A identidade cristã nos dias atuais

domingo, 18 de agosto de 2019

9. PACIFICAÇÃO

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5: 9).

“Nada existe, em toda a dimensão das Escrituras, que nos teste, perscrute e humilhe de tal maneira como estas bem-aventuranças” (Martin Lloyd-Jones).
O incrédulo jamais virá a entender a vida cristã autêntica. Ao encarnar, Cristo estava estabelecendo um Reino inteiramente novo e diferente, e somente o indivíduo espiritualmente renovado pode viver essa nova vida requerida aos súditos do Reino. Os judeus, incluindo João Batista, esperavam um reino material, tanto é que, após a multiplicação dos pães, reconhecendo nele o Messias, queriam proclamá-lo Rei. No entanto, o Messias havia vindo para promover a paz, não para levá-los à guerra. 
Por que os pacificadores são bem-aventurados? Por serem absolutamente diferentes de todas as outras pessoas. Por que há tantas guerras no mundo, em constante tensão internacional? Somente por causa do pecado. Todas as nossas dificuldades provêm das nossas concupiscências, egoísmo e cobiça. Enquanto o coração do homem não for transformado, jamais o problema seja solucionado. O drama, porém, é que esse mal não está somente no mundo, mas também na igreja. Ao depositar fé nas organizações humanas e crer que o homem será capaz de solucionar seus problemas, o cristão estará se desviando das Escrituras para soluções e ideologias humanas, que apenas promovem um ufanismo vazio. Se enxergarmos este mundo moderno através de um olhar neotestamentário, começaremos a entender melhor as coisas.
A grande necessidade do mundo moderno é de um bom número de pacificadores. O que é um pacificador? Não deve ser apenas um apaziguador conforme o mundo entende, mas uma pessoa que deseja a paz e está disposta a fazer tudo para que ela seja instaurada e mantida; que se preocupa com o fato de que todos os homens devem estar em paz com Deus. Buscando passivamente a paz, o pacificador procura ativamente não provocar conflitos, tudo fazendo para estabelecer a concórdia. Isto exige uma nova natureza no ser humano, um novo coração limpo do pecado. Ele terá de ser liberto do próprio “eu”, pois, ao pensar defensivamente em si próprio, o cristão não poderá agir devidamente com um pacificador. Exige-se, portanto, do pacificador, uma neutralidade ao reaproximar os dois lados que estão se desentendendo. Cada indivíduo envolvido em um conflito olha para questão de um ponto de vista egocêntrico, mas o pacificador não pode agir assim.
No cristão convivem o velho e o novo homem. O velho homem deve ser anulado, para que o novo homem possa desenvolver uma nova visão de seus semelhantes. Sem recriminar a cada um pessoalmente, o cristão entende a atitude errada das pessoas como o domínio do deus deste mundo sobre elas, competindo a ele ter piedade e misericórdia delas. O pacificador deve desenvolver também uma visão inteiramente nova do próprio mundo como um todo, pois seu grande objetivo é a glória de Deus entre os homens. Ele se deixa até humilhar para que a glória de Deus seja promovida.
O pacificador não deve ficar ocupando-se apenas da teoria, mas partir para a prática. Em primeiro lugar, ele precisa aprender o que falar e o que calar, controlando sua língua. Como afirma Tiago, ele deve ser pronto para ouvir e tardio para falar e para se irar. Não repita informações com ideias grosseiras e indignas que você sabe que podem prejudicar a outrem. O que aconteceria se todas as pessoas dissessem tudo o que pensam? Portanto, uma das primeiras coisas a fazer quando se quer estabelecer a paz é saber quando se calar. Sempre devemos encarar toda e qualquer situação à luz do Evangelho. 
O próximo passo é tomar a iniciativa de procurar meios para aliviar a aflição do seu inimigo, tornando-se positivo e ativo na busca pela paz. Se não pensarmos em nós mesmos sob hipótese nenhuma, as pessoas ao nosso redor perceberão que poderão se aproximar, sendo recebidas com empatia e compreensão. Tudo isso significa que o pacificador é filho de Deus e que se assemelha a seu Pai Celeste. Adoramos a um Deus de paz que, para restabelecer a paz com o ser humano, enviou seu Filho ao mundo. Se Deus tivesse insistido em defender seus direitos e sua dignidade, toda a humanidade estaria consignada à perdição eterna. Jesus foi chamado de “Príncipe da Paz” pois, embora tivesse deixado sua posição celestial, a si mesmo se humilhou e veio deliberadamente a este mundo sofrer por cada um de nós.
Sejamos aquele tipo empático de pessoa de quem, mesmo aqueles que porventura carregarem espírito de amargor contra nós, possam se aproximar percebendo o seu erro e então se sintam levados a falar sobre os problemas que os afligem. Promovamos a paz como autênticos filhos do “Deus da paz".

Nenhum comentário:

Postar um comentário