“Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não
matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. Mas eu
lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento
(Mateus 5. 21-22a).
A
justiça que excede a de escribas e fariseus é o ensinamento que Jesus vai
reforçar até o final do Sermão do Monte. Não é o contraste entre a lei de
Moisés e o ensino de Jesus, mas entre a falsa interpretação da Lei e a
interpretação autêntica que nos foi oferecida pelo Senhor da Lei. Jesus deixou
seis exemplos acerca de sua interpretação da lei de Deus em contraposição à
interpretação dos escribas e fariseus, e o primeiro deles é “não matarás”.
"Não
matarás" é um dos dez mandamentos, mas, ao dizerem "quem matar estará
sujeito a julgamento", os doutores da lei reduziam o sentido do mandamento
apenas a um caso de homicídio literal, num julgamento relacionado apenas ao
juízo baixado por algum tribunal local, esquecendo-se do juízo divino. Todo
aquele que aceitar apenas a letra da lei e se esquecer do seu espírito, do seu
conteúdo e do seu sentido, pode-se persuadir de que é perfeitamente justo aos
olhos da lei. Era o que acontecia com o jovem rico, que foi conversar com
Jesus, e mesmo com Saulo, antes de se tornar Paulo.
Também
nós podemos conceber a lei de Deus conforme a encontramos nas Escrituras, mas,
ao mesmo tempo, defini-la e interpretá-la, transformando-a em algo que possamos
observar com extrema facilidade, porque só a estamos obedecendo negativamente.
Jesus
exprimiu seu ponto de vista em três momentos, e o primeiro deles é
novamente o erro no apego à letra da lei, mas não ao seu espírito. Não
matar não é meramente não cometer um homicídio físico literal, mas inclui a ira
no coração sem motivo contra algum irmão. A tragédia do povo israelita é que
eles perderam de vista o conteúdo espiritual da lei. Tolerarmos a ira em nossos
corações contra alguém é o mesmo que cometermos homicídio. Indo um pouco além,
o desprezo ao próximo em forma de zombaria ou escárnio é uma atitude que acaba
impelindo a pessoa a cometer homicídio, pelo menos no coração. O assassinato
não envolve somente a destruição da vida física de outra pessoa, mas também a
tentativa de destruição de sua alma e espírito, derrotando aquela outra pessoa
de alguma maneira. A nossa Ira deve dirigir-se somente contra o pecado, jamais
contra o pecador, pelo qual devemos sentir tristeza e compaixão. É o aviso de
Paulo aos Efésios: “Irai-vos e não pequeis”.
Em segundo lugar, Cristo afirma que a reação a tudo isso não deve
ser negativa, e sim positiva. Ele afirma que devemos dar passos
positivos para nos reconciliarmos com o nosso irmão. É necessário primeiramente
consertar a situação com o irmão e somente depois voltar e oferecer o
sacrifício a Deus. Não podemos estar bem com Deus enquanto estivermos cometendo
injustiça contra nosso semelhante humano. Obedecer é melhor do que sacrificar,
dizem as Escrituras.
Por
fim, Jesus está dizendo que todas essas ações são urgentes. O cristão precisa
chegar a um acordo com seu adversário sem demora. Segundo o dicionário, ira é
cólera, raiva, indignação, o que leva a um desejo de vingança. O ódio é uma
paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém. Esta é uma definição humana
para o problema, mas as Escrituras afirmam que a ira não é nossa, mas do Senhor,
quando for justa. Ela não pode tomar conta de nosso coração levando-nos a pecar
e precisa ser administrada segundo a vontade de Deus.
Os fariseus e escribas sempre foram culpados de
reduzir o sentido e até mesmo os requisitos da Lei. Eles já haviam despido esse
mandamento do seu grande conteúdo, reduzindo-o meramente a uma questão de
homicídio literal, sem nunca se preocupar com o juízo divino. Enquanto
aceitarmos a letra da lei esquecendo-nos do espírito, podemos tentar nos enganar,
persuadindo-nos de que somos considerados perfeitamente justos aos olhos da
lei. A ira guardada no coração é homicídio. Nossa atitude diante da ira não
deve ser negativa, e sim positiva: a reconciliação e depois a oferta. Finalmente,
há uma urgência em tudo isso, face o nosso relacionamento com Deus
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