lado humano, como “dó, piedade, benevolência, perdão, bondade, compaixão suscitada pela miséria alheia”, ou ainda “sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofreu uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça”; do lado espiritual, ela é vista como “indulgência, graça, perdão, clemência”. Em sua origem latina, a palavra tem ligação com "miséria" (com o sentido de aflição) acrescentada à palavra latina “cor, cordis”, que deu origem a “coração” em português. O termo tem ampla aplicação em uma variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e legais.
Nas bem-aventuranças, Jesus Cristo estava retratando e delineando o cristão e seu caráter. Se eu sentir aversão à sucessão de bem-aventuranças, isto significa que a minha posição é inteiramente contrária à do homem descrito nas páginas do Novo Testamento. As bem-aventuranças mostram verdades centrais e primárias quanto à posição do cristão: inicialmente, a ênfase é sobre o ser e não sobre o fazer – somos crentes em Cristo e o que fazemos é resultante desse fato; num segundo momento, constatamos que não controlamos o nosso cristianismo, mas devemos ser por ele controlados: é Cristo quem nos controla e não nós mesmos.
Paulo começa suas epístolas desejando "graça e paz da parte de Deus...", mas nas epístolas pastorais, ele inclui a misericórdia. A graça se refere à questão do pecado como um todo, mas a misericórdia focaliza as miseráveis consequências do pecado. A misericórdia denota um senso de compaixão e o desejo de aliviar os sofrimentos: é dó em parceria com ação. Nossa atitude para com as pessoas deve ser de profunda tristeza por todos aqueles impotentes escravos do pecado. O homem que se apercebe verdadeiramente de sua posição diante de Deus, de seu relacionamento com Deus, é um homem que necessariamente sente compaixão por seus semelhantes.
O homem misericordioso não só suporta as queixas, mas confere benefícios. Ele já ultrapassou a simples justiça e já chegou à busca daquilo que é bom, amável e generoso; por isso, ele procura realizar coisas amáveis para com seus semelhantes. O cristão não deve ser simplesmente misericordioso no sentido humano, demonstrando uma benevolência que deveria ser comum a toda humanidade, mas também deve denotar misericórdia num sentido superior e maior, uma misericórdia que unicamente o Espírito de Deus pode ensinar à alma do homem.
Quem são estas pessoas bem-aventuradas que alcançam misericórdia? Eram pessoas inicialmente humildes em espírito, que já haviam alcançado misericórdia suficiente para leva-las ao choro, atingindo também a graça da mansidão, tendo aprendido a ter fome e sede de justiça. A virtude peculiar atribuída aos bem-aventurados mostrava-os como pessoas possuidoras de benevolência para com os filhos da necessidade e as filhas da penúria. Essa misericórdia se estende ainda mais ao perdão pleno das ofensas pessoais contra elas. Sem esperar qualquer atitude positiva por parte das pessoas do mundo, um cristão genuíno sente misericórdia pelas almas de todos os homens e anela ansiosamente para que eles sejam levados ao conhecimento do Salvador, empreendendo ações para alcançá-los.

Examine-se, pois, o homem a si mesmo. Você sente compaixão por todos aqueles que são vítimas, que estão sendo iludidos pelo mundo, pela carne e pelo diabo? Você será realmente misericordioso e feliz se exercer a misericórdia para com todos os outros.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

6. FOME E SEDE DE JUSTIÇA

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5.6).

“Abençoados são vocês, que sentem fome de Deus. Ele é comida e bebida – é alimento incomparável” (Bíblia Mensagem).
Humildade em espírito, choro e mansidão são os degraus iniciais antes de se chegar à fome e sede de justiça. Nas três bem-aventuranças anteriores, voltamos a atenção para a solução dos problemas a fim de sermos libertados do “eu”. Na bem-aventurança atual, embora infelizes quanto ao nosso estado espiritual, ansiamos por uma nova ordem e qualidade de vida até agora não experimentada na convivência com Deus e com os semelhantes.
Qual é a causa da dor, da infelicidade e do senso de miséria dos homens? Pascal e Dostoieviski referiram-se em suas obras ao “vazio do tamanho de Deus existente no ser humano”. Para preencher esse vazio, o mundo (e infelizmente também alguns cristãos) buscam alguma bênção ou a decantada felicidade, colocando bênção e felicidade antes da Justiça. Felicidade e bênção são coisas que Deus acrescenta àqueles que buscam a sua justiça.
A palavra “justiça” neste contexto representa a busca por aquilo que é eterno e celestial, deixando de lado as coisas comuns e perecíveis. Em primeiro lugar, o homem deve se libertar da busca pelas coisas terrenas antes que possa sentir o fervor pelas coisas celestiais. A busca pela justiça não se trata, porém, de uma espécie de retidão geral ou de moralidade entre as nações. O conceito do Evangelho sobre justiça é muito mais profundo do que isso.
Assim que o Espírito de Deus lhe dá vida e o faz realmente bem-aventurado, o homem começa a almejar a justiça diante de Deus. Ele sabe que é um pecador e está condenado no tribunal do Altíssimo. Mas ele quer ser justo, deseja ser livre do pecado e estar em paz com Deus. Ter fome e sede de justiça é desejar se livrar do próprio eu, buscando a santificação ao assemelhar-se a Cristo. Ter fome e sede de justiça significa ter consciência das próprias necessidades.
Ao tomar contato com o evangelho, as pessoas tendem a levantar duas objeções quanto à salvação pela graça; ou elas dizem “isto é facilitar demais as coisas”, ou afirmam, após tomarem conhecimento da necessidade de santificação, “isto torna a salvação uma empreitada impossível para nós”. Para as pessoas, ser justo significa apenas ser decente e moral até um determinado nível. Para o cristão, ser justo significa ser parecido com o Senhor Jesus Cristo. A satisfação imediata após a fome e sede de justiça vem através do perdão dos nossos pecados, pela presença do Espírito em nós ajudando a nossa santificação e pela perfeição absoluta na glorificação. Estamos vivendo nesta direção?
Temos apetite espiritual ao sentirmos fome e sede de justiça quando percebemos o quanto é falsa a nossa própria justiça, temos consciência da necessidade de um Salvador, evitamos nos expor ao pecado (mesmo  evitando praticar coisas que diminuam nosso apetite espiritual) embora não sejam totalmente más, buscamos a justiça diariamente ou nos dedicamos à leitura da Bíblia e à oração e meditação. Apesar de tudo isso, porém, vamos estar longe do objetivo e necessitar da graça de Deus, pois o que nos leva a ter fome e sede de justiça é o caráter hediondo do pecado. Os que têm fome e sede de justiça serão fartos com toda a plenitude de Deus.
Como posso ser visto como justo diante de Deus? Jesus Cristo foi tornado por Deus para nós em “justificação, santificação e redenção”. O cristão, depois de regenerado e justificado, ainda anseia pela justiça noutro sentido: quer ser santificado. Se você crê em Cristo, se foi perdoado dos seus pecados, você não está mais sujeito à lei, mas debaixo da graça, Deus não mais contempla o seu pecado, mas olha para a justiça do sangue de Cristo em você. Isto vai prosseguir enquanto você busca a estatura de varão perfeito neste mundo, até que é promessa tenha um cumprimento final e absoluto na eternidade, quando todos os salvos em Cristo estarão na presença de Deus sem culpa, sem defeito, sem mancha, sem ruga. Esta é a gloriosa promessa para todos os que têm fome e sede de justiça, pois finalmente serão fartos.
Se cada homem e mulher neste mundo soubesse o que significa ter fome e sede de justiça, não mais explodiriam conflitos armados e o mundo teria paz..